Inpe: dias de calor extremo sobem de 7 para 52 por ano em três décadas

Onda de calor se espalha por 15 estados e Distrito Federal e Meteorologia alerta para temperaturas recordes e riscos à saúde

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 14 de novembro de 2023 - 10:54 • Atualizada em 22 de novembro de 2023 - 08:24

Termômetro de rua marca 40 graus em fim de semana de recorde de calor em São Paulo: estudo do Inpe mostra que dias de calor extremo por ano sobem de 7 para 52 em três décadas (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil – 12/11/2023)

O calor intenso experimentado por boa parte do Brasil nos últimos dias se tornou bem mais frequente nas últimas três décadas, evidenciando na prática os efeitos das mudanças climáticas. De acordo com estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), os dias de calor extremo subiram de 7 para 52 por ano em três décadas. Os dados indicam que houve aumento gradual das anomalias de ondas de calor ao longo dos períodos analisados e para praticamente todo o Brasil, com exceção da Região Sul e a parte sul dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Até 1991, número de dias com ondas de calor não ultrapassava sete. Para o período de 1991 a 2000 subiu para 20 dias; entre 2001 e 2010 atingiu 40 dias; e de 2011 a 2020, o número de dias com ondas de calor chegou a 52 dias. “Essas informações são a fonte que podemos reportar como fidedignas daquilo que está sendo sentido no dia a dia da sociedade. Estamos deixando de perceber para conhecer. Esse é um diferencial de termos essa fonte de dados robusta”, afirmou o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do MCTI, Osvaldo Moraes, à TV Brasil. “São dados relevantes para fazer a ciência climática dar suporte à tomada de decisão. Estamos deixando a percepção de lado para aprofundar o conhecimento”, complementou.

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O trabalho do Inpe – realizado a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para subsidiar as discussões para a atualização do Plano Clima/Adaptação – permite reconhecer as tendências nas séries de precipitação, temperatura máxima e mais três índices derivados que são considerados extremos climáticos: dias consecutivos secos (CDD), precipitação máxima em 5 dias (RX5day) e ondas de calor (WSDI). O estudo destaca que, entre 1991 e 2000, “as anomalias positivas de temperatura máxima não passavam de cerca de 1,5°C. Porém, atingiram 3°C em alguns locais para o período de 2011 a 2020, especialmente na região Nordeste e proximidades”. A média de temperatura máxima no Nordeste, entre 1960 e 1991, era de 30,7°C e sobe, gradualmente, para 31,2°C em 1991-2000, 31,6°C em 2001-2010 e 32,2°C em 2011-2020.

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As “anomalias” de precipitação acumulada também são observadas nos três períodos avaliados, contudo destacam-se duas regiões contrastantes entre 2011 e 2020. Enquanto houve queda na taxa média de precipitação, com variações entre –10% e –40% do Nordeste até o Sudeste e na região central do Brasil, foi observado aumento entre 10% e 30% na área que abrange os estados da região Sul e parte dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

No estudo do Inpe, foram considerados dados de 1.252 estações meteorológicas convencionais – 642 estações manuais e 610 automáticas para construir as séries de temperatura máxima – e um total de 11.473 pluviômetros para os dados de precipitação. O aumento e a redução nos índices de precipitação repercutem na ocorrência de extremos climáticos que são estabelecidos por dois indicadores: dias consecutivos secos (CDD) e pela precipitação máxima em 5 dias (RX5day).

No período de referência, entre 1961 e 1990, os valores de CDD eram, em média, de 80 a 85 dias. O número subiu para cerca de 100 dias para o período de 2011 a 2020 nas áreas que abrangem o norte do Nordeste e o centro do país. Os mapas demonstram que a região Sul vem sendo a mais afetada pelas chuvas extremas ao longo das últimas décadas. No período de referência, a precipitação máxima em cinco dias era de cerca de 140 mm. O número subiu para uma média de 160mm.

Os pesquisadores destacam a importância de observar o conjunto das informações e não apenas indicadores isolados. De acordo com os dados, o clima já está mudando e afeta o país de múltiplas formas, devido às dimensões continentais do Brasil. “O mais recente relatório do IPCC destacou que as mudanças climáticas estão impactando diversas regiões do mundo de maneiras distintas. Nossas análises revelam claramente que o Brasil já experimenta essas transformações, evidenciadas pelo aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos em várias regiões desde 1961 e irão se agravar nas próximas décadas proporcionalmente ao aquecimento global”, ressaltou o pesquisador Lincoln Alves, que coordenou o estudo do Inpe.

Onda de calor pelo Brasil

O estudo do Inpe só reforça o alerta emitido Instituto Nacional de Meteorologia: a onda de calor extremo, que começou no fim de semana, está se espalhando por mais de 1.600 municípios em 15 estados brasileiros, além do Distrito Federal, com temperaturas até cinco graus acima da média. O Inmet divulgou alerta de grande perigo, nesta segunda-feira – isso indica situações em que estão previstos “fenômenos meteorológicos de intensidade excepcional, com riscos para a integridade física”.

As temperaturas mais altas estão previstas no Centro-Oeste. No sábado (11/11), as cidades de Porto Murtinho (MS) e Aragarças (GO) registraram máxima de 42,3 °C , as maiores registradas no dia pelo Inmet. Cuiabá (MT) registrou 41,3 °C e foi a capital com a maior temperatura do dia. O calor na capital do Mato Grosso pode chegar a 46 °C esta semana; em Campo Grande, a máxima pode alcançar 44 °C.

A temperatura também deve superar os 40 °C novamente no Rio de Janeiro: no domingo, os termômetros cariocas registraram o recorde do ano com 40, 5. Segundo o Inmet, São Paulo teve a maior máxima dos últimos nove anos, com 37,1°C neste domingo (12/11): a capital paulista pode quebrar este recorde durante a semana. “A Organização Meteorologia Mundial já identificou que estamos vivenciando quatro meses com temperaturas acima da média e uma tendência de terminarmos o ano como o mais quente já registrado desde o início das medições”, informou meteorologista Andrea Ramos, do Inmet,

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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