Felicidade se aprende na escola

Sorria

Cursos de psicologia positiva atraem cada vez mais seguidores em todo o mundo

Por Marlene Oliveira | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 12 de abril de 2018 - 10:17 • Atualizada em 14 de abril de 2018 - 13:07

Sorria
Sorria: cursos em diversos países, inclusive no Brasil, ensinam o caminho para a felicidade. Foto: Zhang wenkui - Imaginechina
Sorria: cursos em diversos países, inclusive no Brasil, ensinam o caminho para a felicidade. Foto: Zhang wenkui – Imaginechina

Não é de hoje que a definição e a busca pela felicidade intrigam pensadores, filósofos e sábios do momento. Sócrates, Aristóteles, Platão e Confúcio, entre outros, teorizaram sobre o propósito e o sentido da vida e a definição de felicidade. De lá pra cá, a ciência abraçou a causa, fez várias descobertas e  os resultados demonstram que qualquer um pode ser feliz. Só tem um detalhe: para a grande maioria, tem que aprender, não se nasce sabendo.

Torna-te quem tu és, quer dizer, aceitar a si próprio e não tentar ser quem não somos. A sociedade nos apresenta modelos de sucesso e passamos a vida tentando ser quem não somos

Nos Estados Unidos, a  Universidade de Yale quebrou o recorde de inscritos num só curso: Psychology and the Good life – Psicologia e uma vida boa –  atraiu o interesse de 1,2 mil estudantes, nada menos do que 25% do total dos alunos, tornando-se o curso mais popular na história de mais de três séculos da universidade.  O curso será ministrado por Laurie Santos, americana, psicóloga e cientista cognitiva, formada por Harvard e com origens cabo-verdianas, o que explica o “Santos” em seu nome de família.

O curso é baseado nos conceitos da psicologia positiva, uma linha científica desenvolvida nos anos 90 por psicólogos americanos, que estuda o aumento do nível de felicidade e bem-estar tendo como foco os pontos positivos e qualidades das pessoas. Segundo Mônica Portella, pós-doutora em psicologia e fundadora do Instituto Internacional de Psicologia Positiva, a partir da Segunda Guerra Mundial a psicologia evoluiu muito, mas seu foco  foi a doença, buscando tratar o que não funcionava na vida das pessoas. A psicologia positiva veio completar esta abordagem buscando potencializar as forças e qualidades de cada indivíduo.

Mônica, que criou no Brasil a primeira pós-graduação em psicologia positiva na América Latina, explica que o objetivo é se basear nas forças e não nas fraquezas. “Ao invés de reparar o que vai mal, queremos construir e fortalecer o que vai bem, o que promove a qualidade de vida”. Para ela, o primeiro ingrediente na fórmula da felicidade é o autoconhecimento. “Torna-te quem tu és, quer dizer, aceitar a si próprio e não tentar ser quem não somos. A sociedade nos apresenta modelos de sucesso e passamos a vida tentando ser quem não somos.”

Tanto  nos Estados Unidos, quanto no Brasil ou na França – reconhecida por reunir em seu território um alto grau de mau humor e pessimismo  e, talvez por isso, os cursos estejam fazendo mais sucesso do que baguete quente – as aulas ensinam que a felicidade tem menos a ver com circunstâncias da vida, como receber um bom salário ou ganhar na loteria, e mais com a prática cotidiana de ações que se mostraram cientificamente eficazes. “A sociedade experimentou, nas últimas décadas, uma euforia de consumo. O verbo era “ter” e a dita felicidade podia ser parcelada no cartão de crédito”, afirma Mônica. Segundo ela, a felicidade que se experimenta com o dinheiro, o carro ou o vestido novo é momentânea.  Por outro lado, aumentar as conexões sociais, lembrar-se e agradecer pelos aspectos bons da sua vida, dormir oito horas por noite, meditar e se exercitar pode sim trazer sentido pleno à vida e nos proporcionar um sentimento mais duradouro de bem-estar e felicidade.

