Diário da Covid-19: Brasil atinge 368 mil mortes em 2021, lidera ranking mundial e sofre com a variante delta

Grafite em uma Unidade Básica de Saúde da Tijuca (UPA) critica o descaso do governo no combate à doença. Foto Mauro Pimentel/AFP. Agosto/2021

Nos 219 primeiros dias do ano, país teve média de 40 novos infectados por minuto e 1.683 mortos por dia

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 8 de agosto de 2021 - 10:59 • Atualizada em 16 de agosto de 2021 - 12:49

Grafite em uma Unidade Básica de Saúde da Tijuca (UPA) critica o descaso do governo no combate à doença. Foto Mauro Pimentel/AFP. Agosto/2021

Na primeira semana de agosto de 2021, felizmente, o Brasil alcançou médias de casos e de óbitos abaixo dos valores da 1ª onda. Contudo, ainda é cedo para comemorar o controle da pandemia, pois o país continua tendo o maior número acumulado de vidas perdidas no corrente ano e ainda precisa se preparar para enfrentar a variante delta.

De fato, mesmo que a pandemia acabasse junto com os Jogos Olímpicos (no dia 08/08), o Brasil já teria atingido cerca de 368 mil óbitos por covid-19 em 2021. Isto significa mais de mil mortes para cada um dos 365 dias do ano. Conforme mostra o gráfico abaixo, o Brasil é o país com maior número de vítimas fatais para o SARS-CoV-2 no ano de 2021. Entre o dia 01 de janeiro de 2021 e 07 de agosto o Brasil registrou 368 mil óbitos; a Índia, 278 mil óbitos, e os EUA registraram 265 mil óbitos.

O número acumulado de casos e de óbitos da pandemia no Brasil em 2021 já superara em muito os valores de 2020. No ano passado o Brasil registrou 7,7 milhões de casos e 194,9 mil óbitos, enquanto, em 2021, já registrou 12,4 milhões de casos e 368 mil vidas perdidas. Nos primeiros 219 dias de 2021, o Brasil apresentou uma média diária de 57 mil infecções (o que representa 40 novos casos de covid-19 por minuto) e apresentou 1.683 mortes diárias (o que representa 1,17 mortes por minuto).

A pandemia continua apresentando números crescentes globalmente e o Brasil é um dos países mais impactados. O mundo ultrapassou 200 milhões de pessoas com testes positivos da covid-19, enquanto o Brasil (com 2,7% da população mundial) ultrapassou 20 milhões (10% do total). O número de mortes globais chegou a 4,3 milhões de óbitos e, no território brasileiro, alcançou 562 mil vítimas fatais (13% do total).

O Brasil é o 2º colocado no ranking global do número absoluto acumulado de mortes e, levando em consideração o peso demográfico, ocupa a 5ª posição no número relativo de mortalidade (óbitos por milhão de habitantes), conforme mostra o gráfico abaixo. O Peru lidera a triste estatística e tem impressionantes 5.969 mortes da covid-19 por milhão de habitantes. A Hungria vem em seguida com mais de 3 mil óbitos por milhão. A Bósnia e Herzegovina e a República Tcheca aparecem em 3º e 4º lugares, respectivamente, com pouco menos de 3 mil óbitos por milhão. O Brasil passou para o 5º lugar com coeficiente de 2,6 mil óbitos por milhão. Os EUA, que possuem o maior número acumulado de mortes, aparece em 19º lugar atualmente com 1,86 mil óbitos por milhão de habitantes.

A Índia, que ocupa o terceiro lugar em número acumulado de mortes, apresenta “apenas” 310 óbitos por milhão, abaixo da média mundial que é de 549 óbitos por milhão de habitantes. A Nova Zelândia e a China estão entre os países com menores coeficientes de mortalidade.

