ODS 1
Bicicleta elétrica subsidiada na França
Carro ainda é o meio de transporte mais usado no país, mas governo oferece ajuda para incentivar uso de e-bikes
Longe de ser uma Dinamarca ou uma Holanda, paraísos mundiais das duas rodas, a França entendeu que as bicicletas são prioridade. Desde fevereiro, o governo francês passou a oferecer 200 euros para os compradores de bicicleta elétricas ou e-bikes em todo o país. O preço, que no caso de um modelo básico passa de mil euros, é um dos principais freios para a disseminação desse transporte.
A ficha demorou a cair: o país está apenas na 19ª posição entre os bike-friendly da União Europeia (UE). O carro é o favorito mesmo quando a distância entre casa e trabalho é inferior a um quilômetro. O resultado: apenas 2% dos trabalhadores franceses dizem usar a bicicleta na sua rotina diária.
Mobilidade elétrica
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Veja o que já enviamosO francês usa a bicicleta para trabalhar sempre que a distância não ultrapasse quatro quilômetros. Com a ajuda elétrica nos pedais, ela poderia subir para 7,4 quilômetros.
Trata-se de um investimento público com retorno garantido: menos engarrafamentos, poluição mais controlada, dinheiro economizado com estacionamento e gastos menores em saúde publica graças aos inúmeros benefícios que as bikes elétricas podem trazer. A condição para obter o prêmio é que a bateria seja de lítio, mais eficiente e menos poluente.
As bicicletas elétricas familiares tipo cargo, febre nos países escandinavos, não ficam atrás. Elas transportam crianças, substituem caminhonetes nas entregas curtas. E se tornam cada vez mais úteis para as compras cotidianas, desde que o saco plástico deixou de ser gratuito.
Na França, a prática do subsídio já existia para as pessoas que optassem por comprar carros elétricos. A diferença é que é um bicicleta elétrica custa menos de 10% do preço de um carro elétrico. As chances de popularização são muito maiores.
Na Alemanha, apesar do investimento bilionário do governo em pesquisa e desenvolvimento para carros elétricos e inúmeros subsídios, pouco mais de 25 mil veículos rodam nas ruas. Enquanto isso, as e-bikes já chegam 2,5 milhões, segundo dados da Federação Europeia de Ciclistas.
[g1_quote author_description=”Holger Haubold, da Federação Europeia de Ciclistas” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]É necessário também o investimento em infraestrutura, ciclovias separadas e de alta qualidade somente para e-bikes e adaptadas para as altas velocidades delas, estacionamento seguro e a possibilidade de recarga de baterias em locais de trabalho
[/g1_quote]A política de subsidio para bicicletas elétricas é praticada há muitos anos por toda a Europa. Na região metropolitana de Barcelona, na Espanha, os compradores podem somar as ajudas nacionais e locais para compra. Na Áustria, o governo concede um incentivo em âmbito nacional às empresas, enquanto que os compradores podem se beneficiar de outros bônus em suas regiões. Cidades como Milão e Madri oferecem um sistema compartilhado de bicicletas elétricas distribuídas em diversas estações.
Segundo Holger Haubold, do escritório de Política Fiscal e Econômica da Federação Europeia de Ciclistas, o incentivo francês é um primeiro passo, em âmbito nacional, no sentido de difundir a cultura das bicicletas elétricas, mas precisa vir acompanhado de outras iniciativas.
“É necessário também o investimento em infraestrutura, ciclovias separadas e de alta qualidade somente para e-bikes e adaptadas para as altas velocidades delas, estacionamento seguro e a possibilidade de recarga de baterias em locais de trabalho”, lista Haubold.
Brasil sem subsídio
No Brasil, ainda não existem subsídios para e-bikes. Ela continua um apêndice da produção de 2,5 milhões de bicicletas (de todos os tipos) produzidas no país. A legislação considera a bike elétrica aquela em que a assistência elétrica é desencadeada pela pedalada, com potência máxima de 350 watts e velocidade máxima de 25 km/h, com espelhos retrovisores, sem acelerador e que dispensa carteira de habilitação.
Para o diretor-executivo da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), José Eduardo Gonçalves, apesar de os fabricantes terem focado nos últimos anos em modelos de maior qualidade, ainda é pequena a diferença de preço entre uma bicicleta elétrica e uma moto de baixa cilindrada – em torno de R$ 3.000 para a elétrica e de R$ 7.000 para a moto. Muitos consumidores acabam optando pelo duas rodas com mais potência.
“Para quem está somente interessado em mobilidade, essa é uma conta que é feita”, afirma Gonçalves, que faz a ressalva de que existe um publico que prefere a bicicleta elétrica pelos benefícios ao meio ambiente.
O autor do blog ‘A Vida de Bicicleta‘, de Robson Combat, que milita há anos no cicloativismo, vê uma demanda por bicicletas elétricas, a do tipo cargo, no Brasil que ainda não foi explorada. A organização Transporte Ativo, da qual Combat faz parte, defende uma política de subsídios ou empréstimos subsidiados para essa e-bike familiar.
“Vários de nós já cogitamos importar uma dessas bicicleta tipo cargo, mas sairia algo entre R$ 12 mil e R$ 18 mil, o preço de um carro”, lamenta.
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Clarice Spitz é jornalista com passagens por O Globo, Folha de S.Paulo e iG. Tem mestrado em História Contemporânea, pela Universidade de Paris-Est. Mora em Bordeaux, na Franca, onde trabalha como repórter e redatora freelancer