UFSC aponta disparada de casos de covid-19 após redução de restrições

Pesquisa alerta para avanço da doença após afrouxamento de medidas e critica governo de Santa Catarina pela liberação de novas atividades

Por Agência de Comunicação da UFSC | ODS 3ODS 4 • Publicada em 11 de abril de 2020 - 18:16 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 22:24

Testes para coronavírus. chegam ao Brasil: pesquisadores da UFSC veem aumento descontrolado de casos no estado e criticam flexibilização de medidas restritivas (Foto: Divulgação/MS)

Um grupo formado por engenheiros e matemáticos da Universidade Federal de Santa Catarina (campi de Florianópolis, Blumenau e Joinville) e da Univille de Joinville, e pelo professor Oscar Bruna-Romero, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, preparou uma análise técnico-científica, encaminhada nesta sexta-feira, 10 de abril ao reitor da UFSC, Ubaldo Cesar Balthazar. O estudo aponta uma significativa expansão recente da Covid-19 no estado de Santa Catarina. “Esses dados só confirmam e reforçam a seriedade e responsabilidade das medidas que estamos adotando.  Fiquem em casa”, reforçou o reitor da UFSC. Os dados foram encaminhados, em seguida, ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).

Os especialistas trabalharam com modelagem matemática e usaram os dados reais da infecção que está acontecendo em Santa Catarina, no Brasil e no resto do mundo. Os dados demonstram que, como provável consequência da retomada parcial das atividades no estado durante as últimas duas semanas, é possível observar, desde a quinta feira dia 1° de abril (ver gráficos abaixo), um aumento muito significativo e imprevisto no número de casos positivos para Coronavírus, que deverá continuar durante os próximos dias e semanas.

O professor Oscar Bruna-Romero, que assina o documento enviado ao reitor, destaca a gravidade do momento. “O número registrado de óbitos por Covid-19 mais do que triplicou no nosso estado durante a última semana (passou de 5 para 18), mostrando que não é fácil evitar um desenlace trágico na evolução de muitos pacientes”, afirma o pesquisador.

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A conclusão dos cientistas é que, em nenhum país até agora foi observada uma taxa de óbito da população geral inferior a 0,7%. “Nem nos países com a melhor tecnologia de diagnóstico e controle de espalhamento da infecção; isto representaria um número mínimo de mais de 1,4 milhão de mortes no país e mais de 50 mil mortes no estado de Santa Catarina”. Portanto, escreve Bruna-Romero, “não existe qualquer justificativa científica para a flexibilização de medidas de isolamento social restrito (quarentena total) mantido até o controle da pandemia”.

Cenários

Os gráficos gerados a partir dos dados oficiais mostram que, até o dia 1° de abril, havia um efetivo “achatamento” da curva dos números de infectados.

No entanto, após essa data, observa-se um aumento cada vez menos controlado dos casos. “Após o relaxamento do isolamento social (coincidindo com a ‘janela de infecção-patologia’ da Covid-19, ou seja o tempo desde que o vírus entra até que os sinais e sintomas aparecem) esse ‘achatamento’ desapareceu e a curva retomou uma tendência exponencial de crescimento, como pode ser observado a seguir”.

‘Verticalidade Exponencial’

A nova curva, concluem os cientistas, “está atingindo as características (verticalidade exponencial) de países com altíssimo crescimento do numero de casos, como são a Itália ou os Estados Unidos (ver a seguir), e mostrando também que, ainda dentro do nosso país, temos no estado algumas das cidades com maior aumento do numero de casos”.

Tendência

A mesma tendência da curva é observada também no cenário nacional. “Acreditamos que possa ser consequência de algum pronunciamento a respeito do relaxamento da quarentena proferido por alguma autoridade nacional entre os dias 24-26 de março (5-7 dias antes do efeito observado, como corresponde com a janela infecção-patologia da Covid-19)”.

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Não parece correto do ponto de vista científico reconhecer, como foi feito pelos representantes do governo estadual, que o cenário à frente pode ser muito ruim, e que os casos no país e no estado estão aumentando de forma significativa e descontrolada, e ainda assim deixar mediante “autorizações condicionadas de funcionamento” a possibilidade de circulação e trabalho em muitos setores da economia de Santa Catarina

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O documento, além de mostrar a gravidade da pandemia, alerta para o afrouxamento das medidas restritivas. Contrastam com esta situação muitas das falas praticadas nesse mesmo período por autoridades do nosso estado e do nosso país que pareceriam indicar que a situação é muito menos grave e se encontra (pelo menos em parte) sob controle, tendo levado assim a um grande grupo de cidadãos a desrespeitar de forma manifesta as recomendações de isolamento social (quarentena) divulgadas por todas as sociedades médicas e científicas do país e do mundo”, atesta.

No estudo enviado o professor Bruna-Romero também critica decisões ainda mais recentes do governo de Santa Catarina que, no dia 6 de abril, autorizou a abertura de clínicas médicas, salões de beleza, escritórios de advogacia e de contabilidade.  Dois dias depois, foi autorizado o funcionamento de oficinas mecânicas, borracharias, varejo de autopeças, venda de acessórios, concessionárias de veículos, venda de máquinas agrícolas, locação de veículos, serviços de despachante, inspeção veicular e lava-rápidos.

Leia todas as reportagens da série #100diasdebalbúrdiafederal

“Não parece correto do ponto de vista científico reconhecer, como foi feito pelos representantes do governo estadual, que o cenário à frente pode ser muito ruim, e que os casos no país e no estado estão aumentando de forma significativa e descontrolada, e ainda assim deixar mediante “autorizações condicionadas de funcionamento” a possibilidade de circulação e trabalho em muitos setores da economia de Santa Catarina”, estabelece o pesquisador no documento.

As conclusões do documento apontam que “a situação está longe de ser controlada”. O grupo reforça que “não existe qualquer justificativa científica para a flexibilização de medidas de isolamento social estrito (quarentena total) mantido até o controle da pandemia”.

“De posse destes dados, somente podemos concluir que está acontecendo uma aceleração descontrolada da curva epidêmica, e que a flexibilização da quarentena, sem a possibilidade de identificação dos infectados pela falta de testes diagnósticos, levará de forma irremediável à subsequente infecção de milhares de pessoas, e à convergência quase imediata com as terríveis taxas de contágio e morte associadas que estão sendo observadas em outros países do mundo”.

A indicação do professor Bruna-Romero é que haja “teste exaustivo de todos os possíveis indivíduos infectados e seus contatos próximos, somente permitindo uma liberação gradual e controlada de indivíduos curados ou que não representem riscos, após ter alcançado essa massiva capacidade diagnóstica”.

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A série #100diasdebalbúrdiafederal terminou, mas o #Colabora vai continuar publicando reportagens para deixar sempre bem claro que pesquisa não é balbúrdia.

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Agência de Comunicação da UFSC

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