O ranking dos países não é fixo, pois há mudanças em função dos diferentes ritmos nacionais da pandemia. Há países subindo no ranking e outros descendo. No dia 12 de fevereiro, apresentamos aqui no #Colabora o gráfico abaixo (à esquerda) no Diário da Covid-19, intitulado “Na contramão da queda global, mortes sobem no Brasil”, quando o Brasil estava na 22ª posição do ranking. Mas, como vimos no gráfico anterior (reproduzido abaixo no painel da direita), o Brasil deu um enorme salto para a 5ª posição global no dia 06/08, sendo o país que apresentou a maior alta no ranking do coeficiente de mortalidade. A Bélgica que estava em primeiro lugar em fevereiro caiu para o 11º lugar, enquanto o Peru que estava em 14º lugar, passou para a liderança geral. Os EUA que estavam em 7º lugar caíram para o 19º lugar. A Argentina que estava em 23º lugar deu um salto para a 9º posição.

O Uruguai que tinha um coeficiente de 151 óbitos por milhão em 12/02 – abaixo da média mundial (307 óbitos por milhão) – também avançou diversos degraus para cima chegando à 22ª posição, com 1.723 óbitos por milhão. O Camboja, que não tinha registrado nenhuma morte até fevereiro, anotou 1.537 mortes nos últimos 6 meses e atingiu o coeficiente de 91 óbitos por milhão de habitantes. Taiwan e Vietnã que eram dois países com coeficientes de mortalidade abaixo de 1 óbito por milhão de habitantes, tiveram um aumento no número de óbitos e atingiram, respectivamente, coeficientes de 33 e 31 óbitos por milhão. A Nova Zelândia e a China mantiveram os mesmos coeficientes e são os países com os menores valores relativos de mortalidade dos países selecionados no gráfico.

A difusão da variante delta e o aumento dos casos da covid-19 nos continentes

O número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, que vinha caindo no mundo e em todos os continentes nos meses de maio e junho de 2021, voltou a subir em julho e agosto (com exceção da América do Sul). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a responsável pelo aumento do número de casos da doença é variante delta do SARS-CoV-2, que é mais transmissível que a cepa original da covid-19 e já foi identificada em 132 países desde a descoberta na Índia.

O gráfico abaixo mostra que, no dia 20 de junho, o número médio de infectados no mundo estava em 360 mil casos (46 casos por milhão), sendo que a América do Sul tinha o registro mais elevado de novas infecções, com 140 mil casos (325 casos por milhão), a Ásia com 134 mil casos (29 casos por milhão), a Europa com 40 mil casos (53 casos por milhão), a América do Norte com 24 mil casos (40 casos por milhão), a África com 23 mil casos (17 casos por milhão) e a Oceania com 172 casos (4 casos por milhão).

Mas, no dia 06 de agosto, os números subiram em todos os continentes, menos na América do Sul que apresentou média de 58 mil casos (134 casos por milhão). O número médio de infectados no mundo passou para 626 mil casos (80 casos por milhão), a Ásia passou para 265 mil casos (57 casos por milhão), a Europa para 58 mil casos (161 casos por milhão), a América do Norte para  mil casos (239 casos por milhão), a África com 23 mil casos (29 casos por milhão) e a Oceania com 172 casos (30 casos por milhão).

Na América do Norte o número de casos subiu muito nos EUA e no México. Na Ásia os países com maiores aumentos são Indonésia, Malásia, Tailândia, Bangladesh e Irã. Até países como Vietnã e Camboja tiveram surtos da covid-19, mesmo que em menor proporção. Na Oceania a Austrália enfrenta uma 3ª onda, também em menor proporção. Na África os países mais afetados são África do Sul, Marrocos, Tunísia, Líbia, Quênia e Moçambique.

