Pandemia escancara desigualdades regionais no acesso à vacinação

Vacinação contra covid-19 para profissionais da saúde em São Paulo: estudo mostra desigualdades regionais também no acesso à vacina (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil – 19/04/2021)

Estudo mostra que cobertura vacinal contra covid-19 em São Paulo, estado mais rico, passa de 90%; em Roraima e Amapá, não chega a 60%

Por Oscar Valporto | ODS 3 • Publicada em 23 de novembro de 2022 - 15:00 • Atualizada em 18 de abril de 2024 - 17:09

Vacinação contra covid-19 para profissionais da saúde em São Paulo: estudo mostra desigualdades regionais também no acesso à vacina (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil – 19/04/2021)

A pandemia – responsável por quase 700 mil mortes no país – escancarou desigualdades regionais brasileiras no acesso à vacinação contra covid-19: São Paulo, estado mais rico do país, foi o único a atingir a meta de 90% de cobertura vacinal completa estabelecida pelo Ministério da Saúde. Entre os municípios, apenas 16% chegaram a mais de 80% – a maioria deles no Sul do país; e cidades com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tiveram as menores taxas de vacinação no Brasil.  Estudo lançado pela Oxfam Brasil nesta quarta-feira (23/11) – durante o 13º Congresso de Saúde Coletiva promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) em Salvador (BA) – revela outra faceta deste Brasil desigual no enfrentamento da pandemia.

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Enquanto em São Paulo, a cobertura vacinal chegou a 91%, nos estados de Roraima e Amapá, na Região Norte, a cobertura não chegou a 60%. A média nacional de vacinação da população com uma das quatro vacinas disponíveis – Janssen, Coronavac, Pfizer e Astrazeneca – ficou em pouco mais de 78% (dados de outubro de 2022). “Nosso relatório revela como as desigualdades impactaram de maneira decisiva o direito à saúde das brasileiras e brasileiros, especialmente as pessoas que vivem em cidades e estados mais pobres, nos quais as fragilidades no sistema de saúde são maiores”, afirmou Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, ao lançar o relatório.

O estudo Desigualdade no Acesso a Vacinas Contra a Covid-19 no Brasil lembra que nosso país registra o segundo maior número de mortos pela covid-19 no mundo – com 689 mil vidas perdidas para o coronavírus até segunda-feira (21/11) mesmo tendo apenas a 5ª maior população do planeta. “Entre os fatores para este cenário estão o atraso na implementação do Plano Nacional de Imunização, demora para aquisição de vacinas contra a covid-19 e adoção de uma política negacionista de combate ao vírus, rechaçando medidas de controle social e estimulando o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus”, destaca o relatório da Oxfam, ressaltando ainda que a maioria das mortes decorrentes da pandemia ocorreu quando já havia vacina disponível no mundo. O Brasil registrou, em 2020, 194.976 óbitos; em 2021, já com imunizantes disponíveis contra a covid-19, o total foi o dobro: 424.133.

De acordo com o relatório, na Região Sul, 30% dos municípios apresentavam mais de 80% da população com esquema de vacinação completo; na Região Sudeste 27,2%; no Centro-Oeste, 11,8%; no Nordeste, 2,7% dos municípios; e na Região Norte apenas 1,1%. A análise dos estados a partir do Índice de Desenvolvimento acentuam a desigualdade: São Paulo, com IDH de 0,783, teve mais de 90% de cobertura vacinal. O estado do Maranhão, com o menor IDH do país (0,639)  teve uma coberturavacinal primária contra a covid-19 de 64,9%. “Os grupos em maior situação de vulnerabilidade no país – crianças, povos indígenas, mulheres, pessoas negras, idosos e pessoas de baixa renda – foram os mais impactados pela má-gestão da estratégia de enfrentamento da pandemia pelo governo federal”, afirmou Jefferson Nascimento, coordenador da área de Justiça Social e Econômica da Oxfam Brasil.

Abismo na cobertura vacinal contra covid-19: 91% em São Paulo, 59,5% no Amapá, 57,5% em Roraima (Gráfico: Oxfam Brasil)
Abismo na cobertura vacinal contra covid-19: 91% em São Paulo, 59,5% no Amapá, 57,5% em Roraima (Gráfico: Oxfam Brasil)

O estudo lançado pela Oxfam Brasil foi realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP): além dos dados do Vacinômetro Covid-19 da RNDS/SASISUS e do IBGE, o relatório inclui entrevistas com gestores governamentais, representantes de organizações não governamentais e outros especialistas. “Esperamos que os resultados desta pesquisa de percepção contribuam para o debate público sobre o acesso à saúde no Brasil e as ações e medidas necessárias para que os erros cometidos durante a pandemia não se repitam”, escreveu Katia Maia na apresentação do relatório de 42 páginas.

No fim do documento, a Oxfam apresenta propostas e recomendações como  avaliar e revisar o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO) sob a perspectiva das desigualdades de renda, raça/cor e gênero; aperfeiçoar mecanismos de coleta de dados sobre a vacinação contra a covid-19, com a inclusão de dados sobre raça/cor; organizar campanhas nacionais de comunicação em saúde para vacinação; formar profissionais de saúde com foco no combate aos movimentos antivacina e ao negacionismo científico; e ampliar o financiamento das ações de prevenção de doenças infectocontagiosas e de preparação para emergências de saúde e as parcerias entre centros tecnológicos brasileiros e estrangeiros para a produção no Brasil de vacinas de interesse do SUS, entre outras sugestões.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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Um comentário em “Pandemia escancara desigualdades regionais no acesso à vacinação

  1. Observador disse:

    Eu diria na saúde em geral! Nem o fato de estarmos numa Sociedade Heteronormativa, implica em cuidados relativos a Saude, Ginecológica e Andrológica, sob o aspecto pré-nupcial em todos os casais! Inicio desse ano, o coroa que teve uma vida sexual predominantemente hetera, estava em Andrologista comigo e, se inteirando nos cuidados na hora de haver relação homoafetiva!

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