Crise climática: frio recorde leva a temperaturas negativas em 7 estados

Termômetro marcando – 6º C em São Joaquim na serra catarinense: três dias de frio extremo com temperaturas negativas, neve e geadas na Região Sul (Foto: Mycchel Legnaghi/ São Joaquim on line/ Fotos Públicas)

De acordo com especialista, massas polares vindas da Antártica estão chegando mais rapidamente e com mais intensidade ao sul do país

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 30 de julho de 2021 - 12:05 • Atualizada em 12 de agosto de 2021 - 11:35

Termômetro marcando – 6º C em São Joaquim na serra catarinense: três dias de frio extremo com temperaturas negativas, neve e geadas na Região Sul (Foto: Mycchel Legnaghi/ São Joaquim on line/ Fotos Públicas)

A onda de frio extremo no Sul e Sudeste do Brasil provocou a madrugada mais gelada do ano no país – de quinta, 29/07, para sexta, 30/07 – com temperaturas abaixo de zero em Curitiba e municípios serranos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. A catarinense Urupema registrou o recorde negativo de temperatura no país em 2021: – 8,9ºC. O frio também bateu recordes gaúchos (7,2º negativos em Vacaria) e paranaenses ( -7,3ºC em General Carneiro). A temperatura fez a temperatura cair para 4 graus na capital paulista, a mais baixa do ano. Florianópolis e Campo Grande também registraram recordes de frio: 1ºC na capital catarinense, 5,6ºC na capital de Mato Grosso do Sul, onde cinco cidades registraram temperaturas negativas (recorde para Iguatemi com -2,6ºC).

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E não pensem que esse frio intenso não está ligada à crise climática. Em entrevista à Globonews, o climatologista e geógrafo Francisco Eliseu Aquino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), explicou que há conexões climáticas entre o sul do Brasil e Península Antártica, com massas de ar que circulam entre as duas regiões – ar quente daqui para lá e ar frio de lá para cá. “Com os invernos cada vez mais quentes e mais secos na Região Sul, essa circulação está cada vez mais rápida e ar polar chega mais forte até o Brasil”, destaca o pesquisador, lembrando que, antes da chegada desta frente fria, os termômetros em cidades como Porto Alegre e São Paulo chegaram a marcar 30 graus Celsius. O inverno de 2021 – apesar das duas ondas de frio – está mais quente do que a média histórica.

Neve cobre o gramado do Estádio Alberto Jaconi, em Caxias do Sul: madrugada mais fria do ano e temperaturas negativas em sete estados (Foto: Fernando Alves / Esporte Clube Juventude - 29/07/2021)
Neve cobre o gramado do Estádio Alberto Jaconi, em Caxias do Sul: madrugada mais fria do ano e temperaturas negativas em sete estados (Foto: Fernando Alves / Esporte Clube Juventude – 29/07/2021)

O meteorologista Fábio Luengo afirmou que a onda de frio que várias regiões do Brasil estão enfrentando é a mais intensa deste ano – mas não será a última do inverno. Por conta da massa de ar polar, dezenas de cidades registraram geadas, chuva congelada e até neve – de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, nevou em mais de 60 municípios da Região Sul na noite de quarta e na madrugada de quinta. A temperatura só deve começar a subir no domingo. “Tudo indica que essa massa de ar polar é a mais intensa deste ano. Vão vir outras ondas de frio entre agosto e setembro, mas, por enquanto, as previsões não indicam uma massa de ar frio como essa”, disse Luengo, no canal do Climatempo.

A madrugada de frio recorde não ficou restrita aos estados da Região Sul e a Mato Grosso do Sul. Em Minas Gerais, a estação meteorológica de Monte Verde, do Inmet, registrou a menor temperatura desde sua instalação em dezembro de 2004: o termômetro marcou – 4,5°C. O recorde anterior era de -3,5°C, ocorrido em 5 de agosto de 2011. Em Belo Horizonte, teve a madrugada mais fria do ano, com termômetros marcando 6,3ºC.

Temperaturas negativas também foram registradas no estado de São Paulo: Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira, registrou – 2,6°C, a menor temperatura em doze anos; na capital paulista, os termômetros marcaram 4ºC de temperatura média mínima, a menor desde 2016, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas), da Prefeitura de São Paulo), que registrou temperaturas negativas em pontos da Zona Sul. No Estado do Rio, o Parque Nacional de Itatiaia registrou temperaturas negativas pelo terceiro dia seguido.

