Pandemia acelerou tendências que já vinham surgindo no setor de alimentos

Para especialistas, mudanças nas dietas e conscientização são fundamentais para estimular uma produção mais sustentável

Por Fernanda Baldioti | ODS 12 • Publicada em 10 de junho de 2020 - 21:45 • Atualizada em 17 de junho de 2020 - 11:59

Para especialistas, estimular esse consumo consciente é uma responsabilidade dos governos e também das empresas (Foto: NordWood Themes / Unsplash)

Do campo ao garfo, a pandemia causou impacto e acelerou tendências que já vinham surgindo no setor de alimentos. Em webinar promovido pelo  Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) nesta quarta-feira (10), especialistas do setor apontaram os muitos desafios do segmento rumo a uma produção mais consciente e sustentável. “O mundo não precisa produzir mais alimentos, precisa produzir melhor”, ressaltou a diretora do Instituto Comida do Amanhã, Juliana Medrado Tangari, lembrando que, para isso, não bastam apenas a adoção de práticas agroecológicas ou o incentivo à agricultura familiar.

A verdadeira mudança, defende ela, passa pela demanda, o que implica alterações na nossa dieta. “Diversidade no prato é biodiversidade na natureza. Precisamos deixar de lado os modismos alimentares. Não adianta todo mundo querer comer um item que ficou famoso porque tem X, Y, Z nutrientes”, disse Juliana no encontro virtual, que faz parte da série de debates (Re)visão 2050 – planejando o futuro pós-pandemia.

Estimular esse consumo consciente é uma responsabilidade dos governos e também das empresas. Diretor de Sustentabilidade do Carrefour Brasil, Lucio Vicente acredita que há uma oportunidade de unir o consumidor ao campo por meio de narrativas que conduzam as pessoas a uma consciência participativa: “Sustentabilidade não se faz individualmente. Temos que provocar as pessoas e reinventar as formas como nos comunicamos. Como conseguimos ser mais didáticos e envolver o maior número de pessoas?”.

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A transparência no processo é uma das chaves, segundo Juliana, que aponta a rastreabilidade como uma das tendências que deve crescer cada vez mais nos próximos anos: “Se eu não consigo encurtar a cadeia e consumir diretamente do produtor, eu quero saber o que aconteceu em todos os elos de produção e distribuição. Eu estou comendo uma fruta linda e maravilhosa, mas houve um trabalho justo ali?”.

O webinar sobre alimentos, parte da série de debates sobre o país pós-covid-19 (Reprodução)

Além da revisão nas práticas produtivas e na qualidade das dietas, os especialistas destacaram ainda a urgência da redução no desperdício ao longo da cadeia. A líder global de Relacionamento com a Cadeia de Alimentos e Nutrição para América Latina da Bayer, Cristiane Lourenço, ressaltou que não adianta haver uma eficiência na produção se cerca de 30% do que é produzido globalmente, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), é desperdiçado. “No Brasil, quase 37 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente”, lembrou a presidente do CEBDS, Marina Grossi.

A pandemia evidenciou também essa necessidade de uma maior racionalidade no uso dos recursos. “Temos 20 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, e um desperdício fora do comum. As empresas têm aprimorado seus processos para mitigar as perdas desde a produção até o consumo final. Mas precisamos garantir que, caso haja excedente, que ele seja encaminhado a um projeto social em vez de ir parar nos aterros ou lixões, causando um impacto ambiental enorme”, defendeu Ana Cristina Corrêa Guedes Barros, gerente de Assistência do Departamento Nacional do Sesc.

Segundo Cristiane, a união e colaboração multissetorial entre agronegócio, nutrição e varejo é fundamental para o avanço nessas agendas. “Grande parte do que as pessoas consomem, elas são levadas a consumir. O fator educação é o básico para aumentar a demanda pelo consumo de produtos sustentáveis. A gente tem o dever de educar, precisamos estabelecer essa responsabilidade”, completou Lucio.

Juliana é otimista: “Em 2050, visualizo um consumidor mais consciente, cada vez mais forte”. Cristiane faz coro. Para ela, em 2050, a humanidade vai produzir mais e melhor, impulsionada pela tecnologia e inovação. “Novas sementes, biotecnologia, produção de cultivos para eliminar desperdícios nas fazendas e também para preservar os recursos naturais, entre muitos outros”, exemplificou, destacando também a importância do desenvolvimento de políticas públicas que permitam dar escala a essas transformações.

A Webserie Visão 2050 é uma realização do Cebds, com patrocínio do Itaú, da Vale, apoio da ERM, da KPMG, da SITAWI e apoio de mídia do Colabora. Vamos acompanhar todos os debates, que pretendem apontar caminhos para a implementação de uma agenda positiva a longo prazo no país. Os webinars podem ser vistos pelo YouTube do CEBDS ou pelo Zoom, onde é possível se inscrever para os próximos encontros aqui.

– 24/6   Energia

– 08/7 Biodiversidade e Florestas

– 22/7 Economia Circular

– 05/8 Cidades

Assista ao encontro completo sobre alimentos no vídeo abaixo:

Fernanda Baldioti

Jornalista, com mestrado em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), trabalhou nos jornais O Globo e Extra e foi estagiária da rádio CBN. Há mais de dez anos trabalha com foco em internet. Foi editora-assistente do site da Revista Ela, d'O Globo, onde se especializou nas áreas de moda, beleza, gastronomia, decoração e comportamento. Também atuou em outras editorias do jornal cobrindo política, economia, esportes e cidade.

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