Solidariedade ‘naqueles dias’

Estudantes da PUC-Rio criam rede colaborativa para disponibilizar absorventes de graça nos banheiros da faculdade

Por Maria Clara Parente | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 8 de abril de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:50

Caixinha de absorventes no banheiro da PUC-Rio: sucesso no início
Caixinha de absorventes no banheiro da PUC-Rio: sucesso no início

Casaco na cintura e fuga rápida para o banheiro são algumas das muitas  “técnicas” usadas pelas mulheres para aqueles dias em que a menstruação as pega desprevenidas. Na falta de absorventes na bolsa ou de uma farmácia por perto, o jeito é apelar para o nécessaire de uma amiga. Nem sempre dá certo. Foi pensando pensando nesses constrangimentos que as estudantes do quarto período de Publicidade da PUC-Rio Luisa Rodrigues e Cynthia Baldez criaram o projeto “Por ela”, uma ideia simples, mas um exemplo e tanto de solidariedade. Foi colocada no banheiro da faculdade uma caixinha decorada com absorventes e a  a simpática frase: “Ajude quem te ajudou hoje”, incentivando outras estudantes a contribuírem com a inciativa.

Com uma página no Facebook, o “Por ela” convida jovens a dar depoimentos a fim de empoderar mulheres e aumentar a rede de colaboração entre as jovens. A inspiração para compartilhar absorventes veio dos Estados Unidos, onde há banheiros com o produto à venda. “Pensei que seria legal fazer uma rede colaborativa entre as meninas no lugar que mais passamos sufoco”, diz Luisa, lembrando que o projeto foi criado no final de 2015 e, de cara, teve uma  adesão foi muito grande. “Mas hoje , mas hoje a caixa nem sempre fica cheia”, completa.

Mas a estudante não está sozinha nesse tipo de mobilização. Nos Estados Unidos, há a campanha “Free the tampons” , que tem o slogan “Not all bathrooms are created equal”, em alusão a uma das frases da declaração de Independência norte-americana, “Todos os homens são criados iguais”. Idealizadora do projeto, Nancy Kramer nunca entendeu por que papéis higiênicos, sabonetes e toalhas de papel são oferecidos nos banheiros, mas  não absorventes. Dados da  campanha afirmam que  86% das mulheres americanas de 18 a 54 anos já ficaram menstruadas na rua sem ter um absorvente à mão, e 78% já improvisaram com papel higiênico. Nancy entendia que a mensagem subliminar de ter que buscar absorventes na enfermaria da escola era que havia algo de errado com a saúde da garota menstruada. Mas a distribuição de absorventes em banheiros públicos também gera controvérsias, afinal qual seria o sentido de encorajar uma medida agressiva ao meio ambiente e cara quando existe uma opção alternativa?

A campanha pela distribuição de tampões nos banheiros americanos
A campanha pela distribuição de tampões nos banheiros americanos

A substituição fica por conta dos chamados coletores menstruais, mais ecológicos, menos alergênicos e, de quebra, mais baratos. Embora tenham se popularizado no Brasil no ano passado por meio de celebridades do YouTube  como a carioca Jout Jout Prazer, o coletor é bem antigo: os primeiros protótipos foram desenhados nos EUA entre 1860 e 1870, e o primeiro modelo foi criado nos anos 1930 pela atriz Americana Leona Chalmars, que prometia “acabar com um problema mais velho que Eva”. Mas a ideia de uma proteção reutilizável era considerada escandalosa e deconfortável. Hoje, com o entendimento da importância de cada vez produzir menos lixo, os copos voltaram ser vistos como uma boa ideia. Uma mulher usa em média dez absorventes descatáveis por ciclo menstrual, que demoram cerca de 100 anos para se degradarem no meio ambiente, enquanto o coletor pode durar até 10 anos. O copo é feito de silicone médico e custa aproximadamente R$ 150.

A advogada Valéria Nogueira, que se tornou adepta do copo depois da recomendação de uma amiga “descolada e ecológica”, confessa que adorou a novidade, mas se sentiu estranha ao contar para as amigas: “Nunca havia ouvido falar. Nenhuma propaganda ou comentário nos grupos de mães dos meus filhos. Achei tão bacana e libertador que quis compartilhar com outras mulheres. E confesso que, em alguns momentos, me senti meio ET’’. Mas, ainda que quase um desconhecido, o copo pode ser uma alternativa econômica e sustentável.

Maria Clara Parente

Jornalista e mestre em literatura pela PUC-Rio. Trabalha com jornalismo ambiental e audiovisual desde 2016, com foco em novas economias, mudança sistêmica e justiça climática. No colabora, dirige a apresenta a série WebColaborativa e apresentou a primeira temporada da série Comendo Lixo(2018), sobre cozinha lixo zero. Co-dirigiu a série documental What is Emerging?(2019) e dirigiu o documentário Regenerar: Caminhos Possíveis em um Planeta Machucado(2022).

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