Floresta em pé: bom para a saúde do planeta e para o bolso do produtor

Cultivo de árvores nativas brasileiras gera retorno ao investimento de até 28,4% ao ano e ainda presta serviços ambientais, como captura de carbono e melhora no balanço hídrico

Por Liana Melo | ODS 13 • Publicada em 9 de dezembro de 2021 - 08:31 • Atualizada em 16 de janeiro de 2022 - 09:59

Plantio de árvores nativas brasileiras no projeto desenvolvido pelo Instituto Ipê. (Foto: André Cherri/ Divulgação)

Rico em recursos florestais, o Brasil só não vira líder na geração de riquezas a partir da silvicultura de espécies nativas se não quiser. O cultivo na floresta de árvores nativas brasileiras tem o potencial de gerar um retorno do investimento, que pode variar de 9,5% a 28,4% ao ano. São mais de 500 milhões de hectares de florestas nativas e cerca de oito milhões de hectares de florestas plantadas. Mesmo sendo dono de uma das maiores biodiversidades do mundo, os produtos florestais brasileiros estão longe de atingirem seu potencial de suprir cadeias produtivas nacionais e globais.

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Ao analisar 40 projetos de silvicultura implementados por agricultores familiares e empresas rurais, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, em parceria com o WRI Brasil, constatou que 32 destes modelos com espécies nativas trouxeram retorno do investimento num percentual bem acima da média de outros ativos financeiros. Apenas dois deles tiveram taxas internas de retorno (TIR) abaixo de 9% – percentual considerado competitivo na comparação com outras atividades agropecuárias.

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O estudo “Reflorestamento com espécies nativas: Estudo de casos, viabilidade econômica e benefícios ambientais” foi liderado pela Força-Tarefa Silvicultura de Espécies Nativas da Coalizão. Juntos, esses projetos ocupam uma área de 12 mil hectares e estão distribuídos por oito estados, com predominância nos dois principais biomas florestais do Brasil: a Amazônia e a Mata Atlântica. Os 40 casos estudados foram divididos em três categorias: silvicultura de espécies nativas, sistemas agroflorestais  e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).

“Há um enorme potencial para os produtos florestais brasileiros nas cadeias produtivas nacionais e globais. No caso do mercado de madeira tropical, por exemplo, menos de 10% da produção mundial tem origem no Brasil”, explica Miguel Calmon, líder da Força-Tarefa Silvicultura de Espécies Nativas da Coalizão Brasil.

O pequeno Estevão, de um ano e meio, no assentamento Caetés: valor da floresta em pé passado de geração em geração (Foto: Agroícone/divulgação)
O pequeno Estevão, de um ano e meio, no assentamento Caetés: valor da floresta em pé passado de geração em geração (Foto: Agroícone/divulgação)

Segundo Daniel Soares, analista de investimento do WRI Brasil e um dos autores do estudo, o Brasil tem mais de 90 milhões de hectares de pastagem com algum nível de degradação, dos quais 40 milhões deles em estado severo. “Essa imensa fronteira que exige restauração pode ser uma oportunidade rentável de investimento para o produtor”, sugere, acrescentando que a rentabilidade para o produtor é um indicativo de que o Brasil tem uma grande oportunidade de gerar emprego e renda. Só que, para isso, precisaria se aumentar e dar escala a atividades de silvicultura de espécies nativas na produção de madeira, óleos vegetais, alimentos como castanhas, frutas e diversos outros produtos florestais.

Apostar na floresta em pé é bem para o bolso e para a natureza. Além da taxa de retorno do investimento, o estudo aponta que os serviços ambientais oferecidos pelas espécies nativas melhoram os recursos hídricos, aumento da resiliência e produtividade de outras atividades que podem ser consorciadas com as árvores. A pegada de carbono também diminuí, podendo retirar 12,5 toneladas de dióxido de carbono equivalente da atmosfera por hectares ao ano. Com o mercado de carbono enfim tendo sido aprovado durante a Conferência do Clima, a COP26, esse serviço ambiental é uma mais fonte de renda à disposição do produtor. O estudo apontou que uma das barreiras para que essa economia florestal ganhe escala é o baixo conhecimento sobre os modelos e experiências existentes, seus retornos econômicos e as organizações aptas a receberem investimentos.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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