No Brasil, o número médio diário de pessoas infectadas estava acima de 75 mil casos e o número de mortes acima de 3 mil óbitos no final de março de 2021. Felizmente, estes números caíram para pouco acima de 33 mil casos e pouco mais de 900 óbitos na primeira semana de agosto. Todavia, não está descartado um novo surto pandêmico em território brasileiro. Por exemplo, o Estado do Rio tem apresentado tendência de alta das infecções e bateu o recorde de 12,4 mil casos somente no dia 07 de agosto. Diante da possibilidade da transmissão comunitária em larga escala da variante delta, as autoridades de saúde precisam planejar uma resposta o mais rápido possível. Neste sentido, vale a pena levar em consideração o alerta do Boletim Observatório Covid-19, da Fiocruz (18 a 31 de julho de 2021):

“O elevado patamar de risco de transmissão do vírus Sars-CoV-2 pode ser agravado pela maior transmissibilidade da variante Delta, em paralelo ao lento avanço da imunização entre os grupos mais jovens e mais expostos, combinado com maior circulação de pessoas pelo retorno das atividades de trabalho e educação. Nesse sentido, é importante refutar a ideia de que a vacinação protege integralmente as pessoas de serem infectadas e transmitir o vírus, o que pode se tornar um risco adicional com a nova variante de preocupação Delta. Neste cenário, destacamos em texto ao final deste boletim que a pandemia não acabou, sendo necessário combinar vacinação com uso de máscara, reforçando tanto a necessidade de ampliar a acelerar a vacinação, como também recomendações e sugestões sobre a manutenção das medidas como o uso de máscaras e de distanciamento físico e social, em especial para os grupos com maior exposição e vulnerabilidade”.

Meninas do vôlei comemoram a medalha de prata em Tóquio. Nesta Olimpíada, 43% das medalhas do Brasil foram conquistadas por mulheres. Foto Yuri Cortez/AFP. Agosto/2021
Meninas do vôlei comemoram a medalha de prata em Tóquio. Nesta Olimpíada, 43% das medalhas do Brasil foram conquistadas por mulheres. Foto Yuri Cortez/AFP. Agosto/2021

A Olimpíada de Tóquio e a participação feminina brasileira nos Jogos Olímpicos

Os Jogos de Tóquio planejados para 2020 tiveram de ser adiados para 2021 em função da covid-19 e, mesmo assim, foram realizados sem público e com estritas normas de segurança e fortes ações preventivas. Comparado com o Brasil, os números japoneses da pandemia são bem menores. No dia 06 de agosto o coeficiente acumulado de incidência do Brasil foi de 95 mil casos por milhão, contra “apenas” 7,9 mil casos por milhão do Japão.  O coeficiente acumulado de mortalidade do Brasil foi de 2,6 mil óbitos por milhão, contra 121 óbitos por milhão do Japão.

A média móvel diária semanal, no Japão, tinha atingido no máximo 6 mil casos nos picos anteriores e alcançou o dobro – cerca de 12 mil casos – durante as Olimpíadas. Mas a média móvel diária semanal de mortes que tinha ultrapassado 100 óbitos nos picos anteriores ficou abaixo de 20 óbitos durante a pandemia. Desta forma, as avaliações iniciais indicam que o Japão passou no teste de realizar um megaevento com custos relativamente baixos de morbimortalidade.

No Diário da Covid-19: A Olimpíada do vírus e os cenários para o fim da pandemia, aqui no #Colabora (Alves, 25/07/2021), mostramos que as Olimpíadas de Tóquio foram as mais femininas da história, pois, além de ter registrado, praticamente, paridade de gênero no conjunto dos atletas das diversas nacionalidades, também mobilizaram diversos símbolos de apoio à equidade de gênero.

No caso brasileiro a luta pelo equilíbrio de gênero foi longa. A primeira participação feminina aconteceu há cerca de 90 anos, quando a nadadora Maria Lenk participou das Olimpíadas de Los Angeles, em 1932. Por coincidência, o mesmo ano em que as mulheres brasileiras conquistaram o direito de voto.

O percentual de mulheres nas delegações brasileiras ficou abaixo de 30% até as Olimpíadas de Barcelona (1992) e Atlanta (1996), conforme mostra a tabela abaixo. Mas a partir de Sidney (2000) o percentual ficou acima de 45%, sendo que em Atenas (2004) o percentual quase chegou a 50%. Nas Olimpíadas de Tóquio o percentual feminino ficou pouco acima de 46%.

