Desmatamento no Cerrado sobe 25% no último ano de Bolsonaro

O desmatamento no Cerrado aumentou Área desmatada do Cerrado em Goiás: desmatamento no bioma subiu 25,3% no último ano do mandato de Bolsonaro (Foto: Observatório do Clima)

Taxa é a maior em seis anos; estado do Maranhão concentrou a maior parte a devastação do bioma, seguido por Tocantins e Bahia

Por Observatório do Clima | ODS 15 • Publicada em 16 de dezembro de 2022 - 10:28 • Atualizada em 25 de novembro de 2023 - 19:54

O desmatamento no Cerrado aumentou Área desmatada do Cerrado em Goiás: desmatamento no bioma subiu 25,3% no último ano do mandato de Bolsonaro (Foto: Observatório do Clima)

O desmatamento no Cerrado aumentou 25,3% no último ano do mandato de Jair Bolsonaro, segundo dados do Inpe divulgados nesta quarta-feira (14). Foram derrubados 10.688,73 km² de vegetação nativa, quase um Qatar. É a maior área devastada em seis anos no bioma.

O Estado do Maranhão concentrou a maior parte da devastação, com 2.833,92 km², seguido por Tocantins (2.127,52 km²), Bahia (1.427,86 km²) e Piauí (1.188,78 km²), região de expansão do agronegócio conhecida como Matopiba. Os quatro Estados representam 71% do desmatamento no bioma. O aumento em relação ao ano anterior foi de 104% no Piauí e de 54% na Bahia. Maranhão e Tocantins registraram alta de 24%.

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Dos 13 Estados do bioma, só houve queda do desmate em Rondônia e Mato Grosso. A contribuição dos dois, porém, é muito pequena: 0,12% e 6,94%, respectivamente, do total desmatado.

O governo Bolsonaro registrou uma taxa média anual de desmatamento de 8.361 km² no Cerrado. O número representa um virtual empate com a média dos quatro anos anteriores, período dos governos Dilma e Temer (8.250 km² por ano de 2015 a 2018). No entanto, assim como ocorreu na Amazônia, o governo atual foi o único a registrar três aumentos seguidos da taxa num mesmo mandato desde o início das medições, que no caso da savana brasileira começaram em 2001. A taxa é medida de agosto de um ano a julho do ano seguinte.

No último dia 6, a União Europeia aprovou uma legislação contra o desmatamento importado que deixou a maior parte do Cerrado de fora. Com a nova lei, 74% do Cerrado brasileiro, o bioma que mais produz commodities para o mercado europeu no mundo, permanecerá desprotegido e sujeito a “vazamento” de desmate, que terá regras mais rígidas para a Amazônia.

A nova regulação proíbe a entrada no mercado europeu de commodities produzidas em áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. Por sua abrangência e detalhamento, a regra europeia tende a ser usada por outros importadores de commodities além da UE. Apesar das intensas campanhas de ambientalistas, a vegetação nativa em outras áreas arborizadas ficou fora da nova lei. “Mais uma vez, o Cerrado é colocado como bioma de sacrifício”, disse Guilherme Eidt, assessor de Políticas Públicas do ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza), em nota do OC sobre o marco legal.

“Assim como na Amazônia, o desmatamento no Cerrado não parou de crescer, mais uma cortesia do desmonte ambiental do governo que se encerra. No Cerrado, a situação é preocupante porque o bioma já foi proporcionalmente mais devastado que a Amazônia. A maior parte do desmate ocorre em áreas privadas, e mesmo assim tem indícios de ilegalidade, segundo dados do MapBiomas. Estamos demolindo a caixa d’água do país, e nem as empresas de commodities, nem os mercados consumidores parecem incomodados com isso”, disse o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.

Descontrole na Amazônia

A alta no desmatamento no Cerrado foi a segunda péssima notícia na semana sobre os estragos às florestas sob Bolsonaro. A área sob alertas de desmatamento na Amazônia em novembro atingiu 555 km2, um aumento de 123% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados do sistema Deter-B, do Inpe. É o segundo pior resultado da série histórica iniciada em 2015, perdendo apenas para o segundo ano do regime Bolsonaro, em 2020, quando a área desmatada em novembro chegou a 563 km2.

O acumulado de alertas de agosto a novembro atingiu 4.574 km2, recorde da série histórica. Já é maior inclusive que todo o período de agosto a dezembro de 2020, que registrou 4.476 km2. Como a taxa de desmatamento na Amazônia é medida sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte, o estrago será herdado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, na taxa de 2023. O aumento em relação ao mesmo período do ano passado é de 51%.

O município com maior área desmatada nos últimos quatro meses foi Lábrea, no Amazonas, com 209 km2. Lábrea é uma das cidades que ficam no eixo da BR-319 (Manaus-Porto Velho), obra da ditadura militar que o governo Bolsonaro retomou – a licença prévia para o asfaltamento da rodovia foi concedida em junho, atropelando pareceres de técnicos do próprio Ibama. O aumento do corte raso na região é explicado pela expectativa da obra, que corta o maior bloco de florestas intactas do bioma.

A taxa oficial de desmatamento deste ano, medida por outro sistema do Inpe, o Prodes, foi divulgada no último dia 30: ​mesmo com uma queda de 11% no último ano, o mandato atual teve o maior aumento da devastação desde o início das medições por satélite, na década de 1980. Enquanto o desmatamento subiu 60% em quatro anos, as multas aplicadas pelo Ibama na Amazônia caíram 38% no mesmo período. A BR-319 é um dos fatores que explicam o fato de o Amazonas ter sido o único Estado com desmatamento em alta no ano de 2022.

Observatório do Clima

O Observatório do Clima é uma rede que reúne entidades da sociedade civil para discutir a questão das mudanças climáticas no contexto brasileiro.

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