Organizações cobram medidas contra conflitos de interesses na COP30

Conferências anteriores foram marcadas pela influência de lobistas de combustíveis fósseis e do agronegócio, comprometendo o avanço das políticas para conter a crise climática

Por #Colabora | ODS 13 • Publicada em 18 de março de 2025 - 13:40 • Atualizada em 18 de março de 2025 - 13:49

Plenária de abertura da COP29 em Baku: organizações, ambientalistas e cientistas cobram medidas para contar lobistas que agem contra políticas climáticas na COP30 (Foto: Kamran Guliyev / COP29 – 11/11/2024)

Mais de 260 organizações, ambientalistas e cientistas de diversos países assinaram uma carta cobrando mecanismos eficazes de transparência e medidas contra a influência indevida nas negociações climáticas. O documento, divulgado nesta terça-feira (18), foi enviado ao governo brasileiro, que preside a COP30, e ao Secretariado da UNFCCC (Convenção da ONU sobre o Clima).

Em COPs anteriores, como a que ocorreu em 2024 no Azerbaijão, houve presença massiva, mas pouco visível, de lobistas de petróleo e outros setores econômicos com alto impacto no clima. Como consequência, essas indústrias têm conseguido bloquear a implementação de medidas necessárias para reduzir emissões de gases do efeito estufa. Influência indevida nas COPs.

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Na carta, organizações, redes e indivíduos signatários afirmam que “por muito tempo, lobistas do ramo de combustíveis fósseis têm inundado” as  Conferências das Partes (COPs), que deveriam ser  espaços de negociação climática global . “Ao lado de outras indústrias altamente poluidoras (por exemplo, o setor agropecuário no Brasil), os lobistas têm atrasado os processos de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, de redução das emissões e de proteção das comunidades afetadas. À medida que as temperaturas globais atingem níveis irreversíveis, nós não podemos mais permitir essa interferência”, afirmam os signatários.

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Veja o que já enviamos

“Hoje, nós – uma coalizão de organizações, defensores e cidadãos que acreditam que a transparência e accountability são essenciais para uma ação climática significativa – instamos a Presidência brasileira da COP 30 e a UNFCCC a combater a influência indevida das indústrias altamente poluidoras nas negociações climáticas e a restaurar a confiança nos processos da COP”, continua o texto.

A carta foi coordenada pelo Secretariado da Transparência Internacional e pela Transparência Internacional – Brasil e assinada por organizações brasileiras e internacionais, como WWF, Instituto Socioambiental (ISA), Greenpeace, Global Witness, Oxfam e Anistia Internacional; por cientistas como o climatologista brasileiro Carlos Nobre; e por redes e coalizões, como a Climate Action Network e o Observatório do Clima.

Oportunidade para o Brasil

A carta foi enviada ao presidente Lula, ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, e à CEO da COP30, Ana Toni; também foi encaminhada ao secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell. “A liderança brasileira tem a oportunidade única de restabelecer o curso da diplomacia climática”, sinaliza o documento.

Segundo a coordenadora do Programa de Integridade Socioambiental da Transparência Internacional – Brasil, Olivia Ainbinder, as medidas defendidas na carta são uma oportunidade para o Brasil implementar novos padrões de transparência e de enfrentamento à influência indevida nas COPs. “A influência indevida de setores altamente poluidores nas negociações climáticas compromete o futuro do planeta. Nossa carta propõe medidas concretas para garantir que a COP30 seja um marco na governança climática global e que o Brasil lidere um novo padrão de transparência nas COPs”, afirma Ainbinder.

No documento, organizações e especialistas cobram a adoção de padrões de transparência mais robustos e medidas para combater a influência indevida nas COPs, como a exclusão de lobistas de setores poluidores das delegações dos Estados, a implementação e a divulgação de declarações de interesses dos organizadores do evento e das delegações.

A carta também aponta a necessidade de aprimoramento dos critérios de escolha dos próximos países anfitriões, para que as conferências não ocorram em países autoritários e pouco comprometidos com a agenda climática, como nas últimas três edições do evento (Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão).

Com a COP30 marcada para novembro, em Belém, as organizações alertam que a implementação dessas medidas será essencial para restaurar a confiança no processo climático global e garantir que as negociações avancem de forma transparente e comprometida com a urgência da crise climática.

#Colabora

Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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