Exposição a metais pesados afeta saúde de população de Brumadinho

Trabalho de bombeiros após a tragédia de Brumadinho: pesquisadores coletaram dados e relatos ao longo do vale do Rio Paraopeba (Foto: Maria Otávia Resende/UFJF)

Três anos e seis meses depois do acidente da Vale, níveis de contaminação continuam altos, revela pesquisa da Fiocruz Minas e UFRJ

Por Liana Melo | ODS 3 • Publicada em 15 de julho de 2022 - 08:44 • Atualizada em 30 de novembro de 2023 - 15:14

Trabalho de bombeiros após a tragédia de Brumadinho: pesquisadores coletaram dados e relatos ao longo do vale do Rio Paraopeba (Foto: Maria Otávia Resende/UFJF)

Três anos e seis meses depois do rompimento da barragem de Brumadinho inundar o município mineiro de lama tóxica, a exposição a metais pesados se espalhou pela cidade, chegando a comunidades distante da mina Córrego do Feijão, onde ocorreu o acidente da Vale. A concentração de metais como arsênio, manganês, cádmio, mercúrio e chumbo foi comprovada por pesquisadores da Fiocruz Minas e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em crianças, adolescentes, adultos e idosos.

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O estudo avaliou condições de vida, saúde e trabalho de 3,8 mil pessoas na cidade de Brumadinho. Entre a população acima de 18 anos, o arsênio na urina, e o manganês e chumbo no sangue, estão acima dos valores de referência: 28,9, 52,3% e 12,2%, respectivamente. Entre as crianças de 0 a 6 anos de idade, 50,6% delas apresentaram incidência desses metais pesados no organismo. Dentre as amostras de urina coletadas entre as crianças, o arsênio foi encontrado acima do valor de referência em 41,9% e o chumbo em 13% delas.

Uma das vítimas do desastre tenta salvar uma geladeira no meio dos escombros. Foto Doug Patrício/DPA
Uma das vítimas do desastre tenta salvar uma geladeira no meio dos escombros. Foto Doug Patrício/DPA

“Os dados da pesquisa mostram que é preciso uma atuação maior da vigilância sanitária para entender essas fontes de contaminação. Examinamos só a população”, comentou Sérgio Peixoto, coordenador-geral da pesquisa. Ele lembra que se no momento seguinte ao desastre, a lama era o maior problema; hoje, a poeira virou a maior preocupação, porque se espalhou pela cidade.

Os pesquisadores da Fiocruz, que avaliaram as condições entre os adultos, e os da UFRJ, que pesquisaram à exposição entre as crianças, defendem que a pesquisa seja usada no acompanhamento dos fatores de risco para doenças cardiovasculares, doenças respiratórias e na saúde mental da população. O levantamento foi feito no segundo semestre de 2021.

O acidente da Vale, ocorrido em janeiro de 2019, despejou cerca de 14 milhões de toneladas de lama e rejeitos de minério de ferro no município. A avalanche de lama percorreu oito quilômetros em poucos dias, poluindo o rio Paraopeba. “Nossa hipótese é que a exposição da população local chegou a comunidades bem afastadas”, explicou o pesquisador.

Entre os adolescentes, 12,3% relataram doenças crônicas, como asma ou bronquite asmática.  Esse percentual é maior entre os moradores de algumas regiões, chegando a 23,8% entre os residentes do Parque da Cachoeira e 17,1% entre os que vivem no Córrego do Feijão, regiões diretamente expostas ao rompimento da barragem de rejeitos. Pneumonia foi citada por 10,9% dos adolescentes, mas, entre aqueles que moram no Pires, região banhada pelo Rio Paraopeba, que foi atingido pela lama, esse percentual foi de 16,7%.

Entre os adultos, as doenças crônicas mais citadas foram hipertensão (30,1%), colesterol alto (23,1%) e problema crônico de coluna (21,1%), com pequenas variações entre as regiões. O diabetes foi prevalente em 9,8% da população adulta de Brumadinho. Esse resultado mostra estimativas maiores que as encontradas na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo IBGE em 2019.  À época, os dados foram os seguintes: hipertensão em 23,9%, colesterol alto em 14,6% e diabetes em 7,7%.

Peixoto acrescentou que em agosto os pesquisadores visitarão novamente todos os que estão sendo acompanhados no estudo e farão novos exames. “Hoje temos uma foto, depois teremos um filme, conforme o estudo se desenvolver. O estudo mostra que não é só uma questão de organizar a assistência. É preciso pensar a saúde de forma ampla e ter ações de promoção da saúde”.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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