Universidade vence rally de barcos movidos a energia solar

Tecnologia começará a ser experimentada para beneficiar o transporte público de Vitória, no Espírito Santo

Por Chico Alves | ODS 4ODS 7 • Publicada em 23 de julho de 2019 - 08:00 • Atualizada em 24 de julho de 2019 - 14:38

O barco campeão da equipe Solares: projeto de extensão financiado por patrocínio e inciativas dos alunos e professores da Ufes (Foto: Solares/Divulgação)
O barco campeão da equipe Solares: projeto de extensão financiado por patrocínio e inciativas dos alunos e professores da Ufes (Foto: Solares/Divulgação)

Os professores e alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) estão na dianteira da corrida pela inovação no uso de energia solar. Um barco desenvolvido na instituição participou e venceu o último Desafio Solar Brasil, um rally que há oito anos é realizado pela UFRJ com  a participação de várias universidades e colégios navais do país. A vitória não é importante apenas pelo espírito esportivo. A tecnologia utilizada na embarcação serve para aplicação em uma área estratégica para a sociedade: o transporte público. O protótipo tem características que serão testadas em um catamarã que vai ajudar a melhorar o deslocamento de passageiros na região da Grande Vitória.

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Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Ufes, Bruno Venturini explica qual o segredo da vitória na competição, realizada em setembro. “O diferencial do nosso barco é a confiabilidade do sistema elétrico e mecânico. Além disso, o sistema de telemetria foi desenvolvido por alunos para fazer monitoramento de carga de baterias, de modo que tivéssemos dinâmica durante a prova”, diz ele. A embarcação é uma das ramificações do Projeto Solares, no qual a universidade desenvolve também uma estação solar, mantém a geração de água quente no restaurante do campus, elabora sistemas elétricos e divulga a energia solar nas escolas. O mais novo objetivo é desenvolver um avião.

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O Solares é um projeto de extensão da graduação que não conta com recurso de pesquisa do governo federal. “Os alunos conseguem fazer o projeto andar conseguindo a cessão de equipamentos, com a venda de camisas e busca de patrocínio. É uma ação empreendedora. Na estação solar que vai ser inaugurada, 100% dos recursos vieram de crowdfunding”, explica Venturini. A universidade ajudou comprando o motor elétrico e pagando passagens e estadia no Rio de Janeiro para a equipe que participou da competição. “Historicamente, não há recursos para projetos de extensão. Isso não é de hoje”, diz o professor. “Se formos esperar pelo dinheiro público, as coisas não acontecem, os alunos desanimam”.

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Temos negociação com uma empresa da Grande Vitória para desenvolver dois barcos para transporte de passageiros e captação de resíduos na baía, mas está tudo em estágio preliminar

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Estudante do curso de Engenharia Mecânica, Leandro Macedo, de 22 anos, gostou da experiência de fazer o barco e participar da competição. “Quando entramos na universidade, aprendemos muita coisa na sala de aula e depois ficamos loucos para aplicar na prática. É a chance que eu tenho de fazer uma simulação, trabalhar com ferramentas”, conta. “Além disso, essa necessidade de correr atrás dos recursos para fazer acontecer nos dá um jogo de cintura”.

Aluno de Engenharia Elétrica, André Salume, 23 anos, diz que o projeto fez com que tivesse certeza da área que quer seguir. “Vou trabalhar com energia fotovoltaica e veículos elétricos. Todo conhecimento vinculado a isso, geração de energia, uma área chamada eletrônica de potência, aprendi dentro do projeto”.

Equipe do Solares festeja conquista no Rio: projeto tem 40 estudantes dos cursos de Engenharia Mecânica e Elétrica, Arquitetura e Urbanismo e Comunicação Social e a missão de explorar as aplicações da energia solar e capacitar os membros e a comunidade (Foto: Solares/Divulgação)
Equipe do Solares festeja conquista no Rio: projeto tem 40 estudantes dos cursos de Engenharia Mecânica e Elétrica, Arquitetura e Urbanismo, e Comunicação Social; missão é explorar as aplicações da energia solar e capacitar os membros e a comunidade (Foto: Solares/Divulgação)

O Solares é um projeto de extensão que possui uma equipe de 40 estudantes dos cursos de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Comunicação Social. “Tem como missão explorar as aplicações da energia solar e capacitar os membros e a comunidade”, afirma o diretor de Marketing e membro do projeto, Henrique Nascimento. Foi através do marketing que o projeto conseguiu apoio de empresas para ser viabilizado.

Henrique conta que o grupo pretende construir um barco monocasco para disputar o Frisian Solar Challenge, na Holanda, competição que inspirou o Desafio Solar Brasil. “Como nosso projeto sempre quer trazer algo inovador e sempre queremos crescer, após construirmos o barco monocasco e participarmos do DSB na Categoria Livre, pretendemos futuramente levar o Solares, o Espírito Santo e a Ufes para a Holanda”, planeja. Para este ano, está prevista a inauguração da Estação Solares, um quiosque alimentado por energia solar off-grid (que não está ligada à rede elétrica) e que poderá ser usado por alunos, professores, servidores e toda a comunidade.

Não há previsão de quando essas inovações estarão ao alcance do cidadão comum, mas algumas experiências nesse sentido começam a ser feitas. “Temos negociação com uma empresa da Grande Vitória para desenvolver dois barcos para transporte de passageiros e captação de resíduos na baía, mas está tudo em estágio preliminar”, explica o professor Bruno Venturini. Existe também o interesse de outra empresa para aplicar a tecnologia na área sonográfica. São os primeiros sinais de que o conhecimento desenvolvido pelos alunos e professores da Ufes não dará alegria apenas aos competidores que usaram o barco no último rally, mas também a muita gente que verá aplicada no cotidiano a energia solar. Uma vitória para o meio ambiente.

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67/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil

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Chico Alves

Chico Alves tem 30 anos de profissão: por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Na maior parte da carreira atuou como editor-assistente na revista ISTOÉ, mais precisamente por 19 anos. Foi editor-chefe do jornal O DIA por mais de três anos. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho.

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