ODS 1
João Nery: ‘Todo mundo me acha um herói, não sou. Eu não tinha saída’
Conheça a história de João Nery, primeiro homem trans a fazer uma cirurgia de redesignação sexual do Brasil: 'A sociedade machista não aguenta o feminino'
Conheça a história de João Nery, primeiro homem trans a fazer uma cirurgia de redesignação sexual do Brasil: 'A sociedade machista não aguenta o feminino'
João Nery, psicólogo e ativista, o primeiro homem trans a fazer uma cirurgia de redesignação sexual no Brasil. Realizada em plena ditadura militar, o procedimento era considerado mutilação de um humano. João é um dos entrevistados da série do #Colabora “LGBT+60: Corpos que Resistem”. Durante uma conversa emocionante com a nossa equipe, ele deixou uma linda mensagem: “Eu não me arrependo de nada do que eu fiz na minha vida. O importante é viver cada dia, porque é realmente o presente que você vive”. *João faleceu no dia 26 de outubro de 2018 em Niterói, aos 68 anos.
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João Nery recebeu a equipe do #Colabora em sua casa, em Niterói, para aquela que seria sua primeira entrevista após o tratamento de quimioterapia e uma das últimas de sua vida. Ele descobriu um câncer no pulmão em agosto do ano passado.
Com o apoio de uma bengala, ele caminha pela sala procurando objetos e imagens que poderiam servir para ilustrar a entrevista. Em uma estante repleta de livros, vejo uma foto antiga da família. Peço a João que aponte a se próprio na imagem. “Adivinha? Olha a minha cara emburrada porque colocaram esse vestido em mim”, ele ri. De fato, o semblante de João se diferenciava dos outros. Já eram os principais sinais de uma resistência que duraria por toda sua vida. “Todo mundo me acha um herói corajoso, não sou. Eu não poderia viver como mulher, seria um inferno pra mim”.
Antes de as câmeras serem ligadas, o autor do livro “Viagem Solitária – Memória de um transexual 30 anos depois” pede que as perguntas da entrevista sejam lidas antes. Eu mostro e explico que elas estão divididas em tópicos que vão da infância até sobre suas expectativas diante de Brasil tomado por uma onda enorme de intolerância.
Em pouco menos de dois minutos, João lê tudo e afirma: “Vamos lá. Vou tentar responder de uma vez”. A facilidade em conectar um tema ao outro me impressiona. Enquanto ele fala, com um pouco de dificuldade devido ao tratamento, eu risco as questões que estavam sendo respondidas. Por fim, deixo meu bloquinho de lado para concentrar ao máximo nas palavras de João.
“Olha, tudo o que estou falando eu já disse muitas vezes, mas essa entrevista está sendo diferente”, ele observa durante a gravação. E realmente estava. Segundo João, diante da morte, alguns valores que achava tão indispensáveis na vida foram refeitos. E mesmo com as novas limitações, afirma: “Eu sempre acho que estou na melhor fase da minha vida. Se eu não me fizer feliz, quem vai fazer?”.
Semanas após a entrevista, no início de setembro, Nery anunciou que o câncer havia chegado ao cérebro, no estágio 3. Espalhando uma corrente de solidariedade nas redes sociais, ele contou que seguirá escrevendo seu próximo livro: “Velhice Transviada”. João aproveitou para deixar um recado aos jovens: “Não se acovardem. Ser o que somos não tem preço. Viver uma mentira nos enlouquece”.
João Nery é casado, pai de um filho. Na adolescência, era visto “como uma moça para os conhecidos, e como um rapazinho para os desconhecidos”. Se formou em Psicologia, mas perdeu o diploma após mudar o nome quando isso ainda era crime. Hoje, está desempregado e sem aposentadoria.
João é um resistente.
LGBT+60: CORPOS QUE RESISTEM
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Jornalista e roteirista do #Colabora especializado em pautas sobre Diversidade. Autor da série “LGBT+60: Corpos que Resistem”, vencedora do Prêmio Longevidade Bradesco e do Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBT+. Fez parte da equipe ganhadora do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, com a série “Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil”. É coordenador de jornalismo do Canal Reload e diretor do podcast "DáUmReload", da Amazon Music. Já passou pelas redações do EGO, Bom Dia Brasil e do Fantástico. Por meio da comunicação humanizada, busca ecoar vozes de minorias sociais, sobretudo, da comunidade LGBT+.
Parabéns pelo trabalho realizado com enorme sensibilidade, creio que, talvez, nunca tenha sido tão importante o registro de nossas histórias, existimos re-existimos e não temos armários para voltar, nossos corpos podem até serem apagados, mas sempre existiremos na história recente da humanidade por causa de olhares iguais ao seu, obrigado!
Jovem, João Nery NUNCA fez cirurgia de redesignação. Parem de apagar a história dos homens trans e reescrever como bem quiserem.
A cirurgia que ele fez foi a mastectomia, somente. E não deixou de ser homem por não se adequar ao padrão cis, pelo contrário: foi muito mais homem que qualquer um quem tenha ganhado de bandeja isso logo ao nascimento, pois lutou pra ser reconhecido assim.
Parabéns Dionísio pelo seu esclarecimento.
Fiquei emocionada com a reportagem, uma linda história de vida que não pode ser escrita de qualquer maneira
parabéns Yuri, adorei o vídeo postado acima.
grande cara o João Nery.