‘Edutubers’: Os professores multiplataforma

Cada vez mais professores estão ultrapassando as salas de aula e chegando ao Youtube Edu, plataforma que agrega vídeos educacionais com qualidade garantida

Por Barbara Lopes | ODS 4 • Publicada em 7 de setembro de 2019 - 08:41 • Atualizada em 8 de setembro de 2019 - 01:11

‘Edutubers’ no Educon 2019, encontro anual de professores produtores de conteúdo (Foto: Barbara Lopes)

Se você ainda acha que o Youtube se resume a humor, música, atrações infantis e outros entretenimentos, está na hora de conhecer o Youtube Edu, uma plataforma de vídeos educacionais onde o youtuber cede lugar ao edutuber. Criado em 2013 com apenas 26 canais, já soma quase 500 em 2019. No final de julho, os professores que produzem todo esse conteúdo se reuniram no Rio de Janeiro, no Educon, evento mundial realizado no Youtube Space. 

No Brasil, o programa foi criado em parceria com a Fundação Lemann e busca entregar um conteúdo educacional gratuito, de alta qualidade, selecionado e organizado. Qualquer professor pode participar, mas precisa submeter suas videoaulas para análise e aprovação de curadores da plataforma, que já conta com 362 mil inscritos no país. 

Segundo Clarissa Orberg, gerente de Parcerias de Educação do YouTube no Brasil, o número de canais de Educação teve grande crescimento nos últimos dois anos devido à ampliação e à consolidação do consumo on demand. O costume de estar sempre conectado permitiu ao estudante complementar sua educação ou tirar uma dúvida de última hora. “A gente vê que as pessoas estão realmente buscando esse conteúdo on-line no Youtube. É o aluno que perdeu uma aula, que ficou com uma dúvida específica ou que percebeu alguma deficiência no conteúdo que aprendeu na escola”, enumera. 

Os muitos edutubers são tão populares como qualquer outro youtuber. É caso de Iberê Thenório e Mariana Fulfaro, do canal Manual do Mundo, com quase 12,5 milhões de inscritos, ou da turma do Descomplica e do Nerdologia, ambos com mais de 2,5 milhões de assinantes. A paixão pela educação e a possibilidade de atingir milhões de pessoas são o que move os edutubers. Conheça alguns deles. 

Fernando Barros do canal “A revisada…” (Foto: Barbara Lopes)

A revisão antes da prova

Fernando Barros, do canal “A revisada…”, com 50 mil inscritos, é professor da rede estadual no Ceará. Formado em Química pela Universidade Federal do Ceará, iniciou o canal há quatro anos para ajudar a esposa, que na época cursava Farmácia. Licenciado do estado para fazer doutorado em Educação, Fernando pretende usar o tempo disponível para melhorar seu canal e deixá-lo mais profissional. “Se com pouco investimento o canal cresceu tanto, imagina se eu me empenhar ainda mais?”, diz.

Rafaela Lima do canal Mais Ciências (Foto: Barbara Lopes)

O espaço da mulher negra

A edutuber Rafaela Lima iniciou o canal Mais Ciências em 2015 para servir como apoio a seus alunos que tinham pouco material didático. “Não atingiu meu objetivo inicial, pois meus alunos da Baixada Fluminense (Queimados e Belford Roxo) tinham pouca internet na época e não havia a cultura de estudar on-line. Agora melhorou um pouco”, diz. Mesmo assim, o canal começou a crescer, já que havia poucos focados no ensino fundamental II. Atualmente, já são 100 mil inscritos.

Há poucas edutubers mulheres e a quantidade cai ainda mais quando falamos de edutubers negros. Rafaela é mulher e negra, mas conseguiu sobressair na plataforma e superar qualquer preconceito da audiência. “A diferença é gritante. Éramos umas 23 mulheres e uns 100 homens. Negros são, no máximo, dez, lembro-me de uns cinco. Há um grupo de WhatsApp que ajuda a nos unir”, afirma a professora.

Átila Iamarino do canal Nerdologia (Foto: Barbara Lopes)

A era dos nerds

Átila Iamarino criou o Nerdologia em parceria como Jovem Nerd há 6 anos. O canal fala sobre cultura pop e ciência de uma forma mais próxima dos jovens interessados em ciência. Doutor em Microbiologia também pela USP e pós-doutor na área pela USP e Yale, a academia sempre teve especial atenção para Átila. “O Nerdologia existe porque eu sempre estive muito envolvido com a divulgação científica. A premissa é ser um canal científico, mas com uma camadinha de açúcar”, diz o edutuber. 

Professor de Biologia em cursinhos preparatórios durante anos, Átila conta que sua experiência em sala de aula foi muito importante para o sucesso do canal. “A aula é muito trabalhosa para preparar, mas depois de um tempo se torna repetitiva. O vídeo não, toda semana é uma coisa nova, uma ideia nova que tenho de explicar, mas o que os dois têm em comum, que eu acho muito importante, é o feedback”. 

A possibilidade de ensinar e compartilhar seu conhecimento sempre foi importante para o edutuber, que lançou em 16 agosto um novo canal com seu nome, projeto em que fala de ciência de forma mais tradicional. “A minha motivação é essa, retribuir a educação pública de qualidade que eu recebi e que muita gente no Brasil não tem condições de receber, embora pague por ela. Eu tenho que educar as pessoas, tenho que passar alguma coisa que é útil para elas. Tenho que dar um destino para essa educação que eu recebi e que eu aprecio tanto”, afirma.

Aspirantes a edutubers

Você tem uma história para contar que só você consegue contar do seu jeito e é isso que você tem que usar para se destacar

No Educon, Alex Silva, project manager do Youtube Brasil, um dos palestrantes, falou sobre as estratégias para o crescimento do canal. “O conteúdo é sempre o rei. Então, mesmo que o vídeo esteja mal iluminado, que a câmera seja a do celular, a imagem saia tremida e o som fraquinho, todos os conteúdos vão ser sempre os principais. Qualquer grande youtuber, mesmo que seja a Bethany Mota (famosa mundialmente), teve seu primeiro vídeo horroroso e está tudo bem. É uma forma de você mostrar a sua evolução como criador de conteúdo também”.

Para Alex, é importante manter o equilíbrio entre o conteúdo específico e o entretenimento, mas ter a criatividade faz a diferença. “Se você tem uma boa história para contar, se seu conteúdo é rico, inovador e ninguém está fazendo algo parecido, você consegue achar o seu nicho e expandir sua audiência. É muito mais o zelo com o conteúdo do que pirar porque você não tem uma grua, um drone, uma superprodução no estúdio do Space… Está tudo bem porque você tem uma história para contar que só você consegue contar do seu jeito e é isso que você tem que usar para se destacar”, aconselha.

Barbara Lopes

Formada em Letras/Literaturas pela Universidade Federal Fluminense, carioca que não vai à praia, mas vive na floresta e na selva da cidade. Cursando graduação em Jornalismo na UFRJ. Acredita que a leitura e o diálogo transformam o mundo.

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