Operação para proteger indígenas derruba diretor do Ibama

Operação conjunta do Ibama e da Polícia Federal em 2019: operação para proteger indígenas semana passada custou cargo de diretor (Foto: Polícia Federal)

Ação contra garimpo ilegal e desmatamento no Pará teve como objetivo afastar invasores e evitar chegada do coronavírus a aldeias

Por Liana Melo | ODS 15ODS 16 • Publicada em 15 de abril de 2020 - 09:51 • Atualizada em 15 de abril de 2020 - 10:13

Operação conjunta do Ibama e da Polícia Federal em 2019: operação para proteger indígenas semana passada custou cargo de diretor (Foto: Polícia Federal)

Desencadeada para reprimir garimpos ilegais, desmatamentos, caça ilegal de animais silvestres e, ao afastar os invasores, impedir a chegada da Covid-19 às aldeias indígenas, a megaoperação na região da Terra do Meio, entre os municípios de São Félix do Xingu e Altamira, levou à exoneração do diretor de Proteção Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Olivaldi Borges Azevedo. A demissão ocorreu na segunda 13, um dia depois do Fantástico, da TV Globo, noticiar a investida nas terras indígenas Apyterewa, Araweté e Trincheira-Bacajá. O Ibama cumpriu recomendação do Ministério Público Federal (MPF) do Pará.

Nomeado há um ano e três meses pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o major Olivaldi, da PM de São Paulo, não lembra em nada um ambientalista xiita ou algo parecido. Longe disso.  É que, ao queimar maquinário apreendido na megaoperação, os fiscais do Ibama teriam contrariado o presidente. Em encontro com garimpeiros em novembro último, Bolsonaro prometera tomar providências contra queima de maquinário em fiscalização ambiental. Procurado, o Ibama não quis comentar a exoneração do funcionário. Na quarta-feira, 15, o ministro Ricardo Salles nomeou outro PM de São Paulo para o cargo de Olivaldi: o coronel Olímpio Magalhães.

O desejo de Bolsonaro sempre foi, como ele mesmo já admitiu, confinar na Amazônia defensores do meio ambiente para que “deixem de atrapalhar”. Não foi o caso de Olivaldi. O major cumpriu à risca o que vinha descrito no documento do MPF do Pará: “apontar a necessidade de que sejam descaracterizados, destruídos ou inutilizados quaisquer máquinas e instrumentos que estejam sendo utilizados para a prática de crimes ambientais dentro das áreas protegidas”. 

A megaoperação vinha sendo arquitetada desde março último, quando o MPF encaminhou ao Ibama “recomendação para imediata elaboração de cronograma de atuação voltado ao desbaratamento dos crimes ambientais ocorridos em áreas protegidas”.

Cerca de 1.700 índios vivem nas três terras indígenas alvos da megaoperação do Ibama. Na TI Trincheira-Bacajá, o desmatamento ilegal é uma constante, assim como o avanço da pecuária, roubo de madeira, garimpo e grilagem de terra. No final do ano passado, a Polícia Federal (PF) fechou um garimpo ilegal de 1 milhão de metros quadrados (m2) na TI Apyterewa. Batizada de operação “Azougue”, foram apreendidos no local maquinários e documentos, mas, à época, ninguém foi preso.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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