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Madrugada gelada na Avenida Paulista: madrugada de quinta para sexta foi a mais fria desde 2016 (Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas)
Madrugada gelada na Avenida Paulista: madrugada de quinta para sexta foi a mais fria desde 2016 (Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas)

Impacto na agricultura

Meteorologistas alertam que as temperaturas muito baixas favorecem a formação de geada negra no norte do Rio Grande do Sul, áreas de Santa Catarina e sul do Paraná. O fenômeno tem como característica congelar a seiva da planta. De acordo com um alerta emitido aos agricultores pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) na quarta-feira, as temperaturas congelantes até domingo vão afetar culturas como milho e trigo nos estados do sul e sudeste do Brasil.

Nos estados de São Paulo e Paraná, as geadas moderadas e severas devem afetar o milho, na safrinha que está em fase de enchimento de grãos, assim como o trigo que está em floração. Lavouras de milho e trigo também serão atingidas em Mato Grosso do Sul. No Paraná, o frio extremo atingiu áreas de milho em Guarapuava e de trigo em Cascavel. No início da temporada, a expectativa era de que o Paraná colhesse 15 milhões de toneladas de milho, volume que pode cair para 6,8 milhões de toneladas. Uma redução de 53% em relação à estimativa inicial.

No Sudeste o frio chegou até áreas de citros em Ourinhos (SP). O alerta para formação de geadas também ainda está ligado para áreas de café desde o norte do Paraná até o sul de Minas. De acordo com a estatal, as lavouras de trigo em Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão menos suscetíveis a danos causados pelas baixas temperaturas e geadas devido ao seu atual estágio de desenvolvimento. Mas a Conab prevê quebra de safra do segundo milho – plantado em campos usados antes para soja e que costuma representar de 70% a 75% de toda a produção – por estresse hídrico seguido de geadas em três estados.

Turistas aproveitam spray de água para enfrentar o calor em Atenas: temperatura na Grécia alcançou 44 graus (Foto: Louisa Gouliamaki / AFP - 29/07/2021)
Turistas aproveitam spray de água para enfrentar o calor em Atenas: temperatura na Grécia alcançou 44 graus (Foto: Louisa Gouliamaki / AFP – 29/07/2021)

Hemisfério Norte fervendo

Enquanto a América do Sul sofre com o frio, o sudeste da Europa sofre com mais uma onda de calor. As temperaturas subiram acima de 40 graus na Grécia e em grande parte da região dos Balcãs. Especialistas em clima em Atenas disseram esperar que a onda de calor se estenda até a próxima semana, tornando-a uma das mais severas registradas no país desde meados da década de 1980. Na Turquia, pelo menos três pessoas morreram no sul do país e dezenas de pessoas foram hospitalizadas devido ao calor, enquanto as altas temperaturas e os fortes ventos alimentaram dois incêndios florestais.

Autoridades na Sérvia, na Bulgária, na Bósnia e Herzegovina e outros países da região estão alertando a população a evitar a exposição ao sol. Na Macedônia do Norte, mulheres grávidas e pessoas com mais de 60 anos foram dispensadas do trabalho até o final da semana; obras de construção foram obrigadas a interromper o trabalho das 11h às 17h.

As condições climáticas extremas deste verão no Hemisfério Norte já provocaram recentes inundações na Alemanha e em outros países da Europa Central, que mataram pelo menos 200 pessoas, e ondas de calor no Canadá, onde foi registrada temperatura recorde de 49,6 graus, e no Oeste dos Estados Unidos. Especialistas são unânimes em apontar a crise climática como responsável pelas seguidas ondas de calor.

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Eventos climáticos extremos neste mês de julho também foram registrados na China e na Índia. Na Província de Henan, na região central do país, morreram mais de 25 pessoas e 200 mil estão desabrigadas: a mídia chinesa fala da pior chuva em mil anos na província onde choveu em três dias desta última semana de julho o esperado para o ano inteiro. Na Índia, o ápice dos temporais foi na semana anterior quando foram registradas mais de 160 mortes causadas por inundações na região de Mumbai e no norte do país.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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