Patagonia, um caso grave de coerência explícita

O fundador da Patagonia, Yvon Chouinard, fala sobre entretenimento e publicidade e um evento em Nova York. Foto Ben Gabbe/Getty Images via AFP (Abril/2019)

Dono de marca de roupas esportivas doa companhia de US$ 3 bilhões para ONGs que combatem a crise climática

Por Agostinho Vieira | ArtigoODS 12 • Publicada em 27 de setembro de 2022 - 10:50 • Atualizada em 30 de janeiro de 2024 - 14:52

O fundador da Patagonia, Yvon Chouinard, fala sobre entretenimento e publicidade e um evento em Nova York. Foto Ben Gabbe/Getty Images via AFP (Abril/2019)

Vinte e cinco de novembro de 2011, em pleno Black Friday, dia de maior venda do comércio, a Patagonia, uma das mais famosas marcas de roupas esportivas do planeta, decide publicar um anúncio de página inteira no jornal The New York Times. Até aí, nada demais. Certo? Na foto que ilustrava a publicidade, uma jaqueta azul, um dos produtos mais cobiçados e vendidos da companhia – custa uns US$ 150 -, acompanhada de uma inusitada mensagem: “Não compre esta jaqueta”. Se este fosse um post do Instagram teria uma carinha de espanto. Mais uma jogada inteligente de marketing ou um compromisso honesto com o consumidor? Talvez as duas coisas.

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Embaixo da foto e da frase, mensagens que resumiam um pouco a história da Patagonia, uma empresa que mais de 50 anos: “Reduzir: Não compre o que não precisa”, “Reparar: Nós te ajudamos a consertar seu equipamento”, “Reuso: Nós ajudamos a encontrar um lar para os produtos da Patagônia que você não precisa mais”, “Reciclar: Recuperamos o seu equipamento usado”, “Reimaginar: Juntos reimaginamos um mundo onde levamos apenas o que a natureza pode substituir”.

"Não compre esta jaqueta". Anúncio da Patagonia no Black Friday de 2011. Reprodução
“Não compre esta jaqueta”. Anúncio da Patagonia no Black Friday de 2011. Reprodução

Há quinze dias, o alpinista, ambientalista e dono da Patagonia, Yvon Chouinard, decidiu dar mais uma demonstração de coerência explícita. Junto com a esposa e os filhos, ele doou todo capital da empresa, avaliada em US$ 3 bilhões, para Organizações Não Governamentais (ONGs) que atuam no combate à mudança climática, a maior delas é a Holdfast Collective, que ficará, a partir de agora, com todo o lucro da companhia (algo em torno de US$ 100 milhões por ano.

“Esperamos que isso influencie uma nova forma de capitalismo que não acabe com algumas pessoas ricas e um monte de pessoas pobres”, disse Chouinard em entrevista ao The New York Times. E continuou: “Vamos doar o máximo de dinheiro para as pessoas que estão trabalhando ativamente para salvar este planeta.”

O comunicado oficial que informava sobre a doação recebeu o seguinte título: “A Terra é o nosso único shareholder”. Praticamente desde o seu lançamento, no início dos anos 70, a Patagonia vem apoiando movimentos em favor de uma moda mais consciente, abdicando de matérias-primas poluentes e contrariando a lógica consumista de substituição rápida de peças. Ao abrir mão da companhia, Chouinard engrossa o coro dos bilionários que se dispõem a renunciar de suas fortunas, ou de parte delas, em favor de um mundo mais justo e sustentável. Nesse grupo já estão nomes como Bill Gates, fundador da Microsoft, Warren Buffet e mais recentemente, David Vélez, fundador do Nubank. Um legado de coerência que deveria ser copiado.

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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