Alertas de desmatamento para março batem recorde

Depois de dois meses de redução, dados do sistema Deter, do Inpe, mostram que país perdeu 36 mil hectares de florestas

Por Oscar Valporto | ODS 15 • Publicada em 9 de abril de 2021 - 15:11 • Atualizada em 15 de abril de 2021 - 20:22

Apreensão de madeira nativa, feita pela Polícia Federal, na divisa do Pará com o Amazonas: desmatamento registra recorde em março (Foto: Divulgação/Exército)

Os alertas de desmatamento na Amazônia em março foram os maiores já registrados para o mês desde o começo da série histórica, segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foram 367 quilômetros quadrados no mês passado (36,7 mil hectares), de acordo com o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).

Em nota, o Greenpeace Brasil alertou que este aumento de 12,5% na medições – em relação a março de 2020 – ocorreu mesmo com uma cobertura de nuvens superior, que pode ter dificultado a leitura dos radares do Deter. “Voltamos à era dos grandes desmatamentos e em meio a medidas que promovem o desmatamento na Amazônia e premiam os criminosos, o Deter de março é mais um motivo para que o governo Biden não assine um “cheque em branco” com o governo de Bolsonaro”, afirmou Cristiane Mazzetti, Gestora Ambiental do Greenpeace.

O Greenpeace apontou que o governo Bolsonaro é responsável por um “aumento histórico do desmatamento com taxas anuais não observadas desde 2008, com 9% de aumento em 2020 comparado ao ano de 2019″. A organização ainda lembra a paralisação do Fundo Amazônia e corte de recursos para a proteção do meio ambiente, como verificado no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2021. “Não será um rascunho desconexo de plano (Plano Operativo 2020-2023) para o controle do desmatamento, ou um acordo a portas fechadas com os Estados Unidos que reverterá toda a avalanche de destruição na Amazônia”, criticou o comunicado da entidade.

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A entidade aponta ainda que grandes polígonos de desmatamento têm sido cada vez mais observados nas imagens de satélite, com áreas de até 5 mil hectares. “O que já é ruim pode piorar, com Ricardo Salles trabalhando contra o meio ambiente e o Congresso Nacional trabalhando para legalizar grilagem, flexibilizar o licenciamento ambiental e abrir terras indígenas para mineração, o desmatamento tende a continuar em alta”, enfatizou a dirigente do Greenpeace Brasil.

Na série histórica do Deter, que considera os dados das temporadas desde 2015, o mês de março com maior devastação verificada pelos satélites foi no período 2017/2018 – 356 quilômetros quadrados. Em março de 2020, foram 326,9 km².

O crescimento de março se deu após duas quedas sucessivas, em janeiro e fevereiro. No primeiro mês de 2021, inclusive, houve uma redução de 70% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e foram compilados pelo Ministério da Defesa. Foram 86 km² de alertas, contra 284 km² em 2020. Em 2018 e 2019, foram 183 km² e 136 km², respectivamente.

Apreensão de madeira feita pelo Polícia Federal no Pará: ministro do Meio Ambiente apoia madeireiros contra operação policial (Foto: Ascom/Polícia Federal)
Apreensão de madeira feita pelo Polícia Federal no Pará: ministro do Meio Ambiente apoia madeireiros contra operação policial (Foto: Ascom/Polícia Federal)

Ministro preocupado em liberar madeira apreendida

O registro de recorde de desmatamento em março, após dois meses de redução, coincide com a movimentação do ministro do meio Ambiente, Ricardo Salles, para liberar a madeira apreendida na operação com maior resultado realizada em dezembro pela Polícia Federal. Agentes federais aprenderam, no Pará, mais de 200 mil metros cúbicos, relativos a cerca de 65 mil árvores derrubadas.

A investigação começou após a Polícia Federal aprender uma balsa, em Parintins, no Amazonas, com três mil metros cúbicos de madeira. Parte da carga não estava declarada na guia florestal – documento obrigatório que comprova a origem legal das toras. Em seguida, os agentes federais realizaram sobrevoos e, com uso ainda de imagens de satélites, e encontraram mais dezenas de milhares de toras em áreas desmatadas do Pará: tudo foi apreendido.

Alguns madeireiros apresentaram autorizações de exploração florestal emitidas pela Secretaria de Meio Ambiente do Pará, mas não apareceu nenhum suposto dono para a maioria da carga apreendida. De acordo com a Polícia Federal, as investigações apontam para graves indícios de crimes ambientais.

Na semana passada, Salles foi ao local da operação da PF, na região do rio Arapiuns, e apontou irregularidades na operação policial. Responsável pela operação, o superintendente da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva, disse, em entrevista à Folha de S.Paulo, que era a primeira vez que via um ministro do Meio Ambiente se manifestar de maneira contrária a uma ação para proteger a floresta. “É o mesmo que um ministro do Trabalho se manifestar contrariamente a uma operação contra o trabalho escravo”, disse Saraiva.

Para o policial, as empresas responsáveis pela madeira nem deveriam ser chamadas de empresas. “São uma organização criminosa”, disse o delegado Saraiva, que ainda alfinetou Salles. “A Polícia Federal não vai passar boiada”.

Nesta quarta (7/4), Salles voltou ao Pará, teve reunião com madeireiros e disse a carga era legal. Salles disse que ouviu dos empresários que a madeira tinha sido derrubada dentro da lei e pediu pressa na análise da Polícia Federal. “E a preocupação que nós temos também diz respeito à velocidade com que essa resposta tem que ser dada. Algumas madeiras já estão apodrecendo, com brocas, com fungos”, afirmou o ministro, mostrando apoio aos empresários para a liberação da carga.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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