ODS 1
Leilão para ajudar a manter santuário e resgatar elefantes
Artistas doam quadros para ajudar ONG a cuidar de quatro elefantas e trazer animais que vivem em condições precárias para área em Mato Grosso
Em plena pandemia, com as fronteiras da Argentina fechadas e o Brasil como um dos epicentros da covid-19, Mara saiu de Buenos Aires, viajou 2,7 mil quilômetros por via terrestre até chegar ao seu destino, na Chapada dos Guimarães, no Pantanal Matogrossense. A pandemia não foi problema para Mara: uma elefanta com cerca de 50 anos e quase seis toneladas de peso. Mas criou novos desafios para a já complicada logística de transporte de um animal deste porte. O Santuário de Elefantes Brasil (SEB), nova moradia de Mara, está acostumado a essas dificuldades: o resgate dos mamíferos, por seu peso e tamanho, exige cuidados logísticos especiais e custa caro. Por isso, neste dia 12 de agosto, Dia Mundial dos Elefantes, o santuário está concluindo o leilão de 20 obras de artistas ajudar a financiar a manutenção do lugar, hoje com quatro elefantas, e novos resgates de animais.
O Santuário de Elefantes Brasil foi criado exatamente para abrigar esses grandes mamíferos que são exploradas em circos e vivem em condições precárias. Há quase um ano, Claudio Garcez contou aqui no #Colabora a saga de Ramba, elefanta resgatada de um circo em 2012, que vivia em zoológico em Rancágua, cidade chilena ao sul de Santiago, onde sofria com as baixas temperaturas. A equipe do SEB levantou R$ 250 mil através de uma vaquinha pela internet para transportar Ramba do Chile para Mato Grosso. Ela viajou de avião até a capital chilena e foi embarcada em um avião de carga, que a deixou em Viracopos; de lá, outro caminhão levou a elefanta, sempre em uma caixa transportadora especial, construída pelo SEB no Brasil e enviada a Rancágua. A viagem foi bem sucedida, mas Ramba, com mais de 50 anos (os elefantes vivem 70 em média) e problemas renais e hepáticos causados pelos maus tratos e má alimentação nos tempos de cativeiro no circo, morreu em 26 de dezembro.
Além de Mara, a mais recente moradora, mais três elefantas – Maia, Rana e Lady – vivem hoje no Santuário dos Elefantes Brasil, iniciativa em parceria da Elephants Voices (Vozes dos Elefantes, ONG internacional em defesa desses animais) com o americano Scott Blais, fundador do Santuário Global para Elefantes, associação criada para resgatar elefantes no mundo inteiro. Com a propriedade adquirida em Mato Grosso, Blais e sua mulher, a veterinária Katherine, mudaram-se para o Brasil com o objetivo de preparar o lugar para receber os animais. “Os elefantes precisam de cuidados especiais, de espaço e da companhia de outros elefantes”, disse Blais na chegada de Mara.
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Veja o que já enviamosEm meados de 2016, eles conseguiram a licença da Secretaria do Estado do Meio Ambiente; em outubro, Maia e Guida desembarcaram no santuário, uma área verde de 1100 hectares, equivalente a cerca de 1700 campos de futebol, onde vivem Eram duas elefantas asiáticas, que chegaram no Brasil ainda filhotes e, durante quase três década, foram atrações de circo na Bahia. Resgatadas pelo Ibama em 2010, foram levadas para uma fazenda em Minas, de onde foram para Mato Grosso. Quando Guida morreu em julho de 2019, mas Maia não ficou só: desde dezembro de 2018, elas tinham também a companhia de Rana, elefanta que chegou de Sergipe. Ela vivia em um pequeno zoológico de um hotel-fazenda nos arredores de Aracaju desde 2012, depois de viver em cativeiro, a serviço de um circo desde a infância – sua idade aproximada também é de 50 anos. Em novembro de 2019, a elefanta Lady chegou após uma viagem de cinco horas desde João Pessoa com história semelhante: quase 40 anos em exibição em circos antes de ser levada para um zoológico na capital paraibana em 2013.
De acordo com os responsáveis pelo lugar, a manutenção de cada elefante custa cerca de R$ 60 mil mensais: a instituição é financiada por doações de pessoas físicas e parceiros internacionais, além da venda de souvenirs. O santuário ocupa uma área de 1100 hectares mas apenas os elefantes ficam numa área verde e cercada de 30 hectares – o equivalente a 35 campos de futebol – para que, ao mesmo tempo, possam ser cuidados e não tenham acesso a pessoas de fora. “O Santuário de Elefantes é uma organização que precisa sempre de ajuda, de muita ajuda. Cada centavo doado arrecadado durante esse evento será revertido aos cuidados diários dos elefantes, aos nossos projetos de infraestrutura e manutenção, assim como ao resgate de novos elefantes.”, escreveu Kat Blais nas redes sociais ao divulgar o leilão.
O primeiro leilão de arte para Santuário de Elefantes Brasil reúne obras de 20 artistas, criadas e doadas exclusivamente para a ocasião. Alguns são de Mato Grosso, mas a doação veio de artistas de outros estados como Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Pernambuco. O tema é “I am an elephant again” – em tradução livre, “Eu sou um elefante novamente”. O evento de encerramento do leilão será apresentado virtualmente pelos atores Camila Queiroz e Klebber Toledo – a partir das 19h deste Dia Mundial do Elefante (12/8) – que vão anunciar os lances vencedores pelas obras. “Além de arrecadar fundos para o santuário, o leilão tem como objetivo de conscientizar as pessoas sobre os impactos negativos do cativeiro na vida dos elefantes”, informaram os organizadores em nota.
O SEB tem licença da Sema para acolher até seis animais, mas recentemente os responsáveis solicitaram licença para abrigar até 10 elefantes. Os dirigentes do santuário estão tentando levantar fundos para trazer mais quatro elefantes de um zoológico em Mendoza, Argentina, que já concordou em transferir os animais que vivem em precárias condições. Há uma elefante africana, Kenya, e três elefantes asiáticos: o macho, Tamy, a fêmea Pocha e a filha deles, Guillermina, nascida em cativeiro há 22 anos. “A participação de todos, através dos lances no leilão, ou através de sua doação, pequena ou grande, terá um imenso impacto na vida dos elefantes que ainda aguardam por uma nova chance”, escreveu a veterinária Kat Blais.
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade