A gênese da treta virtual

Cuidado, textão à vista. Você ainda pode ser apanhado nessa rede

Por Leo Aversa | ODS 9 • Publicada em 1 de março de 2016 - 08:00 • Atualizada em 1 de março de 2016 - 12:06

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Você, ingênuo, está de bobeira no Facebook e, de repente, vê um post que alguém compartilhou. Algo muito sério, mas muito sério mesmo, defendendo o dia das mães. O clássico textão. Aí você, já que está de bobeira, lê até o final. E resolve fazer um comentário. Por que não? Escreve que a parte chata do dia das mães é que tem muita fila nos restaurantes.

Pronto. A mosca caiu na teia.

Imediatamente o ativista online, o sucessor virtual do pitboy da Baronetti entra em cena nos comentários. O textão é dele, claro.

Só você não percebeu a armadilha.

– VOCÊ É CONTRA O DIA DAS MÃES???!!!! Escreve o ferrabrás.

Você, ainda ingenuamente, tenta explicar que o seu problema é a fila mas o furioso já começou o espetáculo. O show não pode parar.

Para quem está atrás de uma treta, as redes sociais tem um problema: só se interage com o próprio círculo. Se você é metaleiro, por exemplo, dificilmente o fã-clube da Lady Gaga vai entrar no seu feed. Então os gladiadores do Face utilizam os métodos dos pitboys, para quem, na falta de inimigos, usavam qualquer desculpa para inventar um. Bastava a eles um olhar, um esbarrão para começar o duelo. Para o ativista online, basta um comentário, um porém, uma vírgula, para dar inicio à confusão. Enquanto não põe o dedo na cara de alguém não fica satisfeito. A causa dele é a própria treta.

Ele pega o seu comentário, dá copy & paste na parte que lhe convém e já publica o post bombástico, sua maior especialidade:

– VEJAM DO QUE AS PESSOAS SÃO CAPAZES! ELE É CONTRA O DIA DAS MÃES! DAS MÃES! ONDE VAMOS PARAR!!!???

Em seguida os seguidores do furioso – sim, o furioso sempre tem seguidores – replicam o post. São dezenas de compartilhamentos denunciando o ser que é contra o dia das mães. Ou melhor, contra as mães, já que cada seguidor vai interpretando à sua maneira o que você (não) disse. À essa altura você já virou, além de matricida, nazista, torturador de pandas e criador de Aedes.

O seu inbox se torna um rio de chorume, com todas a ofensas e ameaças imagináveis. É a apoteose da treta

Não há escapatória a não ser um pedido de desculpas. Ao furioso, aos seus seguidores, à humanidade, incluindo , é claro, sua própria mãe, que a essa altura se pergunta o que fez de errado na sua educação. Desculpas que têm apenas uma pequena chance de darem certo, afinal quem é que vai dar crédito a quem prega o genocídio materno?

Você é obrigado a se afastar das redes.

Os furiosos online comemoram. Essa é a meta deles, acabar com qualquer um que não funcione como espelho. Rapidamente preparam outra armadilha: um post defendendo Papai Noel para presidente, por exemplo.

Você não concorda? Se não concorda é porque não gosta do Papai Noel. Se não gosta de Papai Noel é porque não gosta de crianças.

VOCÊ É CONTRA CRIANÇAS!!!!????

Leo Aversa

Leo Aversa fotografa profissionalmente desde 1988, tendo ganho alguns prêmios e perdido vários outros. É formado em jornalismo pela ECO/UFRJ mas não faz ideia de onde guardou o diploma. Sua especialidade em fotografia é o retrato, onde pode exercer seu particular talento como domador de leões e encantador de serpentes, mas também gosta de fotografar viagens, especialmente lugares exóticos e perigosos como Somália, Coreia do Norte e Beto Carrero World. É tricolor, hipocondríaco e pai do Martín.

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