Limpeza na Comlurb

Lixo retirado do Rio Maracanã, no último dia 15, na esquina da Avenida Maracanã com a Rua Uruguai, na Tijuca. Foto Marcos de Paula /Agência O Globo

Todos os 80 nomes indicados por Rubens Teixeira na empresa são exonerados e secretário da Casa Civil promete valorizar funcionários “da casa”

Por Emanuel Alencar | ODS 11ODS 6 • Publicada em 28 de fevereiro de 2018 - 20:34 • Atualizada em 5 de junho de 2019 - 03:10

Lixo retirado do Rio Maracanã, no último dia 15, na esquina da Avenida Maracanã com a Rua Uruguai, na Tijuca. Foto Marcos de Paula /Agência O Globo
Lixo retirado do Rio Maracanã, no último dia 15, na esquina da Avenida Maracanã com a Rua Uruguai, na Tijuca. Foto Marcos de Paula /Agência O Globo
Lixo retirado do Rio Maracanã, no último dia 15, na esquina da Avenida Maracanã com a Rua Uruguai, na Tijuca. Foto Marcos de Paula /Agência O Globo

Durante a campanha à prefeitura, em 2016, o então candidato Marcelo Crivella (PRB) citou a música “Cartomante”, de João Bosco, ao criticar as prisões de lideranças do partido de seu adversário Pedro Paulo: “Cai o rei de espadas/ cai o rei de ouro/ cai o rei de paus, cai, não fica nada”, numa referência às condenações de Sérgio Cabral e Eduardo Cunha, ambos do PMDB. O gracejo poderia ser repetido pelo agora Crivella prefeito neste 28 de fevereiro para designar a limpeza que ocorreu na Comlurb. Todas as 80 pessoas indicadas a cargos – muitos dos quais operacionais – pelo ex-presidente da companhia Rubens Teixeira foram demitidas. Conforme o #Colabora mostrou em reportagem do dia 27, Teixeira, que é engenheiro e pastor evangélico e atualmente ocupa o posto de secretário municipal de Transportes, causou mal-estar na Comlurb ao indicar pessoas sem nenhum histórico de gestão a cargos importantes.

A gente já queria trazer de volta a postos de comando alguns funcionários de carreira. Depois das chuvas, comecei a ligar para o presidente da Comlurb pouco depois da meia noite, mas só às 3 da manhã as equipes foram para as ruas. Então foi a gota d’água. Escolhemos o Tarquínio Prisco, considerado uma pessoa isenta e bastante respeitada por todos

Com 267 dispensas e nomeações publicadas no Diário Oficial desta quarta-feira, o secretário da Casa Civil da prefeitura, Paulo Messina, promove alterações que abrangem todas as diretorias da empresa que passa por crise sem precedentes – o déficit em 2018 chega a R$ 305 milhões e a dívida com fornecedores ultrapassa os R$ 100 milhões. A principal credora é a Ciclus, que opera o aterro sanitário de Seropédica, para onde vai todo o lixo da capital: a dívida chega a R$ 61 milhões.

As mudanças impõem um “começar de novo” à empresa, diz uma fonte. Muitos ex-diretores e coordenadores com muitos anos de casa retornam a seus postos. Quatro gerências da Zona Oeste (Campo Grande, Bangu, Senador Vasconcelos e Santa Cruz) voltam a ser ocupadas por funcionários de carreira. Um dos demitidos é Rogério dos Santos Barreto, da gerência de Bangu. Ele havia sido ajudante parlamentar júnior de Crivella no Senado. Amaury Nicolau da Silva Filho, que aparece na internet como sócio da Igreja Batista do Largo do Aarão, em Santa Cruz, também foi demitido do cargo do comando da gerência do mesmo bairro.

Lixo acumulado na praia do Catalão, próximo ao Parque Tecnológico do Fundão. Foto de Custódio Coimbra
Lixo acumulado na praia do Catalão, próximo ao Parque Tecnológico do Fundão. Foto de Custódio Coimbra

Lenílson de Oliveira Vargas, nomeado por Rubens Teixeira e demitido da Transpetro por justa causa, em janeiro, deixa oficialmente o cargo de assessor especial da presidência da empresa de limpeza pública. Ele é acusado de assinar contrato fraudulento na subsidiária da Petrobras.

– A reconstrução será lenta e difícil. Mas a disposição é grande, vamos conseguir realizar alguns sonhos. A falta de dinheiro é imensa, estamos numa penúria danada e devendo muito aos contratados – diz um funcionário de carreira, com mais de duas décadas de Comlurb.

As trocas foram conduzidas pelo novo presidente da empresa, Tarquínio Prisco de Almeida, que assumiu no dia 21. Ele é o quarto nome a ocupar o posto maior da empresa na gestão de Crivella. O troca-troca é inédito na história de 43 anos da companhia. Tarquínio é funcionário de carreira e ganhou carta branca da Casa Civil municipal para cortar todos os nomes não-técnicos da empresa de 19.500 funcionários.

Funcionários de carreira ganham destaque

O secretário da Casa Civil da prefeitura, Paulo Messina, diz que o objetivo com as mudanças é promover um “novo ciclo” na empresa. Ele reafirmou que a gota d’água para a mais recente troca de comando foi a demora na ação da empresa depois do temporal do dia 15 de fevereiro. Eduardo Oliveira, braço-direito de Rubens Teixeira, teria demorado mais de três horas para botar as equipes nas ruas para retirar árvores caídas.

– A gente já queria trazer de volta a postos de comando alguns funcionários de carreira. Depois das chuvas, comecei a ligar para o presidente da Comlurb pouco depois da meia noite, mas só às 3 da manhã as equipes foram para as ruas. Então foi a gota d’água. Escolhemos o Tarquínio Prisco, considerado uma pessoa isenta e bastante respeitada por todos – diz Messina.

Segundo o secretário, a nova gestão da Comlurb dará prioridade na renegociação com as empresas credoras. Um aporte emergencial de R$ 14 milhões será feito nas empresas Ciclus, Colares Linhares, CS Brasil e TRD para evitar, por exemplo, que o aterro de Seropédica possa adotar uma medida extrema, como a recusa de receber as 10 mil toneladas de resíduos coletadas diariamente nos domicílios e ruas da cidade. Uma possibilidade que geraria um caos sem precedentes.

Sobre o déficit de R$ 305 milhões da empresa, divulgado com exclusividade pelo #Colabora, Messina reconheceu que a crise na Comlurb “se agravou” em 2017, mas teve início em 2014, na gestão de Vinicius Roriz, no governo de Eduardo Paes. Segundo Messina, passou a haver “politização” que culminou com o aumento dado aos garis, que fizeram uma expressiva grave naquele ano e conseguiram reajustar seus vencimentos em 37%. O ex-prefeito não quis comentar.

Emanuel Alencar

Jornalista formado em 2006 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou nos jornais O Fluminense, O Dia e O Globo, no qual ficou por oito anos cobrindo temas ligados ao meio ambiente. Editor de Conteúdo do Museu do Amanhã. Tem pós-graduação em Gestão Ambiental e cursa mestra em Engenharia Ambiental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Apaixonado pela profissão, acredita que sempre haverá gente interessada em ouvir boas histórias.

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