ODS 1
Contra a corrupção, educação
Inspiração para a Lava Jato, Operação Mãos Limpas foi seguida por aulas de legalidade nas escolas italianas
A Operação Lava Jato reafirmou como a política brasileira se virava com o “jeitinho” da corrupção. Mas além de denunciar e prender os corruptos, a investigação pode ser um alerta para a cultura da ilegalidade e da prevaricação no país. Não somente políticos pecam pela falta de civilidade. Assim foi na Itália, com a Operação Mãos Limpas, que mobilizou o país contra a corrupção em 1992 e é a fonte de inspiração de Sérgio Moro. No cotidiano, o cidadão italiano nem sempre tem as mãos limpas. Por isso o Ministério da Educação italiano instituiu desde 1993 que nas escolas, ao lado das matérias convencionais, era preciso ensinar às crianças também Educação à legalidade e à cidadania.
[g1_quote author_name=”Pasquale Cibbodo” author_description=”Pai de duas crianças” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Para um italiano não tem nada pior do que ser passado para trás, então aprendemos desde cedo a tirar proveito e assim não nos sentimos prejudicados
[/g1_quote]Parece óbvio, mas não é. Todos os dias nos jornais italianos aparecem denúncias de um comerciante que engana vendendo apresuntado dizendo que é presunto, do funcionário público que entrega um atestado de doença e é visto tomando banho de mar nas Ilhas Canárias, do empresário que falsifica notas fiscais, do pecuarista que coloca água no leite… A pequena corrupção está por toda parte. As mães se orgulham de ensinar os filhos a furar a fila no parque de diversões. “Para um italiano não tem nada pior do que ser passado para trás, então aprendemos desde cedo a tirar proveito e assim não nos sentimos prejudicados”, conta o caminhoneiro Pasquale Cibbodo, 42 anos, que tem dois filhos na escola Fabrizio d’Andrè, em Cascina, cidade toscana premiada pelo Unicef no tema legalidade.
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Veja o que já enviamosAs aulas de Educação à legalidade e à cidadania são extracurriculares e seguem um calendário livre de acordo com cada cidade. A Associação contra a máfia “Libera” oferece em todo o país cursos, eventos, palestras e encontros para promover o aprendizado das regras de convivência e respeito às leis. Através de jogos, brincadeiras, competições, concursos e apresentações, estudantes recriam no ambiente escolar a vida em sociedade.
Nas escolas da cidade de Modena, na Emília Romanha, por exemplo, existem diversos percursos didáticos, como “justiça e direito”, “bullying e prevaricação”, “segurança e legalidade”. “É preciso oferecer uma consciência civil democrática e solidária com o objetivo de promover a prática da legalidade, aprender a respeitar os direitos do outro, ensinar a reconhecer direitos e deveres, regras e leis nos diferentes contextos urbanos e dentro das comunidades”, explica o professor Franco Venturella.
A aposta é mudar por meio da educação e da informação. Todos os anos são realizadas caravanas por todo o território italiano promovendo eventos contra a máfia e a corrupção, sobre direitos, segurança no trabalho e atualmente, diante do fenômeno da imigração, também contra o racismo. São organizados encontros com juízes, familiares de vítimas da máfia e do jogo, congressos, espetáculos e projeção de desenhos animados para as crianças.
[g1_quote author_name=”Asia Salvatore” author_description=”Estudante de 16 anos” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]A gente aprende que existe uma cultura do privilégio e da chantagem muito forte, que é a principal característica do crime no nosso país
[/g1_quote]Alunos do ensino médio de Pisa e Florença dedicam parte das férias de verão para trabalhar nos terrenos que pertenciam aos mafiosos e foram confiscados. Um deles é a Cooperativa Social “Lavoro e non solo” que envolve as cidades de Corleone, Monreale, Roccamena e Canicattì. Além de trabalhar a terra, os jovens fazem workshops e debates sobre educação à legalidade democrática. “A gente aprende que existe uma cultura do privilégio e da chantagem muito forte, que é a principal característica do crime no nosso país”, conta Asia Salvatore, 16 anos, aluna de uma escola de Florença que participou do campo de trabalho na Sicília em 2015.
“Existem diversos comportamentos que podem inspirar o cidadão a tomar decisões deixando de lado o individualismo, o consumismo, a tentação em tirar vantagem de tudo. Pertencer a um grupo estimula as trocas e o reconhecimento e respeito da opinião alheia”, afirma Maurizio Pascucci, da Associazione Fior di Corleone.
O professor da Universidade de Pisa Alberto Vannucci, um dos principais estudiosos da Operação Mãos Limpas e referência para o juiz Sérgio Moro, revela que após as investigações os corruptos ficaram mais sofisticados e foram criadas leis, durante o governo de Silvio Berlusconi, que dificultam a ação dos juízes. Sem reformas, como no caso de financiamento de campanhas e licitações, a corrupção tende a se aperfeiçoar.
Fato confirmado pelo ex-magistrado Antonio Di Pietro, um dos principais juízes da investigação italiana, que alerta que hoje a corrupção continua forte e não deve acabar enquanto houver conveniência da sociedade. Ele também defende a prevenção através da educação e maiores recursos de ação para a Justiça e a polícia. Assim como o ex-ministro da Suprema Corte italiana, Gherardo Colombo, que após condenar vários corruptos, abandonou a magistratura para se dedicar a dar aulas sobre a cultura da legalidade.
A matéria é muito boa e, no meu modo de ver, bem vinda! Como a questão da corrupção está diretamente relacionada à educação e aos valores, humanos e cívicos, cultuados pela sociedade, é da maior importância que se destaque que não haverá fim para este problema pela via do policiamento e da repressão. Ainda que estas práticas sejam essenciais e necessárias à manutenção da ordem que estabelece limites e garante as liberdades, serão sempre ineficazes e insuficientes, visto não ser possível garantir meios para vigiar e reprimir a cada um e a todos os cidadão. O fundamental e apontar para a educação como o meio capaz de fazer vigir em cada um o respeito a si próprio, aos semelhantes e a tudo que o cerca, um sentido de solidariedade e cooperação para com a sociedade em que está concernido.