Enchentes na Bahia e outros 9 desastres causados pela crise climática em 2021

Ponte destruída na submersa cidade de Itamaraju, no sul da Bahia: enchentes na região na lista de desastres provocadas pela crise climática em 2021 (Foto: Manu Dias/Governo da Bahia)

Temporais fora de época no sul do estado concluem lista que inclui seca no Sudeste do Brasil, calor de 50 graus Celsius no Canadá e inundações na Europa

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 29 de dezembro de 2021 - 08:34 • Atualizada em 16 de fevereiro de 2022 - 19:24

Ponte destruída na submersa cidade de Itamaraju, no sul da Bahia: enchentes na região na lista de desastres provocadas pela crise climática em 2021 (Foto: Manu Dias/Governo da Bahia)

O ano de 2021 termina com o Brasil inteiro assustado com as imagens das enchentes no sul da Bahia onde mais de 20 pessoas já morreram e pelo menos 60 mil estão desabrigadas ou desalojadas, de acordo com o governo estadual. Meteorologistas explicam que esses temporais em sequência foram provocados pela conjunção de três fatores: dois mais comuns – a Zona de Convergência do Atlântico Sul e o fenômeno La Niña – e um terceiro completamente atípico nesta época e nesta região, o que coloca as enchentes baianas na lista dos eventos extremos causados pela crise climática em 2021.

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1. Depressão subtropical na Bahia – Chuvas no Sul da Bahia nesta época do ano estão geralmente relacionadas à Zona de Convergência do Atlântico Sul, um corredor de umidade que vem da Amazônia. Em dezembro de 2021, a temporada de chuva teve o reforço de La Niña, fenômeno climático cíclico que esquenta as águas do Pacífico e costuma provocar mais chuva no Nordeste. Especialistas apontam que totalmente atípico é a formação de depressão subtropical – evento meteorológico marcado pela formação de nuvens, ventos, tempestades e agitação marítima – no Atlântico Sul, provocada por um aquecimento das águas, ligada à crise climática.

Itamaraju, no sul da Bahia, submersa após dias seguidos de chuva: temporais provocados por fenômenos comuns foram intensificados por fenômeno totalmente atípico (Foto: Manu Dias / Governo da Bahia)
Itamaraju, no sul da Bahia, submersa após dias seguidos de chuva: temporais provocados por fenômenos comuns foram intensificados por fenômeno totalmente atípico (Foto: Manu Dias / Governo da Bahia)

2. Maior seca em 91 anos no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil – A crise hídrica brasileira provocou racionamento de água em cidades de São Paulo e Mato Grosso do Sul e campanha para redução do consumo de energia. Especialistas apontam que a estiagem recorde – que também atingiu Argentina e Paraguai, pois o Rio Paraná registrou seu menor nível em 71 anos – está relacionada ao desmatamento da Amazônia e à crise crise climática.

Crise hídrica: vazão reduzida vista das Cataratas do Iguaçu. Foto Nilton Rolim/Parque Nacional do Iguaçu
Vazão reduzida vista das Cataratas do Iguaçu (Foto: Nilton Rolim/Parque Nacional do Iguaçu -18/06/2021)

3. Tempestade de neve no Texas – Não foi só no Brasil: no estado americano do Texas, nevascas nunca vistas em 50 anos deixaram mais de 200 mortos e congelaram a rede elétrica; estados vizinhos, como Arkansas, também registraram temperaturas negativas recordes

4. Calor de quase 50 graus Celsius no Canadá – A cidade de Lytton, no oeste canadense, registrou 49,6ºC – recorde absoluto no país e a primeira vez que calor acima de 49 graus Celsius foi registrado desde 1937.  A onda de calor também provocou recordes de temperatura e mortes no Costa Oeste dos EUA.

5. Enchentes e mortes na Europa Central – Chegou a 240 o número de mortos nos cinco países – Alemanha, Bélgica, Holanda, França e Luxemburgo – atingidos em junho pelas enchentes provocadas por dias consecutivos de temporais. Especialistas classificaram as chuvas como “extraordinárias”, com recordes de precipitação em vários pontos.

