ODS 1
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Conheça as reportagens do Projeto Colabora guiadas pelo ODS 1.
Veja mais de ODS 1O ano de 2020 registrou um recorde no desmatamento na Amazônia, de acordo com dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, divulgados nesta segunda-feira (18/01). Entre janeiro e dezembro, a floresta perdeu 8.058 km² de área verde. É a maior área desmatada dos últimos dez anos. Houve um aumento de 30% em comparação com 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, quando foram derrubados 6.200 km². O SAD, desenvolvido pelo Imazon, é uma ferramenta que utiliza imagens de satélite para monitorar a floresta.
O Pará aparece em primeiro lugar no triste ranking estadual da devastação da Floresta Amazônica, com 42% de todo o desmatamento registrado pelo SAD em doze meses. Em seguida, vem Amazonas (17,2%), Mato Grosso (13,4%), Rondônia (12,9%), Acre (8.5%), Maranhão (2,9%), Roraima (2,5%) e, por último, Amapá (0,3%) e Tocantins (0,3%).
Seis dos dez municípios que mais foram alvos do desmatamento entre janeiro e dezembro de 2020 também estão localizados no Pará, com Altamira (575 km²) e São Félix do Xingu (447 km²) no topo da lista. As outras quatro cidades paraenses entre as recordistas de derrubada ada floresta são Itaituba, Novo Progresso, Portel e Pacajá. A lista dos municípios com maior desmatamento também inclui Porto Velho, capital de Rondônia, e Labrea, no sudoeste do Amazonas.
De acordo com os dados dos satélites do SAD, a Unidade de Conservação Florex Rio Preto-Jacundá, em Rondônia, foi a UC mais desmatada no ano passado, com 321 km² de área verde derrubada. A terra indígena Apyterewa, no Pará, foi a TI com mais alertas de desmatamento detectados pelo sistema de monitoramento, com 82 km² de área total desmatada.
Dezembro de devastação
O Imazon também divulgou o boletim do SAD de dezembro quando os satélites registraram 276 km² de devastação, também um recorde de dez anos. Os 276 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal significam um aumento de 10% em relação a dezembro de 2019, quando o desmatamento somou 251 quilômetros quadrados. Pelo boletim de dezembro de 2020, o ranking estadual de desmatamento é novamente encabeçado pelo Pará (com 46% do total de área de floresta derrubada), seguido por Mato Grosso (19%), Rondônia (16%), Amazonas (8%), Roraima (6%), Maranhão (3%) e Acre (2%).
De acordo com o Imazon, as florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 399 quilômetros quadrados em dezembro de 2020, o que representa um aumento de 5% em relação a dezembro de 2019, quando a degradação detectada foi de 380 quilômetros quadrados. Em dezembro de 2020 a degradação foi detectada no Mato Grosso (75%), Pará (13%), Tocantins (7%), Maranhão (3%), Amazonas (1%) e Rondônia (1%).
O SAD utiliza atualmente os satélites Landsat 7 (sensor ETM+), Landsat 8 (OLI), Sentinel 1A e 1B e Sentinel 2A e 2b (MSI) para monitorar o desmatamento da floresta nos nove estados da Amazônia Legal. Com a combinação das imagens desses satélites, é possível voltar a enxergar a mesma área a cada cinco a oito dias e, assim, acompanhar mensalmente o ritmo do desmatamento e da degradação florestal na região. O desmatamento consiste na conversão total da floresta para outra cobertura e uso do solo, enquanto a degradação é um distúrbio parcial na floresta causado pela extração de madeira e/ou por queimadas florestais.
Em dezembro de 2020, de acordo com os dados do SAD, a maioria (56%) do desmatamento ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse. O restante do desmatamento foi registrado em Assentamentos (29%), Unidades de Conservação (11%) e Terras Indígenas (4%). No mês, as áreas de conservação mais atingidas foram a APA (Área de Preservação Ambiental) Triunfo do Xingu, no Pará, e a UC Florex Rio Preto-Jacundá, em Rondônia.
Preservação sob pressão e ameaça
Em dezembro, o Imazon apresentou seu primeiro relatório trimestral (agosto/outubro) de Ameaças e Pressões em Áreas Protegidas (AP) da Amazônia Legal com base em dados de alertas de desmatamento do SAD. Áreas Protegidas representam 46% da extensão da Amazônia, e são estratégicas para a manutenção da biodiversidade, os estoques de carbono e a regulação do clima. O SAD de agosto a outubro de 2020 detectou um total de 3.607km² de desmatamento na Amazônia. Das 6.008 células (áreas de 10 km por 10 km, 100 quilômetros quadrados, que tiveram ocorrência de desmatamento, 3.227 (54%) indicam Ameaça e 2.781 (46%) Pressão em APs. O número de células com ocorrência de desmatamento de agosto a outubro de 2020 é 36% superior ao registrado de agosto a outubro de 2019.
Na metodologia do Imazon, pressão é quando o desmatamento ocorre dentro da AP, levando a perdas de serviços ambientais e até mesmo à
redução ou redefinição dos seus limites – é um processo interno que pode levar a desestabilização legal e ambiental da Área Protegida. Ameaça é a medida do risco iminente de ocorrer desmatamento no interior de uma AP: o instituto utiliza uma distância de 10 km para indicar a zona de vizinhança de uma AP na qual a ocorrência de desmatamento indica ameaça. Muitas APs resistem a esse tipo de ameaça não permitindo que o desmatamento avance em seu território.
De acordo com o relatório trimestral, A APA do Tapajós e a APA Triunfo do Xingu, ambas no Pará, foram as áreas protegidas mais pressionadas. O Pará é o estado que tem o maior número de APs no Ranking de Pressão: são cinco entre as 10 primeiras. As Terras Indígenas Apiyterewa, no Pará, Yanomâmi (AM/RR) e Vale do Javari (AM) também estão entre as 10 APs mais pressionadas.
As APs mais ameaçadas foram a Resex Chico Mendes (AC) e a APA do Tapajós (PA). No Ranking da Ameaça, também estão as Terras Indígenas Parakanã e Trincheira Bacajá, ambas no Pará. As Unidades de Conservação Federais que lideram o Ranking de Pressão são a APA do Tapajós (PA) e a Resex Chico Mendes (AC). As unidades estaduais mais pressionadas são a APA Triunfo do Xingu (PA) e a Florex Rio Preto-Jacundá (RO). No Ranking da Ameaça, as unidades federais no topo também são a Resex Chico Mendes (AC) e a APA do Tapajós (PA), em posição invertida em relação ao ranking das mais pressionadas. As unidades estaduais mais ameaçadas são a Floresta Estadual (FES) do Amapá e Área de Preservação Ambiental do Lago de Tucuruí, no Pará.
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Está de volta ao Rio após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. É criador da página no Facebook #RioéRua, onde publica crônicas sobre suas andanças pela cidade.