O protagonismo do Brasil na economia de baixo carbono

Vista aérea dos painéis de energia solar, em Pirapora, Minas Gerais. Foto Carl de Souza

Tema não inclui apenas emissões, economia circular ou desmatamento. É isso e muito mais: empregos, reputação, negócios e diversidade

Por Marina Grossi | ODS 13ODS 8 • Publicada em 14 de janeiro de 2019 - 08:13 • Atualizada em 9 de fevereiro de 2021 - 16:35

Vista aérea dos painéis de energia solar, em Pirapora, Minas Gerais. Foto Carl de Souza

Desde cedo, na escola, aprendemos sobre os nossos rios caudalosos, a biodiversidade única, a Amazônia como pulmão do mundo, os aquíferos subterrâneos e, mais recentemente, como a nossa abundância de sol e vento também podem ser fontes de energia. Não foi à toa que, em 1992, o Brasil sediou a ECO 92, Conferência da ONU que gerou frutos como a Agenda 21 e favoreceu a criação de instituições como o World Business Council for Sustainable Development, e, consequentemente, o seu braço brasileiro, o CEBDS (Conselho Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). Já eram sinais do setor produtivo dialogando com o movimento ambientalista e os governos, em todas as suas instâncias.

Mais de 10 anos se passaram desde que o filme “Uma Verdade Inconveniente” ganhou o Oscar de melhor documentário, ampliando significativamente entre o público em geral não só o conhecimento do tema, mas a percepção mais clara sobre o tamanho do problema que todos nós temos pela frente. Tivemos em 2018 o quarto ano mais quente da história e as pesquisas científicas sobre os perigos da mudança climática se tornam mais convincentes a cada dia. Isso posto, vemos que a inexorável transição para a nova economia de baixo carbono já é realidade para muitas empresas, a despeito de discussões políticas que ainda existam, suscitando dúvidas a respeito deste caminho irreversível.

Usaremos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) como bússola, e os nossos negócios como motores para promover as mudanças necessárias que possam viabilizar a implementação das dez propostas que compõem essa agenda. Podemos fazer a diferença, trabalhando para ampliar os diálogos

Se por um lado chegamos à porta da COP24, a Conferência do Clima, que aconteceu nas duas primeiras semanas de dezembro, em Katowice, na Polônia, lamentando a desistência do Brasil de ser a sede da próxima conferência em 2019, pudemos ali conhecer experiências edificantes das nossas associadas, debater profundamente os artigos do Acordo de Paris e ampliar nossa compreensão sobre a imensa complexidade da sustentabilidade em nossos dias.

Não tratamos mais apenas de emissões de carbono, economia circular ou desmatamento. Falamos disso, e muito mais. Falamos de empregos, reputação, negócios, diversidade. E tudo ao mesmo tempo.  Nossas empresas assumiram um papel de liderança nas transformações pelas quais nossos principais sistemas econômicos estão passando.

Na Polônia, contrastamos as experiências relatadas pelo setor empresarial e pela certeza de que, trabalhando juntos – empresas, governo e sociedade – nossos interesses em comum podem se reunir para uma mudança sistemática, transformadora e poderosa, com a percepção de que há muito para ser feito para atender às metas pré-estabelecidas no Acordo de Paris.

Vimos em 2018 que o Relatório Especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sobre o Aquecimento Global de 1,5 °C, sinaliza que a chamada transição para a economia de baixo carbono precisará ser ampliada exponencialmente, além de acelerada. O relatório é o texto científico mais importante sobre a mudança climática, que orienta a tomada de decisões dos governos no aprimoramento de seus compromissos climáticos nacionais em relação ao Acordo de Paris e é aprovado por 195 governos, inclusive o Brasil.

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos,Al Gore durante uma apresentação na COP 24, na Polônia. Foto Beata Zaurzel/NurPhoto
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos,Al Gore durante uma apresentação na COP 24, na Polônia. Foto Beata Zaurzel/NurPhoto

O relatório destaca como uma ação climática ambiciosa pode trazer muitos benefícios para a economia – mais empregos, aumento do acesso a energia, transporte sustentável e melhorias na saúde, para nomear alguns. A análise do New Climate Economy, por exemplo, mostra que ações climáticas ambiciosas podem gerar US$ 26 trilhões em benefícios econômicos até 2030, criando mais de 65 milhões de postos de trabalho e evitando 700 mil mortes prematuras por poluição do ar.

E é justamente a partir desta perspectiva e reconhecendo este momento, que devemos enxergar o capital natural que tanto nos distingue do resto do mundo, como um fator que pode tornar o Brasil, de fato, um líder global em negócios sustentáveis.

Na COP de 2018, o principal objetivo era finalizar as regras que governarão o Acordo de Paris, a entrar em vigor em 2020. As regras foram feitas, em polêmicas reuniões, mas o novo acordo vem mais forte do que muitos negociadores esperavam. Com nove regras para estabelecer e monitorar planos nacionais de redução de emissões, o novo acordo inclui diretrizes relacionadas a novas metas financeiras para ajudar os países em desenvolvimento a reduzir suas emissões a partir de 2025.

De nossa parte, continuamos a trabalhar para garantir transparência e consistência no uso de mercados sob esses instrumentos e mecanismos que permitam a transferência de reduções de emissões, com a nova economia sendo financiada pela velha economia.

Num ano polêmico como 2018, fugimos de ativismos e de polarizações. Nossa Agenda CEBDS por um País Sustentável, construída ao longo das reuniões de nosso Conselho de Líderes, formado pela alta liderança empresarial do País e levada aos presidenciáveis, será uma ferramenta imprescindível para nos orientar em nossos diálogos com autoridades executivas, legislativas e reguladoras em 2019. Usaremos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) como bússola, e os nossos negócios como motores para promover as mudanças necessárias que possam viabilizar a implementação das dez propostas que compõem essa agenda. Podemos fazer a diferença, trabalhando para ampliar os diálogos.

Há ainda muito por fazer. E o tempo é agora. É hora de, não só arregaçar as mangas, mas fazer de fato acontecer a mudança que queremos e que podemos. Juntos. Amparados em nossas sinergias, e nossas diferenças. Fazendo um novo ano focado na abertura do diálogo, na transparência das ações, e na valorização das riquezas nacionais que a nova economia proporciona.

Marina Grossi

Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.

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