Festas sustentáveis

Na hora de decorar, vale quase tudo. Garrafas cortadas, latas forradas e até lençóis que viram toalhas. Foto Divulgação

Empresa transforma aniversários e casamentos em oportunidades de preservação

Por Paula Autran e Reneé Rocha | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 13 de janeiro de 2017 - 14:48 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:41

Na hora de decorar, vale quase tudo. Garrafas cortadas, latas forradas e até lençóis que viram toalhas. Foto Divulgação
Na hora de decorar, vale quase tudo. Garrafas cortadas, latas forradas e até lençóis que viram toalhas. Foto Divulgação
Na hora de decorar, vale quase tudo. Garrafas cortadas, latas forradas e até lençóis que viram toalhas. Foto Divulgação

Está procurando um tema para a festa de seu filho? Que tal somar aos Minions, Princesas, Frozen e afins um pouco de sustentabilidade? Há um ano e meio, a “Escrevendo Histórias” organiza não apenas festinhas infantis, mas também aniversários de todas as idades, bodas e outros eventos. Os motes para cada um são praticamente personalizados, e tanto a decoração quanto o bufê são ecologicamente corretos. Mas nada é sem graça.

Uma amiga buscava uma festa com alimentação saudável. E encontrou um bufê assim para contratar. Mas a decoração era totalmente made in China. Não combinava. Não era compatível

“Na decoração, uso tinta à base de água, com legumes, como beterraba e espinafre. O copo em que sirvo as bebidas é feito de amido de milho e se desfaz em 180 dias na natureza (afinal, mesmo o copo de papelão tem uma película de plástico). O saco de lixo é confeccionado com o mesmo material. Já os pratos são 100% de papel. Mas claro que em festas como as de casamento, uso pratos de louça, e os copos são de vidro mesmo”, conta Ana Paula Cadena, de 44 anos, a produtora cultural e de eventos que teve a ideia de unir o útil ao agradável quando abriu seu negócio.

“Uma amiga buscava uma festa com alimentação saudável. E encontrou um bufê assim para contratar. Mas a decoração era totalmente made in China. Não combinava. Não era compatível”, lembra ela, que encontrou um nicho de mercado. “Foi quando comecei a oferecer esse trabalho. Na primeira festa, não tinha dinheiro para investir. Era um chá de bebê na Penha. Peguei um trem e fui ver o que encontrava por lá para usar. E achei um tesouro. Foi o “Arraiá da Vavá”: montei mesas com tampo de armário e usei vários objetos garimpados na casa da família da pequena Valentina”.

Galhos improvisados são prefeitos para ajudar na decoração. Foto divulgação
Galhos improvisados são prefeitos para ajudar na decoração. Foto divulgação

Ana Paula tem um ateliê em casa, no Grajaú. Então, cata de galhos a peças de demolição e vai transformando. “Corto garrafas em casa, forro latas e painéis, transformo lençol em toalha (depois de higieniza-lo na lavanderia, customizo com rendas, apliques e laços). Vou muito a brechós”, enumera, dando pistas de porque sua empresa ganhou o nome de “Escrevendo Festas”. “Era Escrevendo histórias. Afinal, faço visitas à família, coleto objetos do quarto do aniversariante que tenham a ver com a festa. Então, virou “Escrevendo histórias de festas”. E, depois, “Escrevendo Festas”. Não por acaso, sempre procuro colocar objetos como livros e uma máquina de escrever no ambiente”, explica, acrescentando: “Posso fazer um diferencial até quando a criança quer um tema mais comercial. E posso até usar uma peça de isopor que tenha sido descartada, e eu vou reciclar. Já fiz isso numa festa de Princesas. Mas nunca faço uma festa igual a outra”.

