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A fome e o risco da crise humanitária generalizada em Gaza

De acordo com a FAO, os 2 milhões e 300 mil habitantes da região enfrentam atualmente níveis de insegurança alimentar de crise, emergência ou catástrofe

ODS 2 • Publicada em 4 de março de 2024 - 09:35 • Atualizada em 5 de março de 2024 - 09:45

  • (Riham Jafari*) – Após quase cinco meses da escalada do conflito e dos bombardeios constantes em Gaza, os moradores da região agora enfrentam também uma crise de fome sem precedentes. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), os 2 milhões e 300 mil habitantes enfrentam atualmente níveis de insegurança alimentar de crise, emergência ou catástrofe. A Unicef alerta que a desnutrição aguda pode afetar até 10 mil crianças em breve. É um cenário terrível de escassez de alimentos e falta de água potável que impacta mais fortemente grupos como gestantes e menores de 5 anos, e que a ActionAid tem acompanhado de perto.

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Quase não há alimentos disponíveis para as pessoas comprarem. Quando há, os preços são muito elevados. Os danos à infraestrutura tornaram a produção local de alimentos praticamente impossível. Mais de um terço das terras aráveis de Gaza foi danificado, e muitos barcos de pesca, padarias e moinhos foram destruídos devido aos ataques aéreos. A situação é ainda mais agravada pela falta de água potável e pela escassez de combustível e gás de cozinha. 

O Dr. Hossam Abu Safiya, pediatra consultor na região norte da Faixa de Gaza, nos relata: “Perdemos um número significativo de crianças nos últimos dias devido à ampla desnutrição. Registramos muitos casos que foram admitidos na unidade de terapia intensiva. A maioria dos casos chegou em um estado de desidratação avançada causada pela desnutrição.”

Crianças palestinas recebem comida em Gaza: risco da fome e a crise humanitária generalizada (Foto: ActionAid Palestina)
Crianças palestinas recebem comida em Gaza: risco da fome e a crise humanitária generalizada (Foto: ActionAid Palestina)

De acordo com um novo relatório do Global Nutrition Cluster (GNC), 90% das crianças em Gaza com menos de dois anos estão em extrema pobreza alimentar, o que significa que tiveram acesso a dois grupos alimentares ou menos nas últimas 24 horas. Pelo menos 90% das crianças menores de cinco anos são afetadas por uma ou mais doenças infecciosas, enquanto 70% tiveram diarreia nas últimas duas semanas, conforme constatado no relatório.

Balsam, uma nutricionista em Gaza, nos conta que a desnutrição das mulheres grávidas e mães prejudica não só a saúde delas, mas também a dos bebês. Como acontece com Bisan, 29 anos, mãe de seis filhos, que deu à luz o seu filho mais novo depois de ter sido deslocada da sua casa no norte de Gaza: “Tenho dificuldade em amamentar o meu filho. Não há leite e ele continua vomitando. O leite da lata é caro e não posso comprar para meu bebê”.  

Sohad, uma mãe deslocada de 23 anos que está atualmente vivendo numa tenda em uma praia com a família, lamenta: “Vivemos na areia e agora queimamos plástico para cozinhar. Não encontramos nada para comer. Não encontramos nada para alimentar nossos filhos.”

Apesar de tamanha necessidade de alimentos e água potável, a quantidade de ajuda permitida diariamente em Gaza é vergonhosamente insuficiente e inconsistente, sendo apenas um quinto dos níveis anteriores a 7 de outubro, quando a região já dependia de apoio humanitário. A situação é mais crítica no norte de Gaza, onde cerca de 300 mil pessoas estão quase completamente isoladas da assistência humanitária. A situação é tão grave que há pessoas recorrendo à moagem de ração animal como farinha para se alimentar, mas mesmo esse “substituto” está prestes a chegar ao fim. 

É importante lembrar que, por mais sombrio que o contexto já esteja, pode ficar significativamente pior se o principal centro de distribuição de ajuda para toda a Faixa de Gaza em Rafah for atacado. As operações humanitárias podem entrar em colapso total, com consequências inimagináveis. 

Tão chocante quanto saber disso é ver o mundo observando um horror que pode ser evitado. É preciso ação e engajamento de todos para evitar uma tragédia ainda maior, pressionando pelo aumento da ajuda humanitária e por um cessar-fogo permanente e imediato. A inação pode resultar em um desastre humanitário inimaginável. 

*Riham Jafari é coordenadora de Advocacia e Comunicações da ActionAid Palestina

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