Qualidade do ar piora no mundo, mas Brasil apresenta ligeira melhora

Fumaça de queimadas encobrem Porto Velho, Rondônia, cidade com a pior qualidade do ar entre as analisadas no Brasil: relatório alerta para incêndios florestais e desmatamentos (Foto: Ésio Mendes / Governo de Rondônia)

Porto Velho foi a cidade brasileira com ar mais poluído; apenas 3% das cidades analisadas apresentaram índices compatíveis com os estabelecidos pela OMS

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 29 de março de 2022 - 10:30 • Atualizada em 1 de dezembro de 2023 - 18:03

Fumaça de queimadas encobrem Porto Velho, Rondônia, cidade com a pior qualidade do ar entre as analisadas no Brasil: relatório alerta para incêndios florestais e desmatamentos (Foto: Ésio Mendes / Governo de Rondônia)

Nenhum país conseguiu alcançar o padrão de qualidade do ar estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2021: a conclusão é de uma pesquisa com dados sobre poluição realizada em 6.475 cidades (ou localidades) pela IQAir, empresa de tecnologia especializada em poluição atmosférica com bases em mais de 100 países. De acordo com o estudo, a poluição, em muitas regiões, voltou a subir após uma queda relacionada à covid-19 em 2020.

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O índice de qualidade de ar considerado pela pesquisa foi o PM2,5 – relativos a partículas finas. Apesar de ser o menor tipo de poluente, o PM,5 é considerado um dos mais perigosos pela OMS e é produto da queima de combustíveis fósseis, tempestades de poeira e incêndios florestais, entre outras fontes. O poluente também é associado, por pesquisas médicas, a ameaças à saúde como cardiopatias e doenças respiratórias. Os dados PM2.5 são apresentados em unidades de microgramas por metro cúbico (µg/m³).

“A poluição do ar é agora considerada a maior ameaça à saúde ambiental do mundo, sendo responsável por sete milhões de mortes em todo o mundo a cada ano. A poluição do ar causa e agrava muitas doenças, desde asma até câncer, doenças pulmonares e doenças cardíacas. O custo econômico diário estimado da poluição do ar foi calculado em US$ 8 bilhões, ou 3 a 4% do produto bruto mundial”, destaca o relatório.

É chocante que nenhuma grande cidade ou país esteja fornecendo ar seguro e saudável aos seus cidadãos de acordo com a mais recente diretriz de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde

Frank Hammes
CEO da IQAir

Em setembro de 2021, a OMS, após pesquisas apontarem o impacto cada vez maior da poluição na saúde, atualizou suas diretrizes globais de qualidade do ar, 15 anos após a última atualização, e cortou pela metade a concentração anual de PM2,5 considerada perigosa à saúde humana: de 10 µg/m³ para 5 µg/m³. A pesquisa do IQAir revela que nenhum país alcançou à nova diretriz de qualidade do ar da OMS para PM2,5 em 2021. Apenas 222 das 6.475 cidades analisadas no relatório ficaram abaixo da concentração de PM2.5.

As cidades com pior qualidade estão, em maioria na Ásia. Das 1.887 cidades asiáticas analisadas, apenas quatro (0,2%) atenderam às diretrizes atualizadas da OMS para concentração de PM2.5. Dos cinco países com pior qualidade do ar, quatro (Bangladesh, Paquistão, Tajiquistão e Índia) estão na Ásia; o outro país da lista é o africano Chade.

Fumaça de fábrica polui o ar de Dhaka: capital de Bangladesh: de acordo com estudo, país tem a pior qualidade do ar do mundo (Foto: Syed Mahamudur Rahman / NurPhoto / AFP - 22/03/2017)
Fumaça de fábrica polui o ar de Dhaka: capital de Bangladesh: de acordo com estudo, país tem a pior qualidade do ar do mundo (Foto: Syed Mahamudur Rahman / NurPhoto / AFP – 22/03/2017)

“É chocante que nenhuma grande cidade ou país esteja fornecendo ar seguro e saudável aos seus cidadãos de acordo com a mais recente diretriz de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde”, afirma Frank Hammes, CEO da IQAir, na apresentação do documento. “Este relatório ressalta o quanto ainda há trabalho a ser feito para garantir que todos tenham ar seguro, limpo e saudável para respirar. A hora de agir é agora”.

