Vacina contra coronavírus pode chegar em tempo recorde

Equipe de limpeza se prepara para entrar em um lar de idosos, em Washington, onde foi registrado um número elevado de pessoas contaminadas pelo coronavírus. Foto John Moore/Getty Images/AFP

Professor da USP explica que já estão sendo testadas diferentes técnicas para desenvolver imunização. Fórmula chegaria em 18 meses

Por Jornal da USP | ODS 3 • Publicada em 12 de março de 2020 - 11:46 • Atualizada em 7 de março de 2021 - 14:35

Equipe de limpeza se prepara para entrar em um lar de idosos, em Washington, onde foi registrado um número elevado de pessoas contaminadas pelo coronavírus. Foto John Moore/Getty Images/AFP

Recentemente, pesquisadores da USP conseguiram sequenciar, isolar e cultivar o coronavírus covid-19 em laboratório. Agora, agências de regulação, governos, pesquisadores e indústria farmacêutica estão trabalhando juntos para criar uma vacina em tempo recorde, com base em DNA, mRNA e em proteína recombinante do vírus, a fim de expandir a prevenção contra a doença.

Jornal da USP no Ar (link abaixo) conversou sobre o assunto com o professor Helder Nakaya, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, que também é integrante da Comissão de Ensino da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI). Ele conta que as vacinas estão no começo da fase de testes em humanos, para averiguar questões de segurança e também a capacidade da vacina de gerar anticorpos.

A estimativa é que dentro de um ano e meio a vacina possa ser disponibilizada no mercado, o que seria muito rápido na avaliação do professor, uma vez que o desenvolvimento dessas pesquisas é complexo.  Ele explica que várias empresas internacionais estão empregando diferentes tecnologias para desenvolver uma forma de imunização contra o covid-19, inclusive se valendo do mRNA: “A vacina tenta preparar o sistema imunológico a responder a uma possível infecção. Então podemos usar vírus atenuados no seu desenvolvimento, mas também existe a possibilidade de usarmos pedacinhos de vírus em uma proteína recombinante que induz a uma resposta imunológica”.

“Já há empresas e instituições muito perto de concluir a primeira etapa da produção de uma vacina que é demonstrar a segurança e o potencial imunogênico da vacina, através de testes de laboratório”, Professor Helder Nakaya, da USP.

No Brasil, pesquisadores da USP já estão estudando formas de desenvolver as vacinas à base de mRNA, contando com a orientação de especialistas internacionais. Nakaya ressalta que “é difícil avaliar se depois que a vacina chegar ao mercado ainda haverá uma epidemia e se a vacina vai funcionar”, mas ele acredita que o desenvolvimento será em tempo recorde, dada a mobilização mundial em relação ao tema.

Passageiros vindo da Itália desembarcam no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, usando máscaras. Foto Nelson ALMEIDA / AFP)
Passageiros vindo da Itália desembarcam no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, usando máscaras. Foto Nelson ALMEIDA / AFP)

O professor explica que já existem laboratórios oficiais, empresas e instituições de pesquisas trabalhando para desenvolver vacinas nos Estados Unidos, na China e na Europa. “Já há empresas e instituições muito perto de concluir a primeira etapa da produção de uma vacina que é demonstrar a segurança e o potencial imunogênico da vacina, através de testes de laboratório. Esta etapa inicial está sendo concluída após quatro a seis semanas de trabalho o que já é um recorde”, explica o imunologista.

A fase seguinte – mais demorada – é o teste em grupos de seres humanos e tem por objetivo principal demonstrar a segurança da vacina. “Pela rapidez com que as pesquisas estão avançando, esses testes poderiam ser realizados em três ou quatro meses, uma fase que durou, pelo menos, o dobro do tempo no desenvolvimento de outras vacinas”, explicou Hélio Nakaya ao Jornal da USP no Ar, podcast da publicação.

As próximas fases, já em grupos maiores, são para estabelecer a imunogenicidade da vacina, ou seja, sua capacidade de provocar uma resposta imune, como o desenvolvimento de anticorpos anti-medicamentos biológicos pelo sistema imune do paciente e, depois, a última fase, antes da obtenção do registro, para demonstrar a eficácia da vacina. “Como há muita gente trabalhando, com diferentes técnicas, estamos prevendo que a vacina possa ser produzida daqui a um ano e meio a dois anos, o que seria realmente um recorde”, afirma Nakaya.

O professor alerta, entretanto, que o desenvolvimento da vacina, embora muito rápido, talvez não seja útil para conter a atual pandemia. “Quando a vacina para o Ébola finalmente ficou pronta, após todas essas fases, o surto já havia passado”, recorda. Hélio Nakaya concorda que ainda é cedo para afirmar quando será o pico da epidemia de coronavírus que está se espalhando pelo mundo. “Devemos considerar que grande parte da população será infectada e que os governos estão trabalhando para tentar evitar uma sobrecarga nos sistemas de saúde”, alerta o imunologista.

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