Mesmo com maior presença nas delegações, as mulheres brasileiras nunca tinham subido ao pódio olímpico até os Jogos de Barcelona (1992). Foi somente em 1996 que as primeiras medalhas foram conquistadas. As mulheres obtiveram 4 medalhas em Atlanta (1 de ouro, 2 de prata e 1 de bronze), todas em modalidades coletivas: duas no vôlei de praia, com Jacqueline Silva e Sandra Pires, Adriana Samuel e Mônica Rodrigues, uma no vôlei de quadra e mais uma no basquete. Em termos percentuais, as mulheres brasileiras obtiveram 33% das medalhas de ouro, 67% das medalhas de prata, 11% das medalhas de bronze e 27% do total, conforme mostra a tabela abaixo.

Nas Olimpíadas de Sydney, as mulheres brasileiras tiveram 33% das medalhas, mas nenhuma de ouro. Em Atenas (2004) o desempenho foi ainda pior. Mas em Pequim (2008) e em Londres (2012) as mulheres brasileiras tiveram o melhor desempenho relativo, atingindo cerca de 40% das medalhas totais, mas, principalmente, conquistando mais medalhas de ouro do que os homens brasileiros (foram 2 ouros femininos e 1 ouro masculino).

Nos Jogos do Rio de Janeiro (2016), o Brasil teve o melhor desempenho geral até então, conquistando 19 medalhas e ficando no 13º lugar no quadro geral de medalhas. Mas o percentual de medalhas femininas diminuiu para 26% do total, sendo 2 medalhas de ouro (29%), 1 medalha de prata (17%) e 2 medalhas de bronze (33%).

Sem embargo, os Jogos de Tóquio foram especiais, pois o Brasil conseguiu ter um melhor desempenho no Japão do que no próprio território nacional. Poucas vezes na história olímpica um país conseguiu subir no quadro de medalhas na Olimpíada posterior àquela ocorrida na nação sede do evento. O Brasil de 2021 conseguiu 21 medalhas (repetindo as 7 de ouro) e conquistou o 12º lugar, superando as 19 medalhas e o 13º lugar de 2016.

A quantidade absoluta e relativa de medalhas obtidas pelas mulheres brasileiras bateu todos os recordes anteriores. No conjunto, foram 9 medalhas femininas em um total de 21 medalhas (43% para as mulheres). Nas medalhas de ouro, o Brasil repetiu o número alcançado na Olimpíada do Rio (7 medalhas), mas as mulheres brasileiras chegaram ao recorde de 3 medalhas douradas (43%). Nas medalhas de prata, a mulheres conquistaram 4 das 6 premiações (67%). Nas medalhas de bronze foram 8 para o Brasil, sendo 6 masculinas e 2 femininas (25%).

A equidade de gênero nos esportes é fundamental para avançar na inclusão das mulheres em todos os aspectos da vida social. Para que o Brasil e o mundo se tornem lugares mais justos e prósperos é preciso romper com as desigualdades entre homens e mulheres em todos os campos de atividade, garantido a igualdade de direito e de oportunidades para todos os cidadãos e cidadãs de todas as comunidades em nível local, nacional e internacional. A equidade de gênero é boa para as mulheres e para os homens e é essencial para a construção de um mundo melhor, mais saudável e feliz.

Frase do dia 08 de agosto de 2021

“Quem cala morre contigo

Mais morto que estás agora

Relógio no chão da praça

Batendo, avisando a hora”

Menino (Milton Nascimento / Ronaldo Bastos)

Interpretação Elis Regina

Referências

ALVES, JED. Diário da Covid-19: Na contramão da queda global, mortes sobem no Brasil, #Colabora, 14/02/2021

ALVES, JED. Diário da Covid-19: A Olimpíada do vírus e os cenários para o fim da pandemia, #Colabora, 25/07/2021

FIOCRUZ, Boletim Observatório Covid-19, semanas epidemiológicas 29 e 30, de 18 a 31 de julho  de 2021

 

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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