Mônica Portella em noite de autógrafos: "Ao invés de reparar o que vai mal, queremos construir e fortalecer o que vai bem, o que promove a qualidade de vida". Foto: Reprodução/Facebook
Mônica Portella, em noite de autógrafos: “Ao invés de reparar o que vai mal, queremos construir e fortalecer o que vai bem, o que promove a qualidade de vida”. Foto: Reprodução/Facebook

No curso, com aulas que incluem neurociência e psicologia cognitiva, os alunos compreendem de que maneira o comportamento influencia o funcionamento cerebral e vice-versa, conhecem as alterações promovidas pela sensação de bem-estar e de que maneira são processadas a partir de ações diárias. “Através de exercícios, podemos criar no cérebro novas conexões ligadas aos nossos hábitos”, acrescenta.  “O curso, no Brasil, não exige nota mínima para passar”, tranquiliza Mônica contribuindo com a quota de felicidade dos alunos. “Não há prova final, mas uma série de exercícios e uma monografia”.

Estudos científicos mostram que apostar na potencialização de seus pontos fortes é primordial para o sucesso profissional e está diretamente relacionado à felicidade e ao bem-estar. Hoje, tenho convicção de que os exercícios e práticas desenvolvidas pela psicologia positiva podem mudar o rumo da nossa história

Para ela, aprender a ser feliz não traz “só” benefícios mentais, como também físicos. “As pesquisas comprovam que, depois de quatro meses de práticas regulares, a pressão arterial e as taxas de colesterol e de glicemia abaixam, enquanto sobem a melatonina e os telômeros, responsáveis pelo rejuvenescimento molecular”.

Com uma carreira executiva na área financeira, Ana Virginia Ramos conta que começou a se questionar sobre o propósito da vida quando chegou aos 50 anos. “Já tinha completado minha agenda: me formar, casar, ter filhos e uma carreira, mas faltava alguma coisa. Estudando psicologia  positiva, descobri a importância de conhecermos nossos pontos fortes e potencializá-los. Estudos científicos mostram que apostar na potencialização de seus pontos fortes é primordial para o sucesso profissional e está diretamente relacionado à felicidade e ao bem-estar. Hoje, tenho convicção de que os exercícios e práticas desenvolvidas pela psicologia positiva podem mudar o rumo da nossa história”.  

O sucesso do curso que, só no Brasil forma 80 alunos por ano, demonstra uma insatisfação e desejo de mudança. “Temos mitos em relação ao que achamos que nos fará felizes, como dinheiro, ou o casamento. Na verdade, o que traz a felicidade é ter amigos que nos apoiem, praticar a gentileza, gratidão, atividades saudáveis e ter senso de comunidade”, completa Ana Virgínia.

Precisamos matricular todos os políticos nos cursos de felicidade para aprender a desenvolver ética e propósito e fazer a diferença

Considerado como um país de gente feliz e otimista, o Brasil está ficando mais triste. Pelo menos é o que revela o ranking mundial da felicidade, divulgado pela ONU. Na edição de 2018, o Brasil caiu seis posições e ocupa o 28ª lugar dentre os 156 países pesquisados. O ranking da felicidade é publicado desde 2012, quando os 35 países que compõem a ONU decidiram, por unanimidade, instituir o dia mundial da felicidade, celebrado em 20 de março, reconhecendo que a busca pela felicidade é um direito humano e um objetivo fundamental da existência humana.

Não há surpresa na posição do Brasil no ranking. Segundo Mônica, nosso contexto atual não ajuda. “Estamos sendo invadidos por uma maré de más notícias e nosso cérebro tem uma tendência à negatividade”. A boa notícia é que cada um pode aprender como aumentar seu nível de felicidade.   “O nível de felicidade pode variar de uma pessoa pra outra: 50% é genético, 10% dependem das circunstâncias e 40% depende da nossa atitude”. Ela considera uma excelente iniciativa incorporar um indicador de felicidade às formas de se medir a prosperidade dos países, dominadas por indicadores econômicos. “Nesse caso, precisamos matricular todos os políticos nos cursos de felicidade para aprender a desenvolver ética e propósito e fazer a diferença”, finaliza.

Passo a passo para a felicidade

  • Praticar gratidão
  • Ter uma vida equilibrada (ocupacional, afetiva, lazer, saúde e espiritual)
  • Ter amigos
  • Evitar comparações sociais
  • Aprender a perdoar

Se você não pode ir à Yale, Yale vem até você.  Um resumo do curso está disponível na internet, na plataforma Coursera

Marlene Oliveira

Jornalista e profissional de comunicação, vive em Paris e conhece bem a ebulição do ambiente corporativo. Acredita que a queda do império romano "é pouco" perto das transformações que a sociedade está vivendo mas, otimista até a raiz dos cabelos, acredita que dias melhores virão. Inxalá!

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2 comentários “Felicidade se aprende na escola

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