ODS 1
Um podcast para denunciar a brutalidade do aparelho repressivo do Estado
'Prove sua inocência', da Ponte Jornalismo, revela histórias de pessoas presas injustamente, por preconceito e apuração deficiente de ocorrências criminais
A garantia constitucional de que todo mundo é inocente até prova em contrário não vale no Brasil dos pretos e pobres. O aparelho repressivo do Estado – polícias, Ministério Público, Judiciário, sistema prisional – dobra a aposta na crueldade com essa parcela da sociedade, multiplicando abusos, sufocando o direito à defesa, numa sucessão de episódios de injustiça e brutalidade. Daí, a ideia do podcast “Prove Sua Inocência”, parceria da Ponte Jornalismo e da Fundação Heinrich Böll, para denunciar e promover o debate sobre tais práticas nefastas.
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Em seis episódios, a série apresenta de vítimas – todos homens negros e periféricos – e análises de especialistas como as advogadas criminalistas Dora Cavalcanti, do Innocence Project Brasil, e Priscila Pamela dos Santos, do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), e o tenente-coronel aposentado da PM paulista e mestre em direitos humanos Adilson Paes de Souza. Junto há o trabalho de apuração jornalística, conduzido pela jornalista Maria Teresa Cruz, também apresentadora do podcast.
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Veja o que já enviamos“Nossa proposta é expor os vieses e as injustiças cometidas pelo sistema de Justiça”, explica Antonio Junião, cofundador da Ponte Jornalismo e coidealizador do “Prove Sua Inocência”. “Queremos alcançar público mais amplo, que, muitas vezes, não está habituado a debater esses temas e que tem, na maioria das vezes, o populismo penal dos veículos de mídia sensacionalista como referência no debate. Esse projeto alia o rigor do jornalismo investigativo a uma linguagem emocionante e atraente”.
Um caso narrado no podcast é o de três jovens – Lennon Seixas Vieira da Silva, 27, e os irmãos Bruno e Rodrigo de Souza Prazeres, de 27 e 31 anos – moradores da região do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, presos acusados de roubo de veículo. Todos primários. O reconhecimento dos “suspeitos” realizado pela polícia infringiu o Código Penal, uma vez que apenas os três jovens estavam no processo – o que já o torna irregular. Ainda assim, o fato que mais chama atenção é que o próprio sistema judiciário legitimou a ilegalidade: os três acabaram atrás das grades, mesmo com a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) de que este tipo de evidência não é suficiente para condenar alguém. Ficarem presos mais de 40 dias.
A pesquisa para o projeto conta também com a colaboração de organizações da sociedade civil, como Mães de Maio, Rede de Resistência e Proteção ao Genocídio e Instituto de Defesa do Direito de Defesa. Todas ajudaram a selecionar casos emblemáticos também incorporando perspectivas de raça e classe.
“Prove sua inocência” pode ser ouvido nas plataformas digitais Spotify, Deezer e Google Podcasts, entre outras.
Bernardo de la Peña é carioca e jornalista há mais de 25 anos. Trabalhou em "O Estado de S. Paulo" e "O Globo", onde ganhou dois Prêmio Esso. Escritor, publicou dois livros: "Memorial do escândalo", livro-reportagem sobre o mensalão, e "Um carioca no Planalto", memórias dos cinco anos que viveu em Brasília, a maior parte do tempo cobrindo o Planalto. Adora cavalos, a ponto de se arriscar a praticar salto na Sociedade Hípica Brasileira, um de seus lugares preferidos, ao lado da fazenda da família em Secretário, distrito de Petrópolis (RJ).