Lugar de ladrão é na escola

Como algumas aulas de química, física e psicologia poderiam melhorar o nível da criminalidade nacional

Por Leo Aversa | ODS 4 • Publicada em 21 de fevereiro de 2018 - 17:30 • Atualizada em 22 de fevereiro de 2018 - 13:43

O disfarce criativo dos Irmãos Metralha. Imagem Disney XD
Os Irmãos Metralha. os mais famosos ladrões do mundo. Imagem Disney XD
Os Irmãos Metralha. os mais famosos ladrões do mundo. Imagem Disney XD

O Bloco percorria a praça XV quando Anitta viu do alto do caminhão de som um assaltante levando o celular de uma foliã. Imediatamente avisou a polícia pelo microfone.

– Foi aquele ali de cabelo vermelho!

O meliante foi pego em dez segundos.

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Infelizmente para ele – e felizmente para todo o resto do bloco – o bandido não teve os dois neurônios necessários para perceber que cabelo vermelho não é um bom disfarce no seu ofício. Talvez ele compreenda isso na cadeia – tempo não lhe faltará – ou, mais provável, chegue à conclusão de que a culpa foi do vermelho e na sua próxima tentativa ele pinte o cabelo de verde-limão ou rosa-choque.

De todos os crimes, a burrice é o que apresenta o maior índice de reincidência.

A verdade é que falta uma escola formal para indivíduos como o bandido de cabelo vermelho. Como é a segunda profissão mais antiga do mundo, ainda funciona no esquema medieval: ou se aprende por experiência própria, o que gera a situação descrita no primeiro parágrafo, ou no esquema de aprendiz-mestre. O problema é que atualmente tem muito aprendiz para pouco mestre nessa carreira. Não só a quantidade de principiantes é enorme, e cada vez aumenta mais, como os mestres são poucos e não costumam durar muito. Os que conseguem vida longa normalmente usam colarinhos brancos e trabalham em Brasília, mas eles não costumam compartilhar sua sabedoria e know how com o resto da população. Seus conhecimentos são vendidos a preços proibitivos, o que não deixa de ser sarcástico, ou transmitidos por hereditariedade.

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Uma modernização nessa área seria bem vinda. É um setor que vive na informalidade há séculos, situação que um governo moderno e reformista como o do Temer não deveria permitir

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Uma modernização nessa área seria bem vinda. É um setor que vive na informalidade há séculos, situação que um governo moderno e reformista como o do Temer não deveria permitir. Um sujeito que sonha em ser batedor de carteiras e celulares poderia aprender na escola os disfarces mais eficientes, os últimos lançamentos na área de telefonia e a cotação mais atual da propina policial. Um candidato a traficante teria acesso a uma grade de cursos que incluiriam logística de transporte, suborno a autoridades, sistemas bancários internacionais e, é obvio, química. O aspirante a ladrão de bancos poderia aprender sobre física – para arrombar cofres – matemática – para contar notas – e psicologia – para saber se o caixa está chamando a policia ou não. A escola do crime – talvez um outro nome seja necessário, esse já foi muito explorado – formaria futuros CEOs para várias organizações criminosas ou até mesmo não criminosas. Afinal, as habilidades ensinadas atualmente tem um sem número de aplicações fora do mercado de roubos e ilegalidades.

Com o diploma da escola na mão o gatuno pode exercer o seu ofício com o devido respeito e dignidade, sem preocupações rasteiras como virar motivo de chacota de um bloco inteiro em pleno centro do Rio.

Leo Aversa

Leo Aversa fotografa profissionalmente desde 1988, tendo ganho alguns prêmios e perdido vários outros. É formado em jornalismo pela ECO/UFRJ mas não faz ideia de onde guardou o diploma. Sua especialidade em fotografia é o retrato, onde pode exercer seu particular talento como domador de leões e encantador de serpentes, mas também gosta de fotografar viagens, especialmente lugares exóticos e perigosos como Somália, Coreia do Norte e Beto Carrero World. É tricolor, hipocondríaco e pai do Martín.

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