O preço de ser sustentável: US$ 3 tri

Desempregados olham ofertas de emprego em Sao Paulo. Foto de Nelson Almeida/ AFP

Em 2016, crise reduziu em 19% o investimento social privado no Brasil

Por Liana Melo | ODS 15 • Publicada em 18 de dezembro de 2017 - 09:02 • Atualizada em 29 de janeiro de 2018 - 21:34

Desempregados olham ofertas de emprego em Sao Paulo. Foto de Nelson Almeida/ AFP
Desempregados olham ofertas de emprego em Sao Paulo. Foto de Nelson Almeida/ AFP
Com uma população desempregada de 13 milhões de brasileiros será difícil cumprir a meta de redução da desigualdade prevista nos ODSs. Trabalhadores observam ofertas de emprego em São Paulo. Foto de Nelson Almeida/ AFP

Depois do Quênia, Gana, Zâmbia, Indonésia, Colômbia, Estados Unidos e Índia, o Brasil é o oitavo país do mundo a lançar sua Plataforma de Filantropia, um estudo alentado sobre o investimento privado social brasileiro e sua interface com a agenda do desenvolvimento. A iniciativa é uma parceria do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) com a Rockefeller  Philanthropy Advisors e outras fundações nacionais e institutos. Projeções das Nações Unidas (ONU) apontam, para os próximos 13 anos, a necessidade de se investir anualmente US$ 3 trilhões para que os países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, consigam cumprir Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs), a nova agenda global que entrou em vigor em 2015 e vai até 2030. É uma montanha de dinheiro, mas que incluí obras essenciais como saneamento básico, educação, saúde… Mas não é o único desafio. O maior dos problemas é construir as parcerias necessárias para cumprir os 17 objetivos e as 169 metas globais nos próximos 13 anos, avalia Luciana Aguiar, a gerente de parcerias do setor privado do Pnud.

Nenhum país é capaz de cumprir sozinho as metas dos ODSs. É por isso que as parcerias com os diferentes setores, inclusive o setor privado, são fundamentais

“Nenhum país é capaz de cumprir sozinho as metas dos ODSs. É por isso que as parcerias com os diferentes setores, inclusive o setor privado, são fundamentais”, analisa Luciana, que está convencida de que a inovação é uma das chaves do sucesso dessa empreitada. O setor privado, diz ela, está “bastante mobilizado”, o governo lançou, em meados do ano, a Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a sociedade civil também está engajada, mas o segredo do sucesso e o cumprimento das metas é “colocar todo o recurso financeiro disponível no mesmo cesto”.

A crise econômica, social e política do país fez com que o investimento social privado, feito por fundações e institutos de empresas familiares ou pessoas físicas, tenha registrado no Censo Gife/ 2016 uma queda de 19% em relação a 2014: R$ 2,9 bilhões contra R$ 3,6 bilhões. “Apesar da retração dos investimentos, o potencial de crescimento da filantropia no Brasil existe. A queda foi fruto da recessão, logo foi pontual”, avalia Maristela Baioni, representante do Pnud no Brasil, explicando que esses recursos são feitos sem retorno financeiro para o investidor. Ou seja, a fundo perdido. A área de educação é o principal foco dos investimentos filantrópicos no país: 69% dos recursos investidos. Já as áreas de saneamento, energias renováveis e vida na água, que são temas extremamente importantes, estão sendo negligenciados pelos investidores.

Desemprego e desigualdade

Num país de 13 milhões de desempregados, Luciana admite que cumprir a meta de redução da desigualdade não é tarefa fácil. Chama atenção, no entanto, que os desafios não são apenas os econômicos: “A desigualdade é também de gênero, sem falar no enfrentamento do racismo no país, dado que viemos de uma sociedade de origem escravocrata”. Ela chama atenção, por exemplo, para o fato de que a expectativa média de vida do brasileiro é de 75 anos, enquanto entre a população LGBT+ é de 35 anos.

A tal parceria defendida por Luciana já vem ocorrendo em outros países. No Quênia, por exemplo, depois de 18 meses de discussão, foi construída uma agenda comum, envolvendo governo, setor privado e sociedade civil, para universalizar o acesso à saúde até 2020, ou seja, dez anos antes do prazo limite para o cumprimento das metas dos ODSs. Em Gana, foi criado um departamento para tratar dos temas de filantropia.

O Brasil produz desigualdade com muita eficiência

Para Átila Roque, diretor da Fundação Ford no Brasil, discutir a filantropia no Brasil só vale a pena se for para cutucar privilégios, que, no caso brasileiro, incluí discutir as questões racial e o machismo. É que o Brasil, diz ele, “produz desigualdade com muita eficiência”, fazendo com que algumas “vidas tenham mais valor do que outras”.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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