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Veja o que já enviamosQuando um jornalista erra
Era fake news mas também servia como denúncia do tratamento sensacionalista dado por programas de TV a territórios favelados
Na imagem, rapazes armados. Mas, dessa vez, não de revólveres ou fuzis; e, sim, de vassouras, canos, pentes de cabelo e até secador. Narrando, Tino Jr, apresentador do ‘Balanço Geral’, da Record TV, conhecido por fazer, em muitos momentos, comentários sobre segurança pública e as ações das polícias enquanto relata os acontecimentos. Era ele vendo aquelas cenas e perpetuando, de algum modo, narrativas que criminalizam a vida de territórios favelados.
A logo era a mesma do canal, tudo estava tal e qual como o feito diariamente na TV, com o telão do estúdio mostrando as cenas. Era assim o vídeo no link que recebi, dentro de um grupo que confio, a partir de uma pessoa de quem jamais duvidaria da idoneidade. Meu sentimento? Publicar, porque, naquele momento, algo se invertia: era um ‘’troll’’ de moradores de favela em resposta ao ataque diário sobre suas vidas. Era a revanche que precisava. Se um filho teu não foge à luta, era o então cria da favela (eu), tendo a chance de também me sentir representado.
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Só que, passada uma hora da minha postagem, uma mensagem: ‘’é mentira, Edu’’, um amigo alertava. Pane total. Desconfigurada estava minha felicidade e a vontade de ganhar, em algum lugar, sobre o tema. As cenas dos rapazes, atores da Cidade de Deus, eram verdade. Mas, em nenhum momento, havia sido noticiada no programa, com a trilha da narração de Tino.
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Veja o que já enviamosNo afã de comemorar, cometi um erro crasso. Me deixei levar pela emoção e, pimba, caí numa mentira, que, no português, também é ‘fake news’. A dor amarga e vaidosa de quando um jornalista erra desceu redondo na garganta.
Ao mesmo tempo, como não levar em consideração o fato de que, se fosse verdade, seria um bonito exemplo de como podemos ressignificar imagens e falas, sobretudo a um local sofridamente violentado? Seria um verdadeiro banho dado à imprensa sensacionalista que só fica de pé, em relação a estes conteúdos, pois rende, gera notícia, dá clique. E também dá morte em chacinas, reitera preconceitos, subalterniza pessoas.
Quem se contrapõe a essas narrativas são os meios comunitários, que na luta de fazerem, sendo, disputam espaço e ajudam a desmistificar muito daquilo que se vê na tela da TV, no meio desse povo. ‘’É sobre contar as histórias, que são as histórias verdadeiras que estão dentro dessas comunidades, dessas favelas, desses territórios’’, comenta Lilian Saback, jornalista e professora do Departamento de Comunicação PUC-Rio, e uma das vozes que há anos levanta a bandeira da comunicação comunitária
Para Lilian, quando não há uma disputa, ‘’o que vai chegar para o grande imaginário da sociedade vai ser o que a grande mídia vai estar contando, que vai ser exatamente o reflexo que essas operações estão fazendo dentro das favelas, dentro dos territórios’’.
Talvez seja uma oportunidade, mais uma vez, de questionar o papel do veículo em levar uma cobertura assim. Na real, foi uma oportunidade: o fiz. Enviei perguntas à emissora sobre a linha editorial e o método de abordagem – essa, que me fez acreditar que estavam sendo ‘zoados’, quando, na verdade, era mesmo um pedido de respeito. Não houve resposta do canal.
Fica pra mim a lição sobre mentira e fake news. Mas a maneira como o território é violentado todos os dias, isso, infelizmente, não deixará de existir tão breve.
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