Brasil melhora; desmatamento preocupa

A parte brasileira do relatório começa com uma boa notícia. No geral, as concentrações de partículas finas poluidoras, PM2,5, por metro cúbico caíram de 14,2 µg/m³ em 2020 para 13,6 µg/m³ em 2021. Entretanto, das 33 cidades brasileiras incluídas no relatório, apenas Fortaleza e a pequena Piancó ficaram abaixo da diretriz de qualidade do ar da OMS para PM2,5. Os municípios brasileiros analisados com pior qualidade foram Porto Velho (883º lugar no ranking global com 22,3 µg/m³), Plácido de Castro, no Acre (1343º no ranking com 17,8 µg/m³), Campinas (1532º no ranking com 16,4 µg/m³), Guarulhos/SP (1574º no ranking com 16,1 µg/m³) e Brasileia/AC (1634º no ranking com 15,4 µg/m³). São Paulo registrou índice de PM,5 de 14,8 µg/m³, em 1779º lugar no ranking; o Rio de Janeiro teve índice de 13 µg/m³, em 2230º na lista de cidades analisadas.

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De acordo com o relatório, as principais fontes de poluição do ar no Brasil são indústria de cimento, produção petroquímica, produção de aço, mineração, queimadas florestais e agrícolas, e produção de veículos. “Os recentes desafios econômicos no Brasil levaram a um aumento do número de residências que utilizam a lenha como fonte de energia para cozinhar. Desemprego, preços em alta e inflação são alguns dos motivos que fazem da madeira a segunda fonte de energia mais utilizada no país, após a eletricidade”, destaca o documento da IQAir

As cidades da Amazônia na alto da lista com ar mais poluído do país destaca a gravidade das queimadas e do desmatamento na região. “Apesar de uma diminuição no número total de incêndios e na área total queimada em 2021 em relação a 2019 e 2020, mais de 1,4 milhão de quilômetros quadrados queimados no Brasil durante o período de 1º de janeiro a 5 de setembro de 2021”, alerta o relatório, lembrando que, de acordo com estudos científicos, a Amazônia está emitindo mais CO2 do que absorvendo. “O desmatamento e os incêndios florestais são uma ameaça contínua à saúde e ao bem-estar dos cidadãos brasileiros”, conclui o relatório.

Poluição do ar: problema global

A IQAir frisa ainda que a poluição do ar afeta aqueles que são mais vulneráveis, citando estimativas que, em 2021, as mortes de 40 mil crianças menores de cinco anos estavam diretamente ligadas à poluição atmosférica por PM2,5. “Nesta era do COVID-19, os pesquisadores descobriram que a exposição ao PM2,5 aumenta tanto o risco de contrair o vírus quanto de sofrer sintomas mais graves quando infectados, incluindo a morte”, alerta o documento.

O Relatório Mundial de Qualidade do Ar da IQAir, realizado desde 2018, agrega e compara milhões de medições de PM2,5 feitas em milhares de locais ao redor do mundo. Os dados são coletados ao longo do ano a partir de uma combinação de monitores de qualidade do ar baseados em terra, regulatórios e não regulatórios. A empresa lembra que, embora muitas áreas ao redor do mundo ainda não tenham acesso a informações de qualidade do ar disponíveis publicamente, houve mais dados disponíveis sobre qualidade do ar em 2021 do que nos anos anteriores.

Com mais medições, o relatório mostra a piora global. Nos Estados Unidos, foram analisadas 2.408 cidades analisadas, o maior número em um só país: as concentrações médias de PM2,5 aumentaram de 9,6 µg/m3 para 10,3 µg/m3 em 2021 em comparação com 2020. Entre as grandes cidades norte-americanas, Los Angeles foi a mais poluída mas registrou uma diminuição geral na poluição PM2,5 de 6% em comparação com 2020. Na África, onde apenas 63 cidades foram monitoradas e apenas uma alcançou a diretriz da OMS.

A China, país tradicionalmente assombrado pela poluição do ar, também registrou melhoras. Mais da metade das cidades chinesas incluídas no relatório registraram níveis mais baixos de poluição do ar em 2021 na comparação com o ano anterior. Os níveis de poluição na capital, Pequim, continuaram uma tendência de melhoria da qualidade do ar, impulsionada, de acordo com o documento, pelo controle de emissões e redução da atividade de usinas de carvão e outras indústrias com alta emissão de gases de carbono.
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Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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