Arranha-céus verdes

Símbolos gigantes de Nova York mostram que sempre é possível ter construções mais sustentáveis

Por Carla Lencastre | Economia VerdeODS 14 • Publicada em 22 de dezembro de 2016 - 18:14 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:41

As 1.200 lâmpadas LED do Empire State Building foram instaladas há quatro anos e iluminam intensamente a antena no topo da torre. Foto Carla Lencastre
As 1.200 lâmpadas LED do Empire State Building foram instaladas há quatro anos e iluminam intensamente a antena no topo da torre. Foto Carla Lencastre
As 1.200 lâmpadas LED do Empire State Building foram instaladas há quatro anos e iluminam intensamente a antena no topo da torre. Foto Carla Lencastre

É melhor para o meio ambiente construir um prédio inteiramente novo seguindo os padrões mais modernos de sustentabilidade ou fazer um retrofit verde em um edifício antigo? Nos últimos anos, a discussão tem pautado a área de arquitetura e construção civil em todo o mundo, inclusive no Brasil. O retrofit verde provoca menos impacto ambiental do que erguer um prédio, mas novos edifícios vão continuar surgindo. Recentemente, a cidade de Nova York entrou na conversa com nada menos do que seus dois mais famosos arranha-céus: o Empire State Building, símbolo de Manhattan desde a década de 1930, e o One World Trade Center, inaugurado em 2015 na área anteriormente ocupada pelas torres gêmeas do WTC.

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Dois anos depois de sua inauguração, o One World Trade Center acaba de receber o selo Leed Gold, principal certificação de sustentabilidade em todo o mundo quando o assunto é engenharia civil e arquitetura. Além de uma antena no topo, o One World Observatory, aberto ao público em maio de 2015, ostenta o selo Leed Platinum, o nível mais alto, na categoria Commercial Interiors.

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A construção do One World Trade Center demorou mais tempo do que o previsto e foi cercada de controvérsias sobre a adequação do projeto arquitetônico, sua segurança, os gastos, à memória das vítimas dos atentados de 11 de Setembro. Em meio a tantas polêmicas, uma questão passou quase despercebida. Um arranha-céu de 104 andares pode ser construído segundo altos padrões sustentáveis? No final de 2016, chegou uma resposta oficial: sim.

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Dois anos depois de sua inauguração, o One World Trade Center acaba de receber o selo Leed Gold, principal certificação de sustentabilidade em todo o mundo quando o assunto é engenharia civil e arquitetura. Além de uma antena no topo, o One World Observatory, aberto ao público em maio de 2015, ostenta o selo Leed Platinum, o nível mais alto, na categoria Commercial Interiors. Com 541 metros de altura (ou 1.776 pés, o ano da independência americana), o One World hoje não apenas é a torre mais alta como também é a mais verde entre todos os arranha-céus de Nova York, dos Estados Unidos e do Ocidente.

Leed é a sigla em inglês para Leadership in Energy and Environmental Design, algo como liderança em energia e design ambiental. O selo é concedido por uma organização não governamental americana. Uma edificação pode ser Leed Silver, Gold ou Platinum, dependendo da pontuação alcançada em vários itens, como uso de energia e água, iluminação, qualidade do ar. O projeto do One World Trade Center, assinado pelo arquiteto David Childs, do escritório americano Skidmore, Owings & Merrill, tem no consumo de energia racional sua maior colaboração para um mundo mais sustentável.

De um modo geral, grandes prédios em metrópoles precisam de muita energia e deixam uma imensa pegada de carbono. No caso específico de Nova York, com numerosas construções antigas e instalações ultrapassadas, esta pegada é ainda maior. Daí a importância de um One World Trade Center, edifício conhecido no mundo inteiro, ser um dos pioneiros de uma nova geração de arranha-céus verdes. Mais do que economizar energia e diminuir as emissões de carbono, o One World diz que pretende inspirar e abrir caminho para que outros gigantes do século XXI sigam suas pegadas carbon free.

A busca pelo One World Trade Center de um padrão sustentável sem precedentes começou ainda em seu desenho. A torre comercial foi projetada para que 90% das áreas dos escritórios recebam iluminação natural, por exemplo. Quando o dia está ensolarado, as luzes internas diminuem automaticamente e o consumo de energia é reduzido. Nas janelas foram usados vidros que permitem a entrada do máximo de luz e do mínimo de calor. E seus 71 elevadores são iluminados por lâmpadas LED.

O interior de um dos acessos ao novo hub de transporte de Lower Manhattan, projetado por Santiago Calatrava. Foto de Carla Lencastre
O interior de um dos acessos ao novo hub de transporte de Lower Manhattan, projetado por Santiago Calatrava. Foto de Carla Lencastre

A construção incorporou novos padrões que podem vir a ser um modelo para os próximos grandes projetos arquitetônicos urbanos deste início de século. Os requisitos atendidos não se limitam ao prédio em si, mas se estendem por todo o entorno do edifício. As duas imensas piscinas quadradas instaladas no local das torres originais do World Trade Center (que hoje formam o Memorial do 11 de Setembro) também têm a função de recolher a água da chuva, que é armazenada e aproveitada na refrigeração do prédio. A região possui ainda um novo e imenso centro de transporte público de massa, o World Trade Center Hub. Projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, é conhecido como Oculus.

