Negociadores surdos ao apelo das ruas

Marcha do Clima junta milhares de manifestantes nas ruas de Madri por mais ação climática, enquanto na COP25 a lentidão dá o tom das negociações

Por Liana Melo | ODS 13 • Publicada em 7 de dezembro de 2019 - 11:40 • Atualizada em 7 de abril de 2020 - 11:27

Marcha do Clima junta milhares de manifestantes nas ruas de Madri por mais ação climática, enquanto na COP25 a lentidão dá o tom das negociações

Por Liana Melo | ODS 13 • Publicada em 7 de dezembro de 2019 - 11:40 • Atualizada em 7 de abril de 2020 - 11:27

Marcha do clima em Madrid, na COP25. Foto de Gabriel Bouys/ AFP
As ruas do centro de Madrid foram tomadas por manifestantes durante a Marcha do clima em Madrid. Foto de Gabriel Bouys/ AFP

(Madri, ES) – Em poucas horas, o centro de Madri foi tomado por milhares de manifestantes que saíram às ruas, na sexta 6, para a marcha do clima. Apenas 10 km2 separavam o IFEMA Feria de Madri, onde está ocorrendo a COP25, dos protestos, que, segundo seus organizadores, juntou cerca de 500 mil pessoas. O barulho das ruas contratava com a pasmaceira das conversas oficiais nas salas de negociação da Conferência do Clima. Parece que os apelos por compromissos efetivos e mais ação climática não estão sensibilizando os negociadores – ao final da primeira semana do encontro, o texto da COP25 segue em banho-maria.

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Ao lado da China, Índia e Arábia Saudita, o Brasil continua inviabilizando o processo negociador no que diz respeito ao aproveitamento eventual de créditos da era de Quioto no novo modelo de mercado de Paris. O apelo por mais ambição também não anda fazendo muito sucesso. Ao contrário. “Alguns países em desenvolvimento estão usando a falta de ambição das ações empreendidas antes da implementação dos compromissos do Acordo de Paris para pressionar os países desenvolvidos (especialmente a União Europeia) para elevar a ambição de seus compromissos já na revisão de sua NDC em 2020. Mas as conversas não avançam em torno de uma resolução clara – bem, ao menos neste momento”, observou Bruno Toledo, do Instituto ClimaInfo.

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A mudança que precisamos não virá das pessoas que estão no poder agora, mas sim das massas, do povo que demanda ação. Somos nós quem trará a mudança

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A segunda semana da Conferência do Clima vai dar muito trabalho para o secretariado da ONU e para Carolina Schmidt, a presidente chilena da COP 25. O encontro termina na sexta, 13. Não à toa, o país anfitrião da COP26, que vai ocorrer em Glasgow, na Escócia, no próximo ano, anunciou horas antes do início da manifestação, que, em 2020, a prioridade será dar voz a governos subnacionais. É que em muitos países as vozes das ruas não andam sensibilizando chefes de Estado.

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Três palavras podem fazer a diferença para evitar o pior: urgência, ambição e redução

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“A mudança que precisamos não virá das pessoas que estão no poder agora, mas sim das massas, do povo que demanda ação. Somos nós quem trará a mudança”, discursou, ao final da manifestação, a jovem ativista sueca Greta Thunberg. Para o ator Javier Bardem, há apenas uma única realidade: “A Terra está esquentando e temos só dez anos para frear as piores consequências da mudança do clima”. E concluiu: “Três palavras podem fazer a diferença para evitar o pior: urgência, ambição e redução”.

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A Amazônia está sendo incendiada e seus defensores, cruelmente assassinados. A floresta corre perigo

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A liderança indígena Sônia Guajajara subiu ao palco para denunciar o que vem ocorrendo no Brasil: “Estamos pedindo socorro, porque Bolsonaro não é um problema apenas do Brasil, mas sim uma ameaça para o mundo inteiro”. E completou: “A Amazônia está sendo incendiada e seus defensores, cruelmente assassinados. A floresta corre perigo”.

Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), feito com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de 1º de janeiro a 29 de agosto de 2019, e divulgado na COP25, mostrou que os focos de incêndio que arderam na Amazônia ocorreram preferencialmente em propriedades privadas.: num total de 33%. Em segundo lugar, vieram as áreas sem destinação fundiária específica, que somaram 30% dos focos de calor — 20% apenas em florestas públicas não destinadas, um forte indicativo de grilagem de terras.

“O principal gatilho desta temporada de fogo na Amazônia não é a seca, mas o pico de desmatamento”, comentou a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, negando, cientificamente, as informações do governo: “Este ano não é especialmente mais seco do que anteriores”. Dados do IPAM indicam que na Amazônia existem 67 milhões de hectares de florestas públicas sem destinação, ou seja, são patrimônio dos brasileiros. “Por falta de governança, essas terras estão hoje à mercê de grileiros e especuladores irregulares de terra. O desmatamento e o fogo que acontece nessas regiões é totalmente ilegal, e devem ser alvo de investigação e ações de comando e controle”.

*A repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade (ICS)

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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