O desafio do financiamento para enfrentar a crise climática

Protesto em Nova York às vésperas da Assembleia-Geral da ONU: financiamento climático para países mais pobres desafia líderes mundiais (Foto: Karla Ann Cote / NurPhoto / AFP – 17/09/2021)

Países em desenvolvimento na África, na Ásia e na América Latina pedem ajuda de US$ 240 milhões por ano para metas de proteção da biodiversidade

Por José Eduardo Mendonça | ODS 13 • Publicada em 27 de setembro de 2021 - 07:53 • Atualizada em 5 de outubro de 2021 - 09:08

Protesto em Nova York às vésperas da Assembleia-Geral da ONU: financiamento climático para países mais pobres desafia líderes mundiais (Foto: Karla Ann Cote / NurPhoto / AFP – 17/09/2021)

A apenas cinco semanas da COP26, líderes mundiais se reuniram durante a Assembleia Geral da ONU para, mais uma vez, discutirem o financiamento da luta contra a crise climática.

Depois de uma mesa redonda com as nações ricas, os estados-ilha e países africanos, entre outros, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, disse ter ouvido “declarações encorajadoras” sobre uma meta de financiamento de US$ 100 bilhões anuais – definida em 2009 e jamais alcançada – para energia limpa e adaptação às mudanças climáticas.

Leu essa? Por que as fontes de financiamento climático estão secando?

Um dos pontos em discussão é se os países responderão a repetidos apelos de Gueterres para aumentar as somas pífias oferecidas a países pobres para que se adaptem aos impactos da mudança no clima – ou, pelo menos, metade dos fundos prometidos a eles.

Ambientalistas dizem que nações em desenvolvimento precisam de mais dinheiro, alegando que os US$ 100 bilhões por ano prometidos são ainda “enormemente inadequados”.

Os governos têm ainda a tarefa de finalizar um acordo para salvaguardar plantas, animais e ecossistemas do planeta – em uma conferência da ONU sobre a biodiversidade a ser concluída em maio do ano que vem em Kunming, na China.

Um rascunho de um pacto, publicado em julho, inclui a promessa de proteger pelo menos 30% da terra e dos oceanos do planeta até 2030, mas, mais uma vez, esta tarefa, quando se trata de ajuda a países de natureza rica, tem o financiamento como desafio. O texto fala na eliminação de financiamentos danosos à biodiversidade, como os subsídios à produção de combustíveis fósseis e à agricultura intensiva.

A melhora da conservação e manejo das áreas naturais, como parques, oceanos e florestas, é crucial para a salvaguarda dos ecossistemas dos quais os homens dependem.

Funcionários de governos disseram em um fórum de financiamento da ONU, em 2020, que seriam necessários US$ 700 bilhões extras por ano na próxima década.

Segundo um relatório da ONU publicado em maio, o gasto global com a natureza foi de US$ 133 bilhões, com 86% da soma vinda de financiamentos púbicos.

Os países em desenvolvimento na África, na Ásia e na América Latina precisariam de US$ 240 milhões por ano para cumprirem suas metas de proteção da biodiversidade e pediram que os países ricos desembolsem US$ 80 milhões a mais por ano.

Cerca de um milhão de espécies de animais e de plantas estão em risco de extinção devido à busca insaciável de crescimento econômico, segundo um relatório de 2019 sobre os impactos devastadores da civilização moderna sobre o mundo natural.

Caso os pontos de não retorno ambientais sejam atingidos e os países não invistam na produção e restauração da natureza, a economia global teria perdas anuais de US$ 2,7 trilhões, de acordo com o Banco Mundial.

“A realidade é que todo financiamento, de todas as fontes, doméstica, privada e pública, terá de ser maciçamente aumentado”, disse Florian Titze, um conselheiro de biodiversidade da WWF-Alemanha. “Todos os financiamentos terão de ser duplicados”.

Florestas estão sendo derrubadas com frequência para produzir commodities como carne – caso do Brasil – destruindo a biodiversidade e ameaçando as metas do clima, uma vez que as árvores absorvem cerca de um terço das emissões produzidas no mundo.

Segundo um recente relatório da ONU, 87% do apoio global a produtores agrícolas – ou cerca de US$ 470 bilhões por ano – distorcem os preços dos alimentos e têm impacto ambiental negativo e efeitos sociais, muitas vezes favorecendo os grandes negócios em detrimento da agricultura familiar.

Os 46 países mais pobres receberam entre 2014 e 2018 apenas US$ 5,9 milhões no total para adaptação, um nível que cobriria menos de 3% dos fundos necessários nesta década, diz um estudo de julho do International Institute for Environment and Development.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

Newsletter do #Colabora

Um jeito diferente de ver e analisar as notícias da semana, além dos conteúdos dos colunistas e reportagens especiais. A gente vai até você. De graça, no seu e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *