ODS 1
A produção global de alimentos e os seus custos ocultos
Artigo: saiba o que são os sistemas alimentares, a sua importância para o Brasil e por que as empresas precisam falar sobre isso
Globalmente, a produção de alimentos e o uso da terra geram custos ocultos – as chamadas externalidades – para o meio ambiente, a saúde e a pobreza estimados em quase US$ 12 trilhões/ano. No cerne da discussão sobre esses impactos estão os sistemas alimentares, que envolvem todos os processos relacionados à alimentação, desde a produção, o processamento, a distribuição e o consumo. O tema ainda é pouco presente na mídia, mas 2021 promete trazê-lo à baila, com a realização da Cúpula sobre Sistemas Alimentares, paralelamente à Assembleia Geral da ONU. O encontro foi convocado pelo secretário-geral António Guterres em 2019, com o objetivo de acelerar a agenda dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), fazendo as pontes necessárias entre os desafios globais da fome, da emergência climática, da perda da biodiversidade e da pobreza e desigualdade.
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Essa discussão interessa ao Brasil, por variados motivos: a agropecuária tem destacado peso econômico, pois somos o terceiro maior exportador agrícola do mundo. Ao mesmo tempo, 32% do total de emissões de gases de efeito estufa do país derivam de mudanças no uso do solo, o que inclui o desmatamento para conversão de áreas florestais em plantações e pastagens. Em razão da relevância do tema, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) saiu na frente nessa discussão ao lançar, em junho, o Guia do CEO sobre a Transformação os Sistemas Alimentares, publicação que tem o objetivo de orientar e engajar os grandes tomadores de decisões de empresas brasileiras nessa jornada.
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Veja o que já enviamosDe caráter didático, a publicação traz cases de empresas brasileiras comprometidas com a transformação dos sistemas alimentares e traz as metas já estabelecidas por 17 organizações de diferentes setores, entre elas empresas globais como JBS, Danone, Bayer, Carrefour e Nestlé, para 2030 e 2050. Essas empresas se posicionaram com sete objetivos e pontos programáticos: escalar a agricultura de baixo carbono, regenerativa, de maior produtividade e precisão; capacitar agricultores e agricultoras para adotarem métodos mais resilientes e sustentáveis; reduzir perdas e desperdícios; garantir rastreabilidade e certificação para a produção sustentável; conscientizar os consumidores sobre escolhas saudáveis e sustentáveis; aumentar o acesso a dietas saudáveis e sustentáveis; e fortalecer a produção de dados científicos e comunicá-los para toda a cadeia produtiva.
Na visão do CEBDS, entregar esses caminhos de transformação guiará o Brasil rumo a uma nova economia, que poderá gerar R$ 2,8 trilhões em novas oportunidades de negócios, com o acréscimo de R$ 19 bilhões em produtividade agrícola adicional e criação de dois milhões de empregos até 2030. Isso potencializa nossa vocação natural de ser um grande produtor e exportador de alimentos, mas agregando valor socioambiental, com redução das emissões de carbono e cadeias produtivas mais inclusivas.
O mundo já almeja uma postura diferente de quem produz alimentos: dados levantados pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), rede da qual o CEBDS faz parte, apontam que há um fator geracional na escolha por produtos mais sustentáveis: entre os dispostos a adotar marcas afinadas com a sustentabilidade, estão 73% dos que pertencem à geração Z (nascidos entre o fim dos anos 1990 e 2010), 68% dos entrevistados fazem parte do grupo dos millennials (nascidos entre 1980 e meados da década de 1990), 55% da geração X (entre 1965 e início dos anos 1980) e 42% dos baby boomers (entre 1946 e 1964). É chegado o momento de incluir os custos ocultos das cadeias produtivas na conta e abrir caminho para um novo padrão de produção e consumo de alimentos, e o setor privado já lidera essa transformação com ações concretas e visão de longo prazo.
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Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.