Depois de ser o primeiro povo indígena do Acre a ganhar a titulação de suas terras, os Yawanawá do Mutum querem ser a primeira aldeia lixo zero da Amazônia. Como a penúltima das oito comunidades que formam a Terra Indígena Rio Gregório, no meio da floresta acreana, a oeste do estado, a ambição não é nada simplória. Se, no passado recente, os resíduos gerados na floresta eram, primordialmente, baseados em materiais orgânicos e facilmente absorvidos pela natureza; atualmente, não é mais assim. O capitalismo chegou com tudo nas aldeias, trazendo no seu rastro um modelo de consumo pouco amigável do ponto de vista ambiental. O medo de ambientalistas, antropólogos e cientistas sociais de que a floresta seria a próxima fronteira do lixo deixou de ser apenas uma previsão tenebrosa. Já é uma realidade. O lixo está por toda parte, em volumes colossais, espalhado pelos oceanos, pelas cidades, pequenas, médias e grandes, e pela floresta.
São oito horas de barco até a vila mais próxima, depois de serpentear rio baixo pela floresta. O isolamento da Aldeia do Mutum não impediu a entrada de bens de consumo típicos das cidades: garrafas PET, sacos plásticos e latas de comida. Como muitos desses materiais são de difícil decomposição, o descarte incorreto na aldeia aumenta o perigo de contaminação, tanto no solo quanto na água. As pilhas, por exemplo, usadas nos barcos a motor, costumam ser jogadas fora no meio da mata. Durante as caçadas à noite, rotina essencial à subsistência dessas populações, chega-se a consumir seis unidades. O lixo produzido por uma família do Mutum, com sete pessoas em média, pode variar de dois a dez sacos de 50 litros por semana – o volume vai depender das condições financeiras de cada um.
“Se o projeto piloto na aldeia der certo, ele poderá ser replicado em outros lugares da Amazônia”, sonha a antropóloga Maria Fernanda Gebara, coordenadora do Aldeia Lixo Zero.
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Veja o que já enviamosMorando em Bath, nos arredores da capital inglesa, Fernanda chegou a Aldeia do Mutum depois de ser convidada por Nixiwaka Yawanawá. Os dois se conheceram em Londres, onde o jovem líder indígena morou, durante cinco anos, entre 2010 e 2015. Neste período, ele trabalhou na organização Survival International, entidade que defende os direitos indígenas.
A primeira visita de Fernanda foi em 2016, seguida de outras cinco viagens até o projeto começar a sair do papel. No meio do caminho, por sugestão dos próprios índios, uma campanha de financiamento coletivo. A meta era arrecadar 100 mil reais para construir um galpão, para onde o lixo seria levado temporariamente – em muitos lugares da Amazônia é comum cavar buracos no chão, em meio a um descampado da floresta, para depositar os resíduos sólidos e depois queimá-los, prática também corriqueira na Aldeia do Mutum.
Depois de dois meses, as doações ficaram bem longe da meta, chegando a apenas 11 mil reais. Deu para construir o galpão de recicláveis e bancar capacitações em uso e manejo de resíduos sólidos, mas não para comprar um barco – único meio de transporte possível para levar o lixo até o lugarejo mais próximo, a Vila de São Vicente. São duas as principais fontes de geração de lixo no Mutum. A primeira, e mais importante, é o fato de a tribo estar na rota do etnoturismo, desde 2000, quando ocorreu o primeiro Festival Mariri Yawanawá. Russos e americanos predominam entre os turistas estrangeiros no evento, sem falar nos brasileiros.
Os 400 quilômetros de distância entre a capital acreana e a cidade de Tarauacá, de onde o turista viaja mais uma hora de carro até a Vila de São Vicente e outras oito horas de barco até a aldeia, nunca foram um empecilho. Os turistas chegam aos montes e saem deixando lixo e dinheiro, o que aumenta o consumo de produtos industrializados nas aldeias e, consequentemente, a geração de lixo. Outra fonte é o próprio governo, que distribuí merenda escolar enlatada para as crianças indígenas.
“O lixo é uma doença que está atacando a floresta”, diz Itamara Souza da Costa, que está prestes a virar uma Yawanawá. O casamento já está marcado. Se, com o namoro, a noiva já tinha passado a frequentar assiduamente a aldeia, depois que o projeto Aldeia Lixo Zero saiu do papel, a diretora da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis e Reutilizáveis do Acre, a Catar, tem ficado mais tempo na tribo.
Apoiada pela Prefeitura de Rio Branco, desde 2005, a Catar tem, em Rio Branco, um galpão de triagem, com equipamento para processar o material recolhido pelos catadores. “Vamos ajudar com a gestão do lixo na aldeia”, comenta.
Os Yawanawá da Aldeia do Mutum não foram os primeiros indígenas brasileiros a declararem guerra ao lixo. Muitos outros grupos estão tentando enfrentar este inimigo moderno e poderoso na Amazônia. O sucesso do projeto pode ajudar a replicá-lo pelas 36 terras indígenas espalhadas pelo Acre e, quem sabe, por toda a floresta. Durante o 1º Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, que ocorreu em Brasília, entre os dias 5 e 7 de junho, foi lançado uma campanha paralela, e ainda mais ambiciosa: a Amazônia Lixo Zero. Ao contrário da Aldeia Lixo Zero, este projeto, vinculado ao Instituto Lixo Zero, é, por enquanto, apenas uma ideia. Nada mais que isso. Só resta cruzar os dedos e torcer para o lixo nas tribos indígenas não se transforme num inimigo tão poderoso, e difícil de combater, como é hoje o desmatamento na Floresta Amazônia.
muito bom o projeto;
fazemos um trabalho de recolhimento de garrafas petes e latinhas aqui em Teresina-piauí,
como fazermos uma parceria ou formalizar um projeto com esse?
ok, muito bom o projeto;
fazemos um trabalho de recolhimento de garrafas petes e latinhas aqui em Teresina-piauí,
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Muito bom o projeto;
queremos fazer um trabalho como esse aqui no território do xingu
como fazermos uma parceria ou formalizar um projeto com esse?