Ana Paula também usa potes de Danoninho, embalagens de shampoo, caixas de pizza e tampas de requeijão para compor a decoração, transformando-os em enfeites como os chamados filtros dos sonhos. E oferece lembrancinhas como sementes ou mudinhas de plantas em vasinhos decorados e cestinhas de frutas, para as crianças fazerem feirinha. “Fiz a festa da Vavá. Depois vieram um casamento na Chácara do céu, em Santa Teresa, e outro em um barco na Marina da Glória. Até aí, eu só decorava. Mas começaram a me pedir comida. Foi quando comecei a introduzir a alimentação saudável”, relembra ela, avisando que não é radical, nem vegetariana. “As pessoas acham que é comida de hospital, mas a alimentação saudável pode ser deliciosa. No cardápio, temos quiches (de agrião, queijo, alho porró, funghi), salpicão (que pode ser servido em sanduíches ou na conchinha de sorvete), espetinhos de ovos de codorna, bolo de chocolate sem glúten e sem lactose, hambúrguer de lentilha com ervilha, hambúrguer de shitake, “cachorro quente” (faço o molho bem gostoso e coloco uma fatia grossa de queijo de Minas para substituir a salsicha). Não trabalho com óleo, por exemplo, por causa do problema do descarte. Nem com carne vermelha”.

Festa sustentável não é só trabalhar com papel reciclado. A ideia é dar um novo significado para os objetos. Foto Divulgação
Festa sustentável não é só trabalhar com papel reciclado. A ideia é dar um novo significado para os objetos. Foto Divulgação

O casamento na Chácara do Céu foi da cantora Gláucia Almeida e da designer gráfica Bruna Ribeiro, no dia 27 de setembro do ano passado. Elas já haviam contratado um bufê mais saudável quando receberam a indicação de chamar a Escrevendo Festas para a decoração. “A Ana Paula tem uma peculiaridade. Festa sustentável para ela não é só trabalhar com papel reciclado. Aliás, ela não apenas recicla objetos, ela os ‘resignifica’. Para nosso casamento, foi várias vezes em nossa casa, de onde levou objetos e fotos para usar na decoração. Tinha fotos como as dos casamentos dos meus pais e dos pais da Bruna e coisas nossas, que tinham significado para a gente. Ela montou um altar num lugar mais reservado, aonde se chegava por um caminho de esteiras, e uma linda mesa”, conta Gláucia, acrescentando: “Afinal, o que é ser sustentável? A gente ainda produz muito lixo, mesmo sendo sustentável. Nós queríamos isso. A gente não queria muita intervenção, nem nada tradicional. Apenas confraternizar com pessoas importantes para nós”.

Já a auxiliar administrativa Viviane Bonfim Cruz fez duas festas sustentáveis. A primeira, em junho, foi a de 2 anos de seu filho João Gabriel. Depois, em agosto, foi a vez de comemorar os 4 anos do irmão dele, Luiz Pedro. “Na do João Gabriel, pedi só a decoração sustentável. O tema foi floresta, e tivemos, além da mesa decorada, um espaço montado para as crianças lerem e brincarem. Foi um sucesso não só entre as crianças, mas também entre os pais. Ai, na do Luiz Pedro, pedimos comida saudável também. Desta vez o tema foi dinossauros”, relembra ela.

Atualmente, Ana Paula trabalha com uma cozinheira, a Cida, e outra decoradora, Flávia, além de garçons e auxiliares de cozinha. “Tento atender até 100, 120 pessoas num evento. Acima de 150, contamos com um bufê parceiro”, diz. A maior parte das festas contratadas une decoração sustentável com alimentação saudável. Até porque, a pequena empresa lançou pacotes com preços promocionais. “Usando peças do meu acervo, uma festa para trinta pessoas sai por R$ 1.800, e uma para sessenta, por R$ 3.400”, anuncia ela. Quando a pessoa quer apenas a decoração, o preço não é dado por número de convidados. Um aniversário pode sair por R$ 1200, se as peças forem do acervo. Se não, R$ 1500.

Paula Autran e Reneé Rocha

Paula Autran e Reneé Rocha se completam. No trabalho e na vida. Juntos, têm umas quatro décadas de jornalismo. Ela, no texto, trabalhou no Globo por 17 anos, depois de passar por Jornal do Brasil, O Dia e Revista Veja, sempre cobrindo a cidade do Rio. Ele, nas imagens (paradas ou em movimento), há 20 anos bate ponto no Globo. O melhor desta parceria nasceu no mesmo dia que o #Colabora: 3 de novembro de 2015. Chama-se Pedro, e veio fazer par com a irmã, Maria.

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