Bicitáxis: 15 mil quilômetros de viagens com emissão zero de carbono

Australiano faz sucesso no Rio de Janeiro com frota de triciclos elétricos para turistas atraídos pelo transporte sustentável

Por Natália Boere | ODS 7 • Publicada em 3 de setembro de 2024 - 09:12 • Atualizada em 10 de setembro de 2024 - 10:00

Michael Linke com passageiros de seu bicitáxi no Centro do Rio: passeios para turistas sem emissão de carbono (Foto: Divulgação)

A Dinamarca é aqui. Não sabia não? O Rio de Janeiro tem um meio de transporte de primeiro mundo e de mãos dadas com a sustentabilidade: o bicitáxi, um triciclo de pedal assistido elétrico (em que o motor só liga quando o ciclista pedala), que carrega até quatro passageiros. As baterias podem ser carregadas em tomadas convencionais e têm durabilidade de, em média, 60 quilômetros:  uma recarga custa menos de R$ 1.

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Em quase dois anos, a frota de dez bicitáxis da Trio, empresa do australiano Michael Linke, realizou 15 mil quilômetros de viagens com zero emissão de carbono. A distância é maior do que a do Rio de Janeiro a Melbourne, na Austrália, cidade natal de Linke. “Se todas as milhas dos meus bicitáxis tivessem sido feitas por um carro com motor a combustão, teriam sido emitidas mais de 2 toneladas de CO2”, destaca o australiano, estimando que cerca de 40 mil pessoas foram transportadas neste período. 

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Ele trabalhou em projetos de transporte sustentável em países como Colômbia, Madagascar, Gana e Nepal e teve uma ONG na Namíbia que entregou mais de 60 mil bicicletas para trabalhadores da saúde e crianças. E conta que a preservação ambiental foi o principal motivo para ter criado a Trio em solo carioca, onde aportou há 13 anos, após casar-se com uma brasileira.

“Não vejo muito movimento pensando em alternativas aos transportes poluentes. As vendas de carros elétricos são menos de 1% do mercado automobilístico no Brasil. Em outros países, há incentivos do governo, estações de recarga espalhadas pelas cidades. Não vejo sentido usar uma tonelada de metal e plástico para fazer uma viagem de 5 quilômetros até a padaria. A crise climática exige uma ação urgente. Estou mostrando que, sim, existem possibilidades de mudança”, afirma.

Passageiros de bicitáxi posam em frente ao Museu do Amanhã: frota de triciclos elétricos para turistas atraídos pelo transporte sustentável (Foto: Divulgação)
Passageiros de bicitáxi posam em frente ao Museu do Amanhã: frota de triciclos elétricos para turistas atraídos pelo transporte sustentável (Foto: Divulgação)

Hoje aos 52 anos, Linke tinha apenas seis quando ouviu em algum lugar que, se o gelo na Antártida derretesse, fruto de um aquecimento global que então era uma possibilidade distante, a água cobriria o mundo inteiro. Ficou assustado e perguntou ao pai se era verdade. E ouviu dele que “talvez fosse possível sobreviver nas montanhas”. Mas “talvez, não”. Acabou desenvolvendo hidrofobia. Saía de casa todos os dias e ficava olhando em direção ao sul da Austrália, onde fica a Antártida, esperando essa grande onda chegar. “Com o passar do tempo, foi ficando claro que o aquecimento global estava impactando o mundo de forma tão grande que, inconscientemente, fiz essa ligação com a minha infância. Trabalho muito tentando gerar emprego, fazer mudanças sociais, sempre com a preservação ambiental muito presente em tudo o que faço”.

Os bicitáxis são pilotados, a uma velocidade máxima de 20km/h, por bicitaxistas treinados por ele, em sistema de cooperativa. Cada piloto paga R$ 50 por dia. Os veículos ficam estacionados em frente ao Museu do Amanhã e ao AquaRio, de terça a domingo, das 10h às 18h, e circulam pela Zona Portuária e pelo centro do Rio, por pontos como a roda-gigante YUP Star, a Praça XV, o Teatro Municipal e a Escadaria Selarón. Viagens curtas custam R$20 para até 4 passageiros. Passeios de 3,5 horas saem a R$250 por pessoa e de duas horas, a R$150 por cabeça.

“Minha vontade é diminuir o preço da viagem, deixar mais acessível. Quero que o bicitáxi, além de uma alternativa de locomoção turística, se transforme num transporte complementar, como uma última milha. O desafio é ter um fluxo mais alto de passageiros, para poder cobrar por pessoa e baratear a viagem”, afirma o australiano. 

A Prefeitura abraçou os bicitáxis como um meio de transporte limpo e amigável para turistas. Embora já exista uma lei permitindo que triciclos elétricos funcionem como táxis no Rio de Janeiro, Linke conta que também está trabalhando com o município, para introduzir regulamentações a fim de garantir qualidade para o futuro.

“Agora precisamos de um parceiro corporativo, para levar nosso trabalho para o próximo nível. Com uma frota de dez veículos, já mostramos que somos eficientes em preservar o meio ambiente, altamente visíveis e queridos. As pessoas adoram fazer um passeio de bicitáxi. Gostaríamos de ter a parceria de uma grande marca para nos ajudar a expandir nosso alcance e impacto”, resume Linke.

Natália Boere

Natália Boere é jornalista baiana com mais de 20 anos de experiência. Trabalhou por 12 anos no jornal O GLOBO e colabora com o #COLABORA desde que o mundo é mundo. Alguém aí ouviu falar no “Naty de bicicleta”?! #procuresaber

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