Clemente Ganz, recém-designado em enviado especial da COP30, em evento do movimento sindical: "transição justa exigirá o comprometimento de governos, empresas e sindicatos para garantir que ninguém fique para trás” (Foto: Divulgação / Sineaco / Conduscon - 04/04/2023)

Clemente Ganz: do chão das fábricas para a COP30

Clemente Ganz: do chão das fábricas para a COP30

Por Liana Melo ODS 8

Trabalho decente e transição justa são demandas que Clemente Ganz, representante dos sindicatos no grupo de enviados especiais, levará à Conferência do Clima

Publicada em 17 de junho de 2025 - 08:30 • Atualizada em 17 de junho de 2025 - 13:26

É a primeira vez que um sindicalista – Clemente Ganz Lúcio – vai sentar na mesa das negociações climáticas e defender soluções que avancem a agenda da transição justa do ponto de vista da classe trabalhadora. O mundo do trabalho vem ganhando destaque nas conferências do clima da ONU desde 2015, quando o conceito de transição justa passou a fazer parte do Acordo de Paris – este ano, as metas deverão ser atualizadas na COP30, em Belém.

A crise climática e a inovação tecnológica estão puxando a gente para o século XXI, mas isso está sendo feito com o trabalho do século XIX

Clemente Ganz
Sociólogo, ex-diretor do Dieese e enviado especial da Presidência da COP30

Uma década depois do tema entrar na agenda climática, a presidência da COP30 inovou, criando a figura dos “enviados especiais” – um grupo de especialistas, de diferentes áreas, entre eles um representante dos trabalhadores. Composto por 30 pessoas, sendo oito delas estrangeiros, o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, ex-diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), vai levar para a mesa de negociação as demandas da classe trabalhadora.

Criado para incluir nas discussões atores que não são partes formais das Conferências do Clima da ONU, os “enviados especiais” atuaram voluntariamente e em caráter pessoal. Eles são considerados fundamentais para implementar as decisões nas suas respectivas áreas. O grupo será uma espécie de “caixa de ressonância de setores e de geografias, verdadeiros canais e facilitadores do fluxo de informações e de percepções de suas respectivas áreas”, como comentou, à época do lançamento do grupo, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago.

Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.

Veja o que já enviamos

A iniciativa fez parte do que o diplomata chamou de “mutirão do clima”, proposto para que as decisões da Conferência do Clima saiam do papel – embora alcancem acordos e estabeleçam metas, as COPs vêm sendo criticadas justamente pela lentidão de transformar as decisões em ações. Alavancar uma reindustrialização, tendo a bioeconomia como base, não é tarefa fácil. Mais difícil ainda é evitar a precariedade do emprego nessa nova economia de baixo carbono.

“A crise climática e a inovação tecnológica estão puxando a gente para o século XXI, mas isso está sendo feito com o trabalho do século XIX”, comenta Ganz, acrescentando que “se o mundo do trabalho não estiver participando ativamente da COP30, teremos uma distopia inimaginável por conta da dramaticidade das crises climáticas e ambiental”.

Ganz defende que o legado da COP30 para o movimento sindical será aproximar as discussões do mundo trabalho das agendas climática e ambiental, promovendo uma transição justa. Para o Dieese, isso implica, por exemplo, que as políticas de transição energética devem considerar a requalificação da força de trabalho, a criação de empregos decentes, a proteção social e a inclusão de grupos historicamente marginalizados, como mulheres, jovens e populações de baixa renda. Além de levar em consideração questões estruturais, como a desigualdade social e as disparidades regionais.

“A transição para uma economia verde representa uma oportunidade única para o Brasil combinar desenvolvimento econômico e proteção ambiental”, comenta Ganz, acrescentando, no entanto, que fazer a transição justa “exigirá o comprometimento de governos, empresas e sindicatos para garantir que ninguém fique para trás”. Do contrário, acrescenta, o risco é “termos mais, e mais, trabalhadores votando na extrema direita” devido a redução dos postos de trabalho tradicionais.

Enviados especiais para setores e regiões

Clemente Ganz Lúcio faz parte do grupo de 30 Enviados Especiais, anunciados em maio pela Presidência da COP30, para apoiar no engajamento e na escuta de setores e regiões prioritárias para o sucesso da conferência, a ser realizada de 10 a 21 de novembro, em Belém.

Além de Ganz, representando os sindicatos, são outros 19 enviados para setores estratégicos, incluindo o agrônomo André Guimarães, diretor-executivo do Ipam (Instituto de Pesquisas da Amazônia, pela sociedade civil; a epidemiologista e enfermeira Ethel Maciel, ex-secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, pela área de saúde; a médica Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional, pelo setor de igualdade racial e periferias; a primeira-dama e socióloga Janja Lula, representando as mulheres; e a economista Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), pelo setor empresarial.

O grupo de enviados especiais tem ainda dez representantes para regiões prioritárias para alcançar os objetivos da presidência da COP30, reunindo atores com larga experiência em negociações climáticas e internacionais como a francesa Laurence Tubiana, CEO da Fundação Europeia para o Clima e uma das principais arquitetas do Acordo de Paris, para a Europa; a mexicana Patricia Espinosa, secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas entre 2016 e 2022, para a América Latina e Caribe; o economista Carlos Lopes, nascido na Guiné-Bissau, alto representante da União Africana para parcerias com a Europa e presidente do conselho da Fundação Africana para o Clima, para a África; e Jacinta Ardern, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, para a Oceania.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

Newsletter do #Colabora

A ansiedade climática e a busca por informação te fizeram chegar até aqui? Receba nossa newsletter e siga por dentro de tudo sobre sustentabilidade e direitos humanos. É de graça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *