Coronavírus: UFRJ mapeia atividades profissionais mais ameaçadas

Profissionais de saúde são os mais ameaçados pelo coronavírus: índice de risco de contágio de comissários de voo e barbeiros também é muito alto, indica estudo da UFRJ (Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil)

Pessoal da saúde tem maior risco, mas contágio também ameaça comissários de voo, barbeiros, professores de educação infantil e embalsamadores

Por CoordCom UFRJ | ODS 3ODS 4 • Publicada em 10 de abril de 2020 - 08:00 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 22:25

Profissionais de saúde são os mais ameaçados pelo coronavírus: índice de risco de contágio de comissários de voo e barbeiros também é muito alto, indica estudo da UFRJ (Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil)

Pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da UFRJ mapearam, considerando as atividades profissionais, o índice de risco de contaminação dos trabalhadores brasileiros pelo novo coronavírus. De acordo com o estudo, previsivelmente, os 2,6 milhões de profissionais da área de Saúde apresentam risco de contágio acima de 50% – muitas categorias do setor tem risco acima de 90% Entre eles, os mais vulneráveis são os técnicos em saúde bucal, um total de 12.461 profissionais com 100% de risco de contágio em função do ambiente e da proximidade física com os pacientes.

A primeira categoria a aparecer – no meio dos profissionais de saúde – é a dos comissários de voo com 90% de risco de contágio. Depois, fora das categorias da saúde, aparecem os barbeiros com 83%. Outras profissões com alto índice de contágio são professores de educação infantil (81,67%), embalsamador (81,33%), monitor de transporte escolar (80,33%) – e algumas lideranças políticas: caciques indígenas, dirigentes de partidos, líderes quilombolas e caiçaras, todos com 78,67% de risco.

Vendedores varejistas, operadores de caixas, entre outros profissionais do comércio que, juntos, somam cerca de 5 milhões de trabalhadores no país apresentam, em média, 53% de risco de serem infectados pela covid-19. Caso as aulas não estivessem suspensas, os professores também fariam parte do grupo de mais afetados, com índice de risco acima de 70%.

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Antes da maioria das categorias de professores, estão outros profissionais como cuidadores de idosos (77%), profissionais do sexo (77%), agentes de proteção da aviação civil (76,67%) e vigias portuários (76,67%). Na mesma faixa dos docentes, estão ainda os policiais rodoviários (76%), banhistas de animais domésticos (74,67% – mesmo índice de esteticista e tosador de pets), cabeleireiros e maquiadores (ambos com 73,33%) e intérpretes e tradutores com 73% de risco de contágio. A lista completa pode ser vista AQUI.

Índice de risco acima de 70% nos transportes

O mapeamento contempla 2.539 ocupações e abrange todo o país. É dividido em 13 grupos ocupacionais, de profissionais da agropecuária e pesca aos do setor de transportes. Esse último, segundo o estudo, concentra uma grande quantidade de profissionais com risco de infecção, a exemplo dos 350 mil motoristas de ônibus urbanos e rodoviários, cujo índice de risco é superior a 70%.

Yuri explica que aplicou no estudo a mesma metodologia usada nos Estados Unidos pelo New York Times, baseada na O*NET (base de dados sobre emprego, mantida pelo U.S. Department of Labor, o Ministério do Trabalho americano), adaptando-a aos dados disponibilizados pelo governo brasileiro.

Para avaliar o risco causado pelo coronavírus, os especialistas utilizaram três variáveis da O*NET sobre o contexto de trabalho das ocupações, com foco nas consequências do coronavírus. “Fiz uma adequação à realidade brasileira, usando como base a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), do Ministério do Trabalho, e a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia”, detalha o pesquisador Yuri Lima, do Laboratório do Futuro, coordenado pelo professor Jano Moreira de Souza.

Segundo Yuri, este é um momento importante de reflexão sobre o trabalho por parte do governo, das empresas e de quem tem estudos na área. “Quando a epidemia da covid-19 passar e a atividade econômica voltar ao normal, nem todos os profissionais que atuam no setor varejista ou similar continuarão empregados, apesar dos acordos que o governo está fazendo com os empresários”, estima.

Os empresários tendem a querer ter menos pessoas trabalhando, optando pela automação. O risco de os funcionários serem infectados levou à paralisação de seus negócios e, a partir de agora, vão rever a forma de atender o público

De acordo com o pesquisador, o impacto do novo coronavírus vai mudar a dinâmica do mercado. “A tendência é que haja uma modificação nos modelos de negócios das empresas. Os empresários já devem estar avaliando como gerar receita sem depender de aglomerações em seus estabelecimentos, seja no comércio ou na indústria. Haverá menor quantidade de funcionários presentes fisicamente”, afirma.

“O que está acontecendo no momento poderá antecipar para os próximos anos a substituição dos seres humanos por robôs, pela automação na execução de tarefas, como mostramos no relatório O Futuro do Emprego do Brasil”, analisa Yuri, acrescentando que o governo brasileiro deveria, com urgência, investir mais em capacitação técnica para os profissionais que atuam nesses setores em transformação pela indústria 4.0, como o do varejo.

Intelectuais são menos vulneráveis

Os trabalhadores menos vulneráveis são os que exercem atividades de forma quase solitária, com destaque para os 14.215 operadores de motosserra, cuja maioria trabalha nas áreas rurais e apresenta risco de 18%. Outros menos prováveis de serem infectados, com média de 19%, são roteiristas, escritores, poetas e aqueles que fazem parte do grupo que realiza trabalhos voltados para o setor artístico e intelectual.

O professor Jano Moreira de Souza, da Coppe, também acredita que haverá muitas mudanças. Segundo ele, a busca de novas habilidades por parte desses profissionais pode ser a solução para outros trabalhadores após a pandemia.

“Os empresários tendem a querer ter menos pessoas trabalhando, optando pela automação. O risco de os funcionários serem infectados levou à paralisação de seus negócios e, a partir de agora, vão rever a forma de atender o público. Redescobrir novas aptidões pode ser um caminho alternativo para esses trabalhadores”, avalia Jano.

De acordo com o professor, o governo federal teve tempo para montar uma estratégia voltada para trabalhadores e empresários, tendo em vista que, já no mês de janeiro, o novo vírus se espalhava pelo mundo. No entanto, como não acredita em dados nem na ciência, nada fez e agora o socorro ainda chega de forma equivocada. “Não é eficaz o BNDES socorrer as pequenas e médias empresas com o dinheiro sendo liberado pelos bancos privados, já que esses é que irão avaliar o risco do financiamento, usando o mesmo padrão que já adotam. Qual é a vantagem para o microempresário?”, questiona.

A série #100diasdebalbúrdiafederal terminou, mas o #Colabora vai continuar publicando reportagens para deixar sempre bem claro que pesquisa não é balbúrdia.

 

CoordCom UFRJ

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