ODS 1
Amazônia tem o maior índice de desmatamento em 12 anos
Dados do Prodes (Inpe) mostram que, no primeiro ano integralmente sob Bolsonaro, desmatamento foi 70% maior do que a média
Saíram nesta segunda-feira (30/11) os aguardados dados preliminares do Inpe sobre o desmatamento na Amazônia: a taxa oficial de 2020, dada pelo sistema Prodes, é de 11.088 km2, a maior desde 2008. A alta é de 9,5% em relação ao período anterior: de agosto de 2018 a julho de 2019 (a medição pelo Prodes é sempre de agosto a julho), o corte da floresta foi de 10.129 km2.
Levando-se em conta a média dos 10 períodos anteriores à posse de Jair Bolsonaro, o desmatamento cresceu 70%: de 2009 a 2018, a média apurada pelo Inpe foi de 6.500 km2 por ano. Este é o primeiro balanço anual do desmatamento na Amazônia Legal apurado integralmente no governo Bolsonaro.
A publicação da taxa oficializa que o Brasil descumpriu a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), a lei nacional que preconizava uma redução da taxa a um máximo de 3.925 km2 em 2020. O país está 180% acima da meta, o que o põe numa posição de desvantagem para cumprir seu compromisso no Acordo de Paris (a NDC) a partir do início do ano que vem. Devido ao aumento do desmatamento, o Brasil deve ser o único grande emissor de gases de efeito estufa a ter aumento em suas emissões no ano em que a economia global parou por conta da pandemia.
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Veja o que já enviamosNada disso é uma surpresa para quem acompanha o desmonte das políticas ambientais no Brasil desde janeiro de 2019. Os números do Prodes simplesmente mostram que o plano de Jair Bolsonaro deu certo. Eles refletem o resultado de um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazônia. É o preço da “passagem da boiada”.
[g1_quote author_name=”Marcio Astrini” author_description=”Secretário-executivo do Observatório do Clima” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Esse projeto de destruição tão bem executado custará caro ao Brasil. Estamos perdendo acordos comerciais, transformando nosso soft power, literalmente, em fumaça e aumentando nosso isolamento internacional num momento em que o mundo entra num realinhamento crítico em relação ao combate à crise do clima
[/g1_quote]Grileiros, garimpeiros, madeireiros ilegais e assassinos de índios – os autores de crimes na ponta – sabem interpretar os sinais que vêm do Palácio do Planalto e, de forma inédita, do Ministério do Meio Ambiente. O desmatamento, embora tenha causas complexas, é antes de tudo movido a expectativas. Quando o Presidente da República diz que vai “tirar o Estado do cangote” dos predadores da floresta, a bandidagem avança em cima do patrimônio dos brasileiros. Quando ele e seus auxiliares vão além do discurso e começam a tomar medidas nesse sentido, o crime festeja.
E haja medidas.
Paralisação da cobrança de multas pelo Ibama, congelamento do Fundo Amazônia sob desculpas falsas, aparelhamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente, mordaça no Ibama e no ICMBio, perseguição e exonerações de agentes ambientais por fazer seu trabalho, atropelo de pareceres técnicos pelo presidente do Ibama para satisfazer bandidos e liberar madeira ilegal, envio de propostas ao Congresso para abrir terras indígenas ao esbulho e legalizar a grilagem, tentativa de legalizar o roubo de terras indígenas não homologadas, omissão criminosa em não gastar o dinheiro que existe para a fiscalização e as políticas ambientais, difamação a quem produz conhecimento técnico e científico e uma tentativa improvisada de militarizar a floresta. Tudo isso foi visto nos últimos 22 meses.
Esse conjunto de fatores determinou também o inédito fracasso em 2020 de uma cara e estabanada operação militar na Amazônia. Mesmo recrutando mais de 3.400 militares, a Operação Verde Brasil 2 falhou em conter tanto o desmatamento quanto as queimadas, que até novembro eram 20% mais numerosas na Amazônia do que o já escandaloso índice de 2019. “Desde sempre, quando o desmatamento sobe, a gente fica se perguntando o que deu errado nas tentativas de controle do crime ambiental. Desta vez, a gente sabe que a alta aconteceu porque deu tudo certo para o governo”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Astrini alerta para as consequências. “Esse projeto de destruição tão bem executado custará caro ao Brasil. Estamos perdendo acordos comerciais, transformando nosso soft power, literalmente, em fumaça e aumentando nosso isolamento internacional num momento em que o mundo entra num realinhamento crítico em relação ao combate à crise do clima”, prossegue o ambientalista. “Este governo funciona como uma máquina de produzir notícias vergonhosas para o país, especialmente na área ambiental. Bolsonaro é o maior sabotador da imagem do Brasil.”
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O Observatório do Clima é uma rede que reúne entidades da sociedade civil para discutir a questão das mudanças climáticas no contexto brasileiro.