Mais de 40% do material utilizado na construção do One World Trade Center, entre eles placas de gesso e vidro, foram fabricados com recursos reciclados. No caso das 45 toneladas de estrutura de aço, este percentual chega a 95%. Outro índice mostra que 34% do material selecionado são de origem regional, ou seja, provenientes de uma área de até 800 quilômetros em torno do prédio. As 400 árvores que compõe o paisagismo da praça onde estão o prédio, o Memorial e Museu do 11 de Setembro também vieram deste raio de 800 quilômetros. As raízes das árvores ajudam no controle da temperatura deste emocionante museu, no subsolo.

No One World Observatory, ao lado das imensas janelas envidraçadas com vista de 360 graus para Nova York e além, há placas com textos curtos explicando como são usados os recursos naturais, sempre acompanhados do cobiçado selo Platinum. As torneiras e as descargas dos banheiros são modelos projetados para um uso racional de água. Toda a energia é medida e monitorada para maior eficiência. Os sistemas de aquecimento, ventilação e ar-condicionado foram planejados para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa. Quando a luz natural é suficiente, o consumo de eletricidade é ajustado e reduzido automaticamente. Durante a construção, 30% de todos os recursos utilizados no observatório, que ocupa três andares, vieram de fornecedores locais, e 25% do total contêm material reciclado. O revestimento acústico dos tetos, por exemplo, foi fabricado com 50% de material reciclado.

A entrada para o observatório do One World Trade Center. Foto de Carla Lencastre
A entrada para o observatório do One World Trade Center. Foto de Carla Lencastre

Quantas janelas têm o Empire State Building?

Transformar grandes prédios comerciais antigos em modelos de sustentabilidade é considerado ainda mais importante para o meio ambiente do que construir verde, entre outras razões porque eles são muito mais numerosos. O arranha-céu ícone de Manhattan, o Empire State Building, é o líder nova-iorquino deste movimento de retrofit verde.

Desde 1935 no coração de Manhattan, o ESB começou a se reinventar em 2009. O investimento dos proprietários do prédio em obras de modernização para tornar o edifício mais eficiente no consumo de energia foi recuperado em três anos com a economia de energia. A troca das janelas foi fundamental para o retrofit.

Mas quantas janelas, afinal, tem o Empire State Building?

O número impressiona: 6.514. Todas foram retiradas, reformadas e reinstaladas. Detalhe importante: 96% dos vidros e das molduras originais foram reaproveitados nas novas janelas. Além do investimento milionário dos proprietários, o retrofit teve o apoio técnico de organizações sem fins lucrativos como a Clinton Foundation e o Rocky Mountain Institute. A parceria destas instituições foi condicionada ao compartilhamento do conhecimento adquirido na obra de adequação do edifício comercial aos novos padrões de sustentabilidade. Qualquer prédio, em qualquer lugar do mundo, pode ter acesso ao projeto de modernização do Empire State Building. E mais de 50 edifícios já botaram em prática seu modelo de retrofit.

Panorama do centro de Manhattan, com o Empire State, a partir do One World Observatory, no sul da ilha. Foto de Carla Lencastre
Panorama do centro de Manhattan, com o Empire State, a partir do One World Observatory, no sul da ilha. Foto de Carla Lencastre

O arranha-céu oferece vistas panorâmicas de Nova York desde seus observatórios no 86º e no 102º andares. Todo o percurso da fila que leva aos elevadores de acesso aos mirantes, percorrido por mais de quatro milhões de pessoas por ano, é usado para exibir vídeos curtos coloridos e painéis eletrônicos sobre os novos padrões de sustentabilidade e o impacto deles no meio ambiente. Logo no início da exposição multimídia há uma provocação: “E se todos os prédios de Nova York reduzissem seu consumo de energia em 7,9%?” O painel informa que passos simples como reformas em janelas ajudam a reduzir significativamente o consumo de energia. Ainda que não pareça nada simples trocar 6.514 janelas. A exposição no acesso ao prédio também está disponível on-line (em inglês).

O Empire State Building apresenta outras novas cores diferentes de verde. No dia 9 de novembro passado, quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, o ESB ficou vermelho como Partido Republicano. Na semana seguinte, para comemorar os 25 anos do Blue Man Group, azulou. No feriado americano de Ação de Graças, no último fim de semana de novembro, mudou de cores festivamente e marcou o início do período natalino.

As 1.200 lâmpadas LED foram instaladas há quatro anos e iluminam intensamente a antena no topo da torre. Este brilho inédito foi uma das mudanças mais notáveis das últimas décadas na fachada art déco do arranha-céu. A antena é iluminada desde a década de 1950, mas agora, com as novas lâmpadas, as cores ganham em intensidade e economizam em energia.

“As novas 1.200 lâmpadas, que substituíram as 500 antigas, gastam incríveis 73% menos energia”, disse na época Jeremy Day, um dos engenheiros da Philips Colour Kinetics, que instalou o novo sistema de iluminação.

E assim, colorido por fora e verde por dentro, o Empire State Building caminha para o seu centenário deixando pegadas de carbono cada vez mais tênues.

Carla Lencastre

Jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou por mais de 25 anos na redação do jornal O Globo nas áreas de Comportamento, Cultura, Educação e Turismo. Editou a revista e o site Boa Viagem O Globo por mais de uma década. Anda pelo Brasil e pelo mundo em busca de boas histórias desde sempre. Especializada em Turismo, tem vários prêmios no setor e é colunista do portal Panrotas. Desde 2015 escreve como freelance para diversas publicações, entre elas o #Colabora e O Globo. É carioca e gosta de dias nublados. Ama viajar. Está no Instagram em @CarlaLencastre 

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