Crise eleva emissões do Brasil

Desmatamento alto e consumo baixo de carne são os nossos vilões do clima

Por Agostinho Vieira | ODS 13 • Publicada em 25 de outubro de 2017 - 23:12 • Atualizada em 27 de outubro de 2017 - 13:07

Área de reserva na Amazônia ocupada ilegalmente por gado. Foto Antonio Scorza/AFP
Área de reserva na Amazônia ocupada ilegalmente por gado. Foto Antonio Scorza/AFP
Área de reserva na Amazônia ocupada ilegalmente por gado. Foto Antonio Scorza/AFP

Como dizia Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes. Somos um país, no mínimo, peculiar. Até quando se trata de aquecimento global. Em qualquer lugar do mundo, quando se enfrenta uma crise econômica, as indústrias diminuem a produção, cresce o desemprego, o consumo de energia cai e as emissões de CO2 ficam menores. E no Brasil? Aqui também temos produção menor, desemprego, redução no consumo de energia e…aumento das emissões. Simplificando: Com pouco dinheiro no final do mês, as pessoas consomem menos carne. Quando dá, substituem por frango ou carne suína. Com isso, os abates caem e o rebanho fica no campo. Mais gado no campo significa mais emissão de metano (CH4), um gás de efeito estufa produzido pelos arrotos e pela flatulência de mais ou menos 200 milhões de animais.

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O Brasil que chegará no mês que vem à COP23 já é um risco para os objetivos do Acordo de Paris

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É verdade que os bois não foram os maiores culpados, mas tiveram uma parcela importante no crescimento das emissões nacionais de gases de efeito estufa em 2016. A nova edição do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), divulgada hoje pelo Observatório do Clima apontou um crescimento das emissões de 8,9% em comparação com o ano anterior. Este é o nível mais alto desde 2008 e a maior elevação vista desde 2004. O país emitiu, no ano passado, 2,278 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e), contra 2,091 bilhões em 2015. Com isso, somos responsáveis por 3,4% da emissão mundial de CO2. Parece pouco, mas não é. Estamos entre os sete maiores poluidores do planeta. E somos a única grande economia do mundo a aumentar a poluição sem gerar riqueza para a sociedade.

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Vista área de um região desmatada na Amazônia. Foto Carl de Souza/AFP
Vista área de um região desmatada na Amazônia. Foto Carl de Souza/AFP

Este é o segundo ano consecutivo de aumento de emissões, que acontece em meio à pior recessão da história do país. Nos últimos dois anos, as emissões subiram 12,3%, contra uma queda de 7,4 pontos percentuais do PIB (Produto Interno Bruto), que recuou 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016. A principal causa desse crescimento nas emissões foi a alta de 27% no desmatamento da Amazônia. Enquanto a destruição das florestas e o pum dos bois sobem, as emissões de outros setores da economia caíram. A participação da energia nesse bolo recuou 7,3%, a indústria, 5,9% e os resíduos, 0,7%. O relatório do SEEG mostra que o desmatamento (uso da terra) e a pecuária respondem por 74% das nossas emissões. Se fossem um país seriam o oitavo maior emissor do mundo, na frente do Japão.

A Política Nacional de Mudanças Climáticas estabelece que o Brasil chegar até 2020 com uma emissão máxima, anual, de 2,2 bilhões de toneladas. Isso foi exatamente o que emitimos em 2016 no meio de uma enorme crise econômica. Quando ela passar, a situação tende a ficar ainda pior. O foco deveria ser na redução do desmatamento, continua sendo o nosso enorme calcanhar de Aquiles. “Temos hoje a pior manchete climática do planeta: aumento de emissões em razão de desenfreada destruição florestal e totalmente dissociado da economia. Não vai adiantar o governo e os ruralistas dizerem lá fora que o agro é pop; não vão convencer a comunidade internacional e os mercados de que está tudo bem por aqui”, afirmou Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. “O Brasil que chegará no mês que vem à COP23 já é um risco para os objetivos do Acordo de Paris.”

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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