Um Jardim em Floresta

Quando a umidade de um bairro do Rio ajuda a esverdear o semiárido de Pernambuco

Por Kelly Lima | Fotogaleria • Publicada em 11 de abril de 2018 - 11:37 • Atualizada em 11 de abril de 2018 - 16:25

Dois mil quilômetros separam o alto do bairro de Laranjeiras, quase dentro da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, do município de Floresta, localizado no semiárido pernambucano. De floresta, Floresta não tem nada. Vive entre períodos secos e menos secos, com umidade relativa sofrível para a vida humana e o que dirá para plantas e animais. Em comum com o bairro carioca, Floresta também não teria nada, não fosse a artista plástica Claudia Tavares identificar os contrastes entre os dois lugares a partir de um ponto em comum: seu ateliê no rio e a casa do ex-marido em Pernambuco.

Enquanto lá, a água, artigo raro, já não caía dos céus havia três anos, cá escorria das paredes literalmente, para espanto de visitantes e o encanto da vegetação que se apoderava dos exteriores e adentrava o ateliê. A evidente desigualdade da água, que retrata poeticamente a latente desigualdade brasileira não passou despercebida por essa artista plástica que estava cavando o tema de seu doutorado. Assim nasceu a “tese poema” Um Jardim em Floresta.

Por meio de desumidificadores, ela começou a retirar o excesso de umidade de seu ateliê, acumulando a água em garrafas de vidro, posteriormente levadas ao sertão pernambucano para serem utilizadas no jardim que viria a plantar no local com mudas recolhidas na vizinhança árida. “Por dois anos, engarrafei essa água pensando na seca que impede a proliferação do verde e da vida em Floresta”, contou.

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No total foram 180 garrafas de água apenas retirando o excesso de umidade de seu ateliê. Em janeiro de 2016, Claudia viajou do Rio de Janeiro a Floresta transportando as garrafas. Durante cinco dias, ela passou por cidades e lugarejos já próximos, recolhendo as mudas doadas por quem se aventura a cultivar jardins no sertão. “Consegui seis caixas. Voltando a Floresta, construí um jardim e reguei com a água transportada. Foi aí que o inesperado aconteceu e, depois de anos sem uma gota, uma chuva torrencial caiu sobre a região”, relatou.

O processo, todo filmado e fotografado, resultou na exposição que irá ocupar, durante três meses, o Palácio das Artes (BH) e, posteriormente, o Paço Imperial (RJ). Para cobrir os altos custos que envolvem a montagem de uma exposição de artes visuais, Claudia lançou uma campanha de financiamento coletivo, no link: https://benfeitoria.com/umjardimemfloresta?ref=benfeitoria-pesquisa-projetos e conta com o apoio de colaboradores.

Kelly Lima

Kelly Lima é paulista, mas há 14 anos no Rio já se considera um pouco carioca. Formada em jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), especializou-se em economia, atuando na cobertura da área de energia por mais de uma década na Agência Estado. Mais recentemente, trabalhou na área de desenvolvimento econômico e social do BNDES e do Governo do Estado do Rio. É sócia da Alter Comunicação, que produz conteúdo informativo para instituições e empresas, entre elas o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).

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