Já pediu carona hoje?

Com 1,3 passageiro por carro e mais engarrafamentos, Rio segue tendência mundial e busca o transporte solidário como alternativa

Por Laura Antunes | Mobilidade UrbanaODS 16 • Publicada em 12 de abril de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:03

Um estudante pede carona na França: movimento é mundial
Um estudante pede carona na França: movimento é mundial
Um estudante pede carona na França: movimento é mundial

Engarrafamentos são sempre irritantes, mas enfrentá-los especialmente nos trajetos casa/trabalho/casa é algo que ninguém, absolutamente ninguém, merece. Pior ainda quando se está dentro de transporte público. No Rio, por exemplo, cidade onde a frota de veículos já bateu a marca dos cinco milhões, difícil encontrar as grandes vias livres a partir das primeiras horas da manhã. Mas, dizem, são nos momentos de crise – neste caso, de desconforto – que as pessoas buscam soluções criativas – e sustentáveis –  para reduzir o estresse diário.

A publicitária Karen Jurassek mora na Taquara, trabalha na Barra da Tijuca e juntou um grupo de amigos para dividir o trajeto de carro

Talvez por isso se multipliquem nas redes sociais grupos criados para compartilhar caronas, que vão desde os percursos pequenos até viagens. Também está se tornando comum funcionários de grandes empresas – ou situadas em locais mais afastados – e estudantes universitários organizarem os chamados grupos de caronas solidárias, que, no fim das contas, podem ajudar a melhorar a mobilidade urbana.

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Criei um grupo “Carona Solidária” e convidei os amigos de trabalho, que, por muitas vezes, já me fizeram companhia no BRT lotado. Agora, eles pegam carona comigo porque vamos para o mesmo caminho. Me sinto feliz porque sei que estou contribuindo para diminuir um pouco o caos urbano.

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A publicitária Karen Jurassek, que mora na Taquara e trabalha na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, é um exemplo de alguém que faz a sua parte nesse tema. Ela reuniu, há cerca de um ano, dez colegas e criou um grupo de mensagens com o intuito de fazer o trajeto casa/trabalho/casa sempre com seu carro lotado. Seis pessoas se revezam para pegar carona diariamente com a publicitária. Quando ela não leva o carro, também recorre à carona.

– Criei um grupo “Carona Solidária” e convidei os amigos de trabalho, que, por muitas vezes, já me fizeram companhia no BRT lotado. Agora, eles pegam carona comigo porque vamos para o mesmo caminho. Me sinto feliz porque sei que estou contribuindo para diminuir um pouco o caos urbano, além de colaborar com o meio ambiente e ajudar a melhorar o trânsito e a qualidade do ar na cidade. Acredito que conseguir um mundo melhor começa por nós mesmos. O importante é dar o primeiro passo – diz Karen.

Antes da criação do grupo, a publicitária experimentou três meses de desconforto, ao precisar recorrer ao transporte público, período em que ficou sem carro. Ela conta ter enfrentado filas no terminal rodoviário e ônibus lotados.

– Os três meses de caos me fizeram refletir sobre o meu papel como cidadã, a questionar o motivo de não fazer absolutamente nada para ajudar a melhorar isso de alguma forma – relembra ela, acrescentando que se incomoda em testemunhar a grande quantidade de carros que circulam com apenas uma pessoa.

A taxa média de ocupação dos carros no Rio, aliás, segundo levantamentos recentes, é de 1,3 pessoa por automóvel. Daí a importância das caronas solidárias. Um ótimo exemplo é o Caronaê, exclusivo para a comunidade que frequenta o Fundão, mas que já está disponível para baixar em iOS e Android.

Funcionários da TV Globo, que marcam ponto no complexo do Projac, em Curicica, também criaram grupos de carona, principalmente para deixar a região – distante, por exemplo, 32 quilômetros da Tijuca. É no Whatsapp que a turma oferece e pede carona. O grupo da Zona Sul é talvez o mais requisitado, atualmente com 256 integrantes. Na hora de sair do complexo, quem está de carro dispara a informação.

– Aqui é distante de tudo. E muitos funcionários usam o transporte público para chegar até Curicica. Por isso, essas redes de solidariedade são tão importantes. Eu faço parte do grupo da Zona Sul e, no meu caso, apenas pego carona, mas temos colegas que oferecem e, algumas vezes, acabam pegando também – conta uma das funcionárias do Projac, que se mudou recentemente para a Tijuca, mas que pega carona, no fim do expediente, para a Zona Sul, onde a filha ainda estuda.

Quem também pegou carona nessa tendência foi uma turma numerosa da PUC-Rio. Alunos, professores e funcionários mantêm um sistema de rachar corridas de táxi e compartilhar os carros dos colegas. Para isso, criaram uma página no facebook e um e-mail próprio. No site da instituição de ensino há links para portais que oferecem carona. “A universidade procurou desenvolver uma teia social que possibilite alunos, funcionários e professores que morem próximos, criarem uma rotina de ajuda recíproca partindo do princípio da carona solidária”, informa a página da carona solidária, que tem pelo menos 1.700 pessoas cadastradas.

Além desses grupos fechados, as redes sociais estão repletas de redes de compartilhamento de caronas. Alguns aportaram no Brasil nos últimos dois anos, como o Blablacar, que já foi apresentado aqui no #Colabora. Segundo seus administradores já são cerca de 25 milhões de usuários em todo o mundo. Ele abriga cadastros de condutores e passageiros, que combinam online trajetos, principalmente viagens por orçamentos que cabem no bolsa. Na última semana de abril, por exemplo, o site oferecia caronas entre São Paulo-Belo Horizonte por R$ 80, São Paulo-Garujá por R$ 10 e Rio de Janeiro-São Paulo por R$ 60.

O BeepMe é outro aplicativo do gênero bem popular. Assim como o Uber, ele tem funcionamento similar ao dos aplicativos de táxi. A proposta é remunerar os motoristas dispostos a compartilhar seu veículo. Os preços são combinados. Basta o usuário procurar o local para onde deseja ir e aceitar a carona.

– Conforme as ruas e vias expressas ficam engarrafadas, qualquer que seja o horário, chama mais ainda a atenção a quantidade de veículos passando apenas com o motorista. Acho mesmo que uma obrigação de todo mundo fazer a sua parte. Faço sempre de carro o trajeto Irajá/Vila Isabel/Irajá, entre a minha casa e o trabalho, e me incluo nesse perfil. Passei a me incomodar com isso e já estou procurando colegas para ver quem pode compartilhar comigo essas viagens diárias – conta Gilberto Lopes, que trabalha numa empresa próximo à Avenida Brasil.

Laura Antunes

Depois de duas décadas dedicadas à cobertura da vida cotidiana do Rio de Janeiro, a jornalista Laura Antunes não esconde sua preferência pelos temas de comportamento e mobilidade urbana. Ela circula pela cidade sempre com o olhar atento em busca de curiosidades, novas tendências e personagens interessantes. Laura é formada pela UFRJ.

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