Os caminhos da moda sustentável

Amanda Santana, da Tucum, uma loja que reúne produtos de 26 etnias indígenas. Foto de Divulgação

Empresas B investem no social, preservam o ambiental e apostam no comércio justo.

Por Maria Clara Parente | ODS 12 • Publicada em 1 de outubro de 2016 - 09:49 • Atualizada em 19 de outubro de 2016 - 11:22

Amanda Santana, da Tucum, uma loja que reúne produtos de 26 etnias indígenas. Foto de Divulgação
Amanda Santana, da Tucum, uma loja que reúne produtos de 26 etnias indígenas. Foto de Divulgação
Amanda Santana, da Tucum, uma loja que reúne produtos de 26 etnias indígenas. Foto de Divulgação

Imagine uma empresa que não encara o lucro como sua razão de existir.  Empresários que não sonham em serem os melhores e mais ricos do mundo. Talvez, quem sabe, poderem ser os melhores para o mundo, acumulando uma riqueza enorme de experiências. Esse é o projeto ou a realidade de mais de 1.700 negócios no mundo. Conhecidas como Empresas B, elas estão espalhadas por 50 países e têm em comum a missão de resolver problemas sociais e ambientais usando os próprios produtos.

Na medida em que mais e mais empresas se comprometerem com um impacto positivo no meio ambiente, haverá uma mudança drástica na forma como cada um se relaciona com o planeta.

O modelo de certificação de empresas B surgiu nos Estados Unidos em 2006, com três empreendedores que queriam mudar a lógica tradicional do sucesso a partir do lucro e levar em conta o quanto aquela empresa contribuía para um mundo mais sustentável, em todos os sentidos.

Foi com essa meta que Alice Freitas e Rachel Schettino criaram, em 2005, a Rede Asta, com o objetivo de gerar o maior impacto social possível através do investimento no trabalho de mulheres artesãs por todo os Brasil.

– Segundo o Banco Mundial, as mulheres são responsáveis por 75% da compra dos bens de consumo e destinam à família 90% de sua renda. Assim, o investimento no empreendedorismo feminino gera impactos duradouros e que podem ser multiplicados – conta Alice, uma das criadoras da marca.

Dona Lili, do grupo produtivo Pipa Carioca. Foto de Divulgação
Dona Lili, do grupo produtivo Pipa Carioca. Foto de Divulgação

A desigualdade de gênero no Brasil também foi fundamental para a escolha das mulheres como foco da Rede Asta. Elas já representam 87% dos fornecedores, que envolvem mais de quatro mil pessoas.

– Acredito que o Sistema B é o início de uma revolução que chegou para transformar o mundo em um lugar melhor. Na medida em que mais e mais empresas se comprometerem com um impacto positivo no meio ambiente, haverá uma mudança drástica na forma como cada um se relaciona com o planeta – conta Alice.

Segundo ela, a maior dificuldade que esses negócios encontram no Brasil é a falta de um modelo jurídico especial que possa promover e estimular o aparecimento de empresas B. Além da falta do olhar atento dos consumidores para essas questões. Apesar disso, a maior empresa B do mundo está no Brasil: a rede de cosméticos Natura.

O Slow Fashion vem com o intuito de despertar o desejo nas pessoas, porém por algo exclusivo, reinventado e justo. Valorizar a produção brasileira, com mão de obra bem remunerada – explica Mayra Salli.

A Asta também trabalha em parceria com outras empresas por meio de um processo conhecido como “Upcycling”, que transforma resíduos em novos materiais ou produtos. A técnica também é usada para transformar resíduos em produtos de marketing para seus funcionários. “Esse modelo surgiu quando nos demos conta de que estávamos sendo excluídas do mercado de brindes corporativos com a entrada massiva dos produtos da China, a preços muito baixos”, lembra Alice Freitas.

Entre os exemplos clássicos desse trabalho estão os trinta mil metros cúbicos de lona dos postos Ipiranga que viraram brindes para clientes e os uniformes velhos da Oi que transformaram em bolsas para os novos funcionários.

Outra marca que aposta no upcycling é a MIG Jeans, que transforma jeans sem uso ou descartados através de customizações e novas lavagens. Toda a produção é feita pelas sócias Isa Maria Rodrigues, Luana Depp e Mayra Salli, o que faz com que elas tenham total controle sobre os métodos produtivos. Mayra conta que a ideia de criar a marca surgiu quando elas se deram conta da grande quantidade de jeans descartados nos brechós em excelente estado e qualidade.

Com as novas formas de lidar com o consumo, a moda também ganhou um novo termo: o Slow Fashion, que vem na contramão do consumo desenfreado das lojas de Fast Fashion e faz parte do Lowsumerism.

– O Slow Fashion vem com o intuito de despertar o desejo nas pessoas, porém por algo exclusivo, reinventado e justo. Valorizar a produção brasileira, com mão de obra bem remunerada – explica Mayra Salli.

Com o intuito de valorizar as formas de produção indígenas, surgiu há dois anos o coletivo TUCUM, que estrutura a cadeia produtiva de artesãos das mais diferentes etnias. A ideia surgiu quando Amanda Santana começou a ter contato com as comunidades através do marido, o antropólogo Fernando Niemeyer. Foi aí que ela começou a sonhar com uma marca que pudesse comercializar as belezas produzidas pelos indígenas e gerasse não apenas renda, mas tivesse a missão de melhorar a autoestima. Além disso, a presença de atravessadores deixava Amanda preocupada: “A gente percebeu que no Rio de Janeiro não tinha uma loja que vendesse artesanato indígena de qualidade e com o retorno justo para eles”.

A maior parte dos pedidos é feita pela internet e o pagamento para os indigenas acontece no momento em que os produtos são recolhidos.  Com mais de 26 etnias presentes na loja, a TUCUM compartilha o que Amanda chama de tecnologia social, dividindo as informações sobre o mercado, mas de uma forma que os índios continuem tendo autonomia para decidir como serão as transações e os preços. A principal função é ser uma ponte entre os povos tradicionais do Brasil, o design sustentável e as populações urbanas.

Maria Clara Parente

Jornalista e mestre em literatura pela PUC-Rio. Trabalha com jornalismo ambiental e audiovisual desde 2016, com foco em novas economias, mudança sistêmica e justiça climática. No colabora, dirige a apresenta a série WebColaborativa e apresentou a primeira temporada da série Comendo Lixo(2018), sobre cozinha lixo zero. Co-dirigiu a série documental What is Emerging?(2019) e dirigiu o documentário Regenerar: Caminhos Possíveis em um Planeta Machucado(2022).

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