Brasil em chamas: pior agosto desde 2010 tem quase 70 mil queimadas

Mês concentrou mais do total dos registros de focos de incêndio de 2024 com aumento de 145% em relação ao mesmo período no ano passado

Por Oscar Valporto | ODS 13ODS 15 • Publicada em 2 de setembro de 2024 - 11:23 • Atualizada em 10 de setembro de 2024 - 09:43

Brigadista combate incêndio em área de cerrado no Distrito Federal: Brasil teve maior número de queimadas para o mês de agosto desde 2010 (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil – 24/08/2024)

O Brasil registrou 68.635 queimadas em agosto de 2024, o maior número para o mês desde 2010 – quando foram computados 91.085 focos de incêndio. De acordo com os dados do Programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o o aumento foi de 144%, em relação a agosto de 2023, que registrou 28.056 focos de calor. Agosto, em geral, é o mês inicial do período de queimadas no Brasil, que segue até outubro – pico de queimadas costuma ser em setembro. Considerando os dados históricos coletados pelo Inpe desde 1998, os números de 2024 colocam o período como o quinto pior mês de agosto no total de focos de queimadas para o Brasil.

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Amazônia teve mais de 38 mil focos de incêndio, também a pior marca para agosto desde 2010. De acordo com o Programa Queimadas do Inpe, o bioma registrou 65.667 queimadas desde janeiro, um aumento de 104% quando comparado com o mesmo período do ano passado, quando 32.145 focos foram contados pelo instituto. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, os 38.266 focos de incêndio representam um aumento 120%. A fumaça dos incêndios florestais na Amazônia viaja milhares de quilômetros, passando por Centro-Oeste e Sudeste e chegando até o Sul do Brasil.

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Os estados da Amazônia Legal lideram o lamentável ranking das queimadas. O estado que mais registrou focos em agosto foi Mato Grosso (14.617) – que, além da Amazônia, tem parte do território coberto por Cerrado e Pantanal, biomas também impactados pelas queimadas; em seguida, vêm Pará (13.803) e Amazonas (10.328). Os três estados juntos representam mais da metade das queimadas do país no mês passado (38.748 incêndios).

Ainda segundo dados do Inpe, 18.620 focos foram registrados no Cerrado desde 1º de agosto até o último sábado (31). A taxa representa mais que o dobro de focos quando comparada com o mês de agosto de 2023, quando 6.850 focos foram contabilizados. O bioma também vem registrando altas taxas de desmatamento desde o ano passado, e desde o começo do ano já contabiliza 40.496 focos no total, um aumento de 70% quando comparado com o mesmo período de 2023 (no intervalo de 1º de janeiro até 31 agosto).

O Pantanal teve o seu terceiro pior agosto da série histórica desde 1998: os 4411 focos de incêndio registrados pelo Inpe em 2024 só ficam atrás dos 5993 de agosto de 2005 e dos 5935 do dramático ano de 2020, quando o bioma enfrentou uma terrível temporada de queimadas, responsável pela morte de 17 milhões de animais. Na comparação com o ano passado, houve um aumento assustador de 3910% – no ano passado, foram apenas 110 queimadas registradas. A Mata Atlântica também teve número de queimadas acima da média para o mês – foram 6.033, o pior número desde 2010.

Seca histórica

O Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) explica que esse recorde de queimadas é uma das consequências da seca extrema no Brasil – a mais extensa e mais severa já registrada no país, superando a estiagem de 2015. De acordo com a análise dos cientistas do órgão, mais de um terço do território nacional, o que equivale a mais de 3 milhões de km², enfrenta a pior estiagem na sua área com cidades isoladas no Norte do país por conta dos rios que secaram, impedindo a navegação, fogo espalhado por todas as regiões, sufocando a população com a fumaça e causando problemas respiratórios e rios em níveis tão baixos, que fez com que o Operador Nacional do Sistema Elétrica (ONS), que controla o abastecimento de energia no país, anunciasse a ativação de termoelétricas para suprir a demanda.

De acordo com os dados mais recentes, mais de 3,8 mil cidades estão com alguma classificação de seca (de fraca a excepcional). O número de cidades nessa situação aumentou quase 60% entre julho e agosto. “Nós nunca tínhamos visto, desde o início do monitoramento, uma seca tão extensa e intensa quanto essa. Víamos regiões isoladas sofrerem com os ciclos de seca, mas, dessa vez, é generalizado. Isso é um problema maior para o país enfrentar”, afirmou ao G1 a meteorologista Ana Paula Cunha, pesquisadora do monitoramento de secas do Cemaden.

Os dados sobre a seca cobrem o período desde 1950. A série histórica revela que a estiagem se agravou a partir de 1988. De lá para cá, a seca mais severa havia sido registrada em 2015. No entanto, à época, a falta de chuva atingiu apenas uma parte das regiões, fazendo com que os rios secassem e a vegetação pegasse fogo. Em 2024, a seca se espalhou pelo país quase todo e de forma mais intensa, para surpresa dos pesquisadores do Cemaden. A falta de chuva e os severos impactos na vegetação atingem uma área muito maior que a de 2015.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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