Rastro de destruição deixado pelo furacão Ida no estado americano da Luisiana: súbito aumento de intensidade e 95 mortos (Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP - 02/09/2021)
Rastro de destruição deixado pelo furacão Ida no estado americano da Luisiana: súbito aumento de intensidade e 95 mortos (Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP – 02/09/2021)

6. Furacão Ida em intensidade recorde – A crise climática vem provocando aumento do número de furacões e tempestades tropicais no Atlântico Norte. Foram 21 tempestades batizadas como nomes em 2021, incluindo sete furacões: a 3ª temporada mais ativa já registrada e a 6ª temporada consecutiva de furacões acima do normal no Atlântico. O mais impressionante para os meteorologistas foi o furacão Ida que, em menos de dois dias, passou de um furacão nível 2 para nível 4 sobre a Luisiana e provocou enchentes da costa do Golfo do México até Nova York: 95 pessoas morreram

Integrante de equipe resgate retira paciente de hospital alagado em Zhengzhou, na província de Henan: mais de 300 mortos (Foto: Cai Yang / Xinhua / AFP - 22/07/2021)
Integrante de equipe de resgate retira paciente de hospital alagado em Zhengzhou, na província de Henan: mais de 300 mortos (Foto: Cai Yang / Xinhua / AFP – 22/07/2021)

7. Pior chuva em mil anos na China – Mais de 300 pessoas morreram nas enchentes da província de Henan, na região central da China, atingida pelas mais intensas tempestades em um milênio, de acordo com a mídia chinesa: meteorologistas explicaram o evento extremo como reflexo da crise climática. A temporada de tufões e ciclones no Pacífico – 19 batizados com nomes – também causaram mortes e deslocamentos na Ásia. Em maio, 200 mil pessoas tiveram que deixar suas casas para escapar do ciclone Tauktae, que atingiu a Índia e países vizinhos.

Moradoras de vila de refugiados no Sudão do Sul enfrentam estragos das enchentes: 800 mil pessoas deixaram casas por causa das inundações (Foto: Ashraf Shazly / AFP - 14/09/2021
Moradoras de vila de refugiados no Sudão do Sul enfrentam estragos das enchentes: 800 mil pessoas deixaram casas por causa das inundações (Foto: Ashraf Shazly / AFP – 14/09/2021)

8. Maiores enchentes em 60 anos no Sudão do Sul – No país já devastado pela guerra, inundações obrigaram mais de 800 mil pessoas a deixarem suas casas. As enchentes provocaram pelo menos 80 mortes no país e atingiram também o vizinho Sudão.

9. Praga histórica de gafanhotos na África – Pelo segundo ano consecutivo, países da África Oriental – Quênia, Ruanda, Tanzânia, Uganda, Burundi – enfrentam uma praga de gafanhotos, apontada como consequência da seca extrema provocada pela crise climática.

A arrasada cidade de Dawson Springs, no Kentucky, após o furacão: diretora de agência climática destaca dimensão “incrivelmente incomum” e “histórica” dos tornados em série (Foto: Chandan Khanna / AFP - 14/12/2021)
A arrasada cidade de Dawson Springs, no Kentucky, após o furacão: diretora de agência climática destaca dimensão “incrivelmente incomum” e “histórica” dos tornados em série (Foto: Chandan Khanna / AFP – 14/12/2021)

10. Tornados em série nos Estados Unidos – No penúltimo evento extremo e atípico do ano, no dia 10 de dezembro, 41 tornados atingiram o sudeste dos Estados Unidos em apenas 24 horas, provocando pelo menos 90 mortes, 77 no Kentucky, o estado mais atingido. Na ocasião, em entrevista à CNN, a diretora da Agência Americana de Gestão de Crises (FEMA), Deanne Crisswell, destacou a dimensão “incrivelmente incomum” e “histórica” destes tornados em série para esta época. E alertou: “Este será nosso novo normal. Os efeitos que estamos vendo com as mudanças climáticas são a crise da nossa geração”.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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Um comentário em “Enchentes na Bahia e outros 9 desastres causados pela crise climática em 2021

  1. Rosalvo de Oliveira Junior disse:

    Os 10 desastres ambientais listados pela reportagem não foram causados pela crise climática, mas sim da gestão predatória da natureza, fundamentada no capitalismo, e que teve no aquecimento global, outra consequência.

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