ODS 1
Coronavírus: um filme de terror para Hollywood
Indústria do cinema já perdeu, pelo menos, US$ 7 bilhões e especialistas preveem que a pandemia causará uma mudança permanente no setor
Hollywood produziu centenas de filme de desastres, com tsnunamis, problemas ambientais, terremotos, invasão de alienígenas perigosos e pandemias diversas. Em Contágio (2011), estrelado por Matt Damon e Gwyneth Paltrow, um novo vírus que se origina na China, provavelmente trazido por um animal silvestre, infecta milhares de pessoas em todo mundo, transmitido pelas vias respiratórias – o principal sintoma é o de uma forte gripe.
O diretor, Steven Soderbegh, fez um bom trabalho ao abandonar os clichês do gênero, focando em uma sociedade levada a extremos. A resposta imediata ao filme é emocional, pela sensação de ameaça. Algo como a pandemia do coronavírus durar mais meses e meses. Parece familiar? Como todos os filmes do gênero, a humanidade se salva no fim. O que estamos vivendo hoje com o coronavírus daria não uma obra de ficção, mas um documentário apavorante – e sem público, por não podemos ir ao cinema e porque ninguém gostaria de ver uma narrativa que espelha um sofrimento real.
Durante a pandemia, já foram suspensos os lançamento de títulos de Hollywood que fariam bilhões de dólares em exibição global, como Avatar 3, Batman, Jurassic World 4, Matrix 4 e Missão Impossível 7. Em muitos filmes americanos, as pessoas sobrevivem, mas não se sabe o que irá acontecer em um mundo real, em mutação, no qual os humanos mudarão até o modo de cumprimentar.
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[g1_quote author_name=”Michael Nathanson” author_description=”Pesquisador especializado em Mídias da MoffetNathanson” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Temos a forte crença que a produção e a distribuição de conteúdo serão mudadas para sempre com esta crise
[/g1_quote]A empresa de consultoria Statistics Report relata que, em 2019, o faturamento de bilheteria foi de US$ 11,4 bilhões (cerca de R$ 60 bilhões) na América do Norte e de US$ 42.5 bilhões (aproximadamente R$ 220 bilhões) no mundo inteiro. E de acordo com dados mais recentes, a indústria do cinema no planeta sofreu perda de US$ 7 bilhões de dólares (quase R$ 40 bilhões) de janeiro a março. E isso poderá chegar a US$10 bilhões (R$ 53,3 bilhões), caso os cinemas continuem fechados, as premières suspensas, os lançamentos adiados. As avaliações foram feitas até maio – e, de lá para cá, o ambiente se tornou muito mais sombrio. Há ainda outro problema: os espectadores terão por muito tempo temor de se misturar a multidões e, é claro, de ver qualquer película de desastre, sentindo-se mais seguros dentro de seus carros.
Se levarmos conta também as produções para televisão, o setor audiovisual emprega 2,5 milhões de pessoas, responde pelo pagamento de US$ 181 bilhões (quase R$ 1 trilhão), como um todo, em salários e envolve mais de 93 mil empresas só nos Estados Unidos, de acordo com a Motion Pictures Association of America. Os custos vão subir. As adaptações necessárias para ter trabalhadores em espaços maiores e com menos riscos vão aumentar significativamente o tempo de filmagem e as despesas de produção.
A divulgadora Annie Jeevez disse que teria imaginado, há um ano, que no momento atual “estaria em um avião para lá para cá, em festivais de cinema, em lançamento de diversos filmes e me preparando para o festival de Cannes. Mas tudo isso desandou”, diz ela. “Literalmente, o festival South by Southwest desapareceu, e fiquei aconselhando meus clientes a um cenário que simplesmente era o de administração de crise”, afirmou. “A indústria será permanentemente mudada”, registrou a empresa de pesquisa de mercado MoffetNathanson em seu preocupante relatório, chamado “Diga adeus a Hollywood”.
Os pesquisadores apontam que a pandemia acelerou uma mudança que já vinha acontecendo: a ascensão do streaming e a queda do sistema de produção pelos estúdios de Hollywood como o conhecemos. “Temos a forte crença que a produção e distribuição de conteúdo serão mudadas para sempre com esta crise,” diz Michael Nathanson, que liderou a pesquisa. Algumas de suas previsões já são uma realidade. As plataformas de streaming serão as criadoras de conteúdo primário, salas de cinema enfrentarão grandes perdas financeiras, filmes de orçamento médio irão quase que desaparecer. Mas nem tudo está perdido, acrescenta ele. No futuro, exibidores e as empresas de streaming chegarão a um acordo que poderá interessar aos dois lados.
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Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.
Belo texto. Entendo que também a produção propriamente dita vai sofrer grandes mudanças, com maior facilidade de acesso a recursos tecnológicos como 3D e cenografia digital. Já é possível assistir filmes feitos preferencialmente para aparelhos móveis e outras telas de pequeno porte, bem como para visores de realidade virtual (US$ 50 o visor que se adapta ao celular). Produções mais baratas também vão contribuir para reduzir o consumo de energia.
A gente lê uma matéria tão bem escrita dessas e fica impressionada com a qualidade do argumento em um tema tão relegado que é a arte. Realmente os números impressionam e há motivo real para o desânimo e depressão. Mas o momento é de adaptação. Podia ser pior: podia não haver drive-ins, nem tvs por assinatura, nem plataformas on line onde desaguar as produções artísticas. Obrigada pela transparência e clareza. Eu já era sua amiga, agora sou sua fã!
Uma coisa que está acontecendo é que os distribuidores estão fazendo lançamentos “online” para não ficar com o título mofando na prateleria sabe-se lá por quanto tempo. Esse aqui é um exemplo que conheço: https://deadline.com/2020/04/edward-james-olmos-windows-on-the-world-latino-streaming-vix-1202898978/
Quem sabe a moda pega porque eu queria ver todos esses que vc falou aí em cima. Tá bom, o Batman do vampirinho acho que eu não vou ver não….
Muito bom!
texto excelente.