Mobilização nas redes sociais ajuda a identificar terroristas bolsonaristas

Página @contragolpebrasil identifica bolsnaristas envolvidos no ataque aos Três Poderes: redes sociais usadas para denunciar criminosos e seus crimes (Foto: Reprodução)

Perfis e páginas dos próprios envolvidos no ataque estão sendo reunidos para serem usados como provas; eles podem ser processados, pelo menos, por cinco crimes

Por Oscar Valporto | ODS 16 • Publicada em 9 de janeiro de 2023 - 12:30 • Atualizada em 7 de janeiro de 2024 - 13:41

Página @contragolpebrasil identifica bolsnaristas envolvidos no ataque aos Três Poderes: redes sociais usadas para denunciar criminosos e seus crimes (Foto: Reprodução)

Não basta ser golpista, tem que compartilhar nas redes sociais; não basta ser terrorista, tem que registrar os atos de violência. Os bolsonaristas, que atacaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal, produziram centenas de provas contra eles mesmos ao postarem fotos e vídeos nas redes. E o contra-ataque começou ainda na noite de domingo com uma mobilização para identificar os criminosos envolvidos na invasão da Praça dos Três Poderes.

Criada no Instagram pouco depois das 18h de domingo (08/01), a página @contragolpebrasil chegou aos 770 mil seguidores ao meio-dia de segunda-feira (09/01). “Perfil para a identificação dos(as) criminosos(as) que atentam contra a democracia do Brasil!”, define a descrição da página que já identificou mais de 130 bolsonaristas – com os respectivos nomes e alguns até com seu perfil no próprio Instagram.

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No Twitter, o influenciador digital Felipe Neto pediu aos seus quase 17 milhões de seguidores para ajudarem na identificação dos criminosos. “Poste aqui nesse tweet TODOS os prints possíveis que mostrem o rosto de envolvidos na invasão terrorista do Congresso Nacional. Só responder aqui e anexar a imagem. Bora criar uma listinha pra facilitar os trabalhos…”, escreveu Felipe Neto. mais de 150 mil comentários até meio-dia 18h ao meio-dia de segunda, muitos com imagens, identificadas ou não, dos vândalos bolsonaristas.

O perfil @jairmearrependi – de humor e crítica, criado originalmente no Twitter com bolsonaristas arrependidos como alvo principal – também convocou seus quase 390 mil seguidores para enviarem fotos e vídeos por mensagem direta, garantindo sigilo. “Documentem tudo. Sabe os anúncios de caravana? Convocação? Pedidos de Pix? Printem tudo. Corram. Eles vão correr para apagar. Não vamos dar esse mole”. Apesar de terem solicitado mensagem direta, mais de 700 pessoas postaram fotos e vídeos de flagrantes criminosos de bolsonaristas. Muitos outros perfis printaram páginas de bolsonaristas para denunciar os criminosos.

Mais de 100 invasores bolsonaristas – devidamente identificados – foram denunciados pelo perfil @GadoDecider no Twitter. Também pelas redes sociais, a Agência Lupa – especializada em checagem – pediu a colaboração dos seguidores para montarm uma base de dados com postagens antidemocráticas feitas nos últimos dias nas redes e app de mensagens, “com o objetivo de mapear como foram organizados os atos de vandalismo em Brasília”. Até meio-dia de segunda, a Lupa já tinha recebido mais de 2.500 postagens.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública divulgou em suas redes sociais a criação do e-mail denuncia@mj.gov.br para receber “informações de terroristas que cometeram os atos do último domingo”. De acordo com o Ministério, as denúncias são anônimas e as informações enviadas serão mantidas sob sigilo.

estruição no Senado Federal: bolsonaristas podem responder por cinco crimes, de golpe de estado a depredação do patrimônio histórico (Foto: Jeferson Rudy / Agência Senado)
Destruição no Senado Federal: bolsonaristas podem responder por cinco crimes, de golpe de estado a depredação do patrimônio histórico (Foto: Jeferson Rudy / Agência Senado)

Criminosos identificados

A página @contragolpebrasil já identificou muitos envolvidos nos ataques terroristas na Praça dos Três Poderes. Dois ganharam destaque, especial: Ana Priscila Azevedo, apontada como “uma das principais articuladoras da invasão ao Congresso Nacional”, usou seu canal no Telegram com 30 mil inscritos para convocar o ataque à Praça dos Três Poderes; e o cantor gospel Salomão Vieira, apontado pela página como “financiador” dos terroristas bolsonaristas e “um dos principais arquitetos da invasão ao Congresso Nacional”.

A @contragolpebrasil lista outros criminosos de todas as partes do Brasil, alguns com mandato como o vereador José Ruy Garcia, do município goiano de Inhumas, e Marcos Alexandre Matavelli de Moraes, vice-prefeito de Pancas (ES) ou com patente, como o tenente Ricardo Henrique Bento de Souza de Barros Moreira, candidato (derrotado) a deputado distrital em Brasília.

Tinha muita gente de São Paulo como o empresário Silvio Masiero Neto, de Jaú, ou Nelma Barros Braga Perovani, diretora de empresa e integrante da Igreja Presbiteriana de Piratininga. E muitos também de Minas Gerais como o professor José Donizeti Correa, candidato (derrotado) a vereador em Três Corações pelo PSL em 2016, Aline Morais de Barros, advogada e presidente do PL de Montes Claros. Também foram flagrados nos atos da Praça dos Três Poderes bolsonaristas do Paraná (Jeferson Martins, Piraí do Sul), de Santa Catarina (Sheila Oliveira, Blumenau) do Tocantinis (Yvette Nogueira, Palmas), do Rio (Maxnei Oliveira, de Paraty). Todos eles usaram suas redes para dar publicidade ao ataque – podem ganhar fama e cadeia.

De acordo com o Ministério da Justiça e da Segurança Pública e a Procuradoria Geral de Justiça, os responsáveis pelos ataques terroristas em Brasília podem responder, em tese, por, pelo menos, cinco crimes: golpe de estado – tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído. Pena: reclusão, de 4 a 12 anos, além da pena correspondente à violência; abolição violenta do Estado Democrático de Direito – tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais. Pena: reclusão, de 4 a 8 anos, além da pena correspondente à violência; dano ao patrimônio público da União – crime qualificado. Pena: detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência; crimes contra o patrimônio cultural – destruir, inutilizar ou deteriorar bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. Pena: reclusão, de um a três anos, e multa; associação criminosa – associarem-se três ou mais pessoas para o fim específico de cometer crimes. Pena: reclusão, de um a três anos (pena aumenta se a